Assembleia Geral da ONU ainda é fórum mais "adequado", diz presidente do órgão. Maduro se despede da ONU declarando 'vitória total'

Assembleia Geral da ONU ainda é fórum mais "adequado", diz presidente do órgão

AFP / Bryan R. Smith María Fernanda Espinosa Garcés, presidente da 73ª Assembleia Geral da ONU, em 25 de setembro de 2018 na sede da organização em Nova York
Os discursos dos 193 países-membros das Nações Unidas acontecem todo dia durante 12 horas em um auditório às vezes quase vazio, e há centenas de eventos paralelos que podem dispersar a atenção.
Para a equatoriana María Fernanda Espinosa - nova presidente da Assembleia Geral da ONU e a quarta mulher nos 73 anos de história da organização a assumir este cargo -, o grande encontro anual do multilateralismo, que acontece sempre em setembro em Nova York, continua sendo "o fórum adequado" para enfrentar as maiores crise do planeta.
A ONU "é o único lugar no mundo onde os chefes de Estado e de Governo podem vir a dizer o que pensam, ter contatos bilaterais com países muito próximos", destaca em uma entrevista à AFP esta equatoriana de 54 anos, poeta, doutora em filosofia e várias vezes ministra.
"A Europa pode, assim, falar com as ilhas Pacífico, as ilhas Pacífico com a América Latina, o Caribe com a África e a Ásia", exemplifica.
De 9H às 21H, durante uma semana, os discursos se sucedem. Poucos prestam atenção, exceto quando acontecem coisas insólitas ou alguma novidade, como a primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, que confiou seu bebê de três meses a seu marido durante seu discurso na tribuna.
Houve também as gargalhadas quando Donald Trump disse que seu governo era o melhor da história dos Estados Unidos. Depois disso, ele insistiu em explicar que o público riu com ele, e não dele.
"Não sei, realmente", afirma Espinosa. "Sua reação foi muito inteligente, dizendo que não esperava essa reação e rindo também. Ele acompanhou a reação do público", disse.
Para os discursos, as regras são claras: 15 minutos no máximo e evitar falar muito rápido para não complicar o trabalho dos tradutores. Mas quase não são respeitadas, nem pelo venezuelano Nicolás Maduro, que falou por 49 minutos, nem pelo chefe da diplomacia chinesa Wang Yi, que falou a uma velocidade vertiginosa.
"Os dirigentes têm estilos diferentes, eles ou elas comunicam de maneira diferente", disse a chefe da Assembleia.
"O discurso da presidente da Lituânia, uma mulher (Dalia Grybauskait), durou cinco minutos. Foi um discurso completo, poderoso. No ano passado, falou por quatro minutos. Isso quer dizer que a longa duração não tem nada que ver com a qualidade. Há um pouco de tudo, e tudo isso faz parte da diversidade na ONU", disse Espinosa.
- "Capital do poder" -
AFP / Nicholas Kamm Presidente dos EUA Donald Trump durante uma coletiva de imprensa às margens da Assembleia Geral da ONU em Nova York, no dia 26 de setembro de 2018
Com 450 eventos organizados à margem da Assembleia, o famoso hemiciclo esvaziou desde o discurso de Trump, suscitando dúvidas sobre este exercício custoso que é acompanhado por um impressionante reforço de segurança.
"Enviei no primeiro dia uma carta aos Estados-membros para pedir que estejam presentes na sala. Teve algum efeito, a sala não está completamente cheia, mas há muitas delegações que ouvem", indica.
Como as equipes resumem "as mensagens mais importantes, os líderes do mundo sabem o que se diz embora não estejam presentes fisicamente na sala".
"É verdade que há uma dispersão por causa de eventos paralelos", como este ano são "o da proibição de armas nucleares ou o da tuberculose, com centenas de ministros de Saúde" presentes em Nova York.
Mas "é simbolicamente muito importante", insiste Espinosa. "Muitos analistas dizem que o multilateralismo já não é eficaz, os líderes questionam sua validade. Ao mesmo tempo, Nova York foi esta semana a capital do poder do mundo".
Em 2017, assistiram à assembleia 115 chefes de Estado e de governo, "este ano temos mais de 130", explica.
"Isso quer dizer que 'o poder do mundo' acredita que a ONU continua sendo o fórum adequado para ter diálogos de alto nível e para tomar decisões sobre os problemas mundiais", ressaltou.
"Há muito por fazer" para as mulheres, muito pouco representadas entre os dirigentes, estima a presidenta da Assembleia. Durante seu mandato de um ano, Espinosa pretende "voltar a colocar a questão do direito das mulheres no centro da agenda da ONU".
"Vou organizar em março uma reunião exclusivamente com líderes mulheres, cerca de vinte de dirigentes políticas e chefes de empresas, para ter a voz das mulheres no poder sobre os direitos das mulheres", precisa, depois de lamentar "uma regressão bastante significativa nesses últimos dez anos" em relação a esta causa.

Maduro se despede da ONU declarando 'vitória total'

Venezuelan Presidency/AFP / HO Folheto divulgado pela Presidência venezuelana mostrando o presidente Nicolas Maduro apresentando nova moeda no quadro de novas medidas econômicas, durante a transmissão de um programa de televisão no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, em 17 de agosto de 2018 AFP PHOTO - Venezuelan Presidency
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se despediu nesta sexta-feira (28) da Assembleia Geral das Nações Unidas assegurando que a sua participação foi "uma vitória total".
"Sucesso total", declarou o questionado presidente em um vídeo gravado em Nova York, a caminho do aeroporto, e publicado em sua conta no Twitter.
"A verdade da Venezuela foi ouvida", afirmou. "Vitória na ONU. Vitória total".
"A verdade dos nossos povos prevalecerá sempre sobre o ódio e a mentira", escreveu.
O presidente americano, Donald Trump, disse na quarta-feira na ONU que "todas as opções" estão abertas com relação à Venezuela, inclusive as mais fortes.
Maduro condenou, por sua vez, na assembleia "a agressão permanente" de Washington, mas disse a Trump que queria se reunir com ele e apertar sua mão.
Com um megafone, a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, participou na véspera de uma manifestação de venezuelanos em frente à ONU: "Continuaremos lutando pelos venezuelanos até que Maduro se vá!".
Seis países entraram em acordo esta semana na ONU para pedir à promotora do Tribunal Penal Internacional que investigue o governo Maduro por supostos crimes contra a humanidade.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou na quinta-feira uma resolução histórica sobre Venezuela na qual pede ao governo de Maduro que "aceite a ajuda humanitária" para solucionar os problemas de "falta de alimentos, remédios e equipamentos médicos".

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