Estado Islâmico se reorganiza para sobreviver
AL-FURQAN MEDIA/AFP/Arquivos / -Chefe do grupo Estado Islâmico Abu Bakr al Bagdadi em imagem de um vídeo de 5 de julho de 2014 em Mossul, norte do Iraque
O grupo Estado Islâmico (EI) se encontra em plena reorganização para tentar sobreviver às derrotas na Síria e no Iraque, onde há quatro anos proclamou um califado depois de ter-se apoderado de territórios extensos.
O grupo foi expulso de quase todas essas áreas e deve encontrar "uma nova forma de atuar, sobretudo para recrutar depois de suas enormes baixas", afirma à AFP um responsável dos serviços de segurança iraquianos que pediu anonimato.
A prioridade para o EI, que sonhava em se tornar "Estado", é uma reorganização administrativa.
As 35 "wilaya" (províncias, em árabe) que formavam o "califado" acabaram. Após a perda de suas duas "capitais", Raqa, na Síria, e Mossul, no Iraque, o EI somente menciona em seus órgãos de propaganda seis "wilaya".
Para designá-las volta a usar as definições territoriais conhecidas: Iraque, Síria, leste da Ásia, Tadjiquistão, Sinai egípcio e Somália.
As "wilaya" de Mossul, Raqa ou Kirkuk desapareceram completamente do discurso do grupo de Abu Bakr al Bagdadi, ficando reduzidas a "cantões" ("mantaqa").
Em 2014, antes do aparecimento público do "califa" e da proclamação do "Estado Islâmico", o EI presumia ter acabado com o traçado fronteiriço "imperialista" aplicado por britânicos e franceses sobre antigos territórios do Império Otomano ao fim da Primeira Guerra Mundial.
Em 2014, a propaganda jihadista difundiu imagens de escavadoras, tentando apagar a fronteira entre Síria e Iraque.
Isso também acabou. Agora as forças iraquianas se deslocaram na frontera por onde os extremistas circulavam.
Do lado sírio, as tropas de Damasco e das curdo-árabes respaldadas pela coalizão internacional anti-EI também recuperaram zonas fronteiriças.
- "Comando reorganizado" -
Não se sabe o número de efetivos do EI, mas é indubitável que "está debilitado e reorganizou o comando", explica à AFP o responsável iraquiano.
"Isso demonstra a perda de confiança da direção do EI em relação a seus comandantes de wilaya no Iraque, a quem reduziu as prerrogativas", acrescentou a fonte.
Com certa frequência as autoridades iraquianas anunciam a captura ou a morte de responsáveis do EI ou de pessoas do entorno de Bagdadi, como seu filho, morto em julho na Síria ao ser atingido por mísseis teleguiados russos. O próprio Bagdadi foi dado por morto várias vezes e os Estados Unidos oferecem 25 milhões de dólares por sua captura.
Este mês, em sua última gravação sonora, a quarta desde que se proclamou "comendador dos fiéis", Al Bagdadi multiplica as palavras de "consolo e pêsames", ressalta Hicham al Hashemi, especialista grupos islamitas radicais.
Neste sermão pela Eid al Adha, festa muçulmana do sacrifício, as convocações para resistir e para continuar a "jihad" ocultam um ar de derrota, disse.
Pela primeira vez, o próprio Bagdadi pede a seus apoiadores no Ocidente que realizem ataques em seus países. "Valem por mil aqui", afirmou.
"Depois de ter perdido o controle no Iraque e na Síria, a direção EI se concentra agora em uma visão mundial" como fez a Al-Qaeda, afirma a fonte iraquiana. Quer semear o terror no mundo.
Na gravação de 55 minutos, Bagdadi retoma um discurso próprio da Al-Qaeda. Ataca os Estados Unidos, menciona o Irã xiita, faz uma convocação aos sunitas do Iraque e denúncia as unidades paramilitares iraquianas Hashd al Shaabi, nas quais predominam os xiitas, enumera Hachémi.
"Os três discursos anteriores de Bagdadi estão inseridos em uma 'comunicação de crise' e o último discurso entra dentro da mesma categoria", disse à AFP Tore Hamming, especialista em jihadismo do European University Institute.
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