Pegada hídrica. Termo-chave para garantir a nossa sobrevivência
Por: Equipe Site eCycle e Equipe Oásis
Pegada hídrica (*) é o rastro que deixamos ao
consumir água direta e indiretamente. O consumo de água no planeta está
ligado às diversas funções da água, tanto no cotidiano das pessoas, como
na produção de alimentos, roupas, papel, entre outros. A quantidade de
água usada para esses meios é enorme e muitas vezes desproporcional.
Para produzir um quilo de carne bovina, por exemplo, são gastos 15,5 mil
litros de água, um pouco mais que os dez mil litros de água gastos para
fazer um quilo de algodão. Esses são dados da Water Footprint,
organização internacional sem fins lucrativos que promove estudos
relacionados ao consumo de água.
Essa organização criou um indicador de água
chamado Pegada Hídrica, que mede e analisa a quantidade de água gasta
para fabricar um produto, além de aferir o consumo individual das
pessoas em todo o mundo. No Brasil, o consumo de água é de 2027 metros
cúbicos per capita ao ano e ainda tem 9% da sua pegada hídrica total
fora das fronteiras do país, ou seja, exportamos água por meio de nossos
produtos. A pegada é dividida em três tipos: a azul, que mede o volume
das águas de rios, lagos e lençóis freáticos, usualmente utilizadas na
irrigação, processamentos diversos, lavagens e refrigeração; a pegada
hídrica verde, que se relaciona à água das chuvas, necessária ao
crescimento das plantas; e a pegada hídrica cinza, que mede o volume
necessário para diluição de um determinado poluente até que a água em
que este efluente foi misturado retorne a condições aceitáveis, de
acordo com padrões de qualidade estabelecidos.
Gasto invisível
A maior preocupação do indicador é pelo fato desse
consumo ocorrer de duas formas: a direta, quando alguém abre a torneira
para realizar alguma ação; ou a indireta, via aquisição de objetos de
consumo, como roupas, produtos alimentícios, etc. O problema dessa
segunda forma é que ela passa despercebida pelas pessoas. Isso porque
não é intuitivo que, ao consumirmos os produtos, neles estejam embutidas
enormes quantidades de água para sua produção. Segundo dados do
estudo Água: Debate estratégico para brasileiros e angolanos feito pelo
professor doutor da USP, Maurício Waldman, a agricultura é, de longe, a
que mais gasta água (entre 65% e 70% do consumo), seguida pela indústria
(24%) e pelo uso doméstico (entre 8% e 10%).
Por isso a importância desse indicador, que alerta
para o gasto “oculto” de água e busca conscientizar as pessoas que o
fator da água é muito relevante nas opções de consumo de cada um. Para
tornar mais clara essa relação entre consumidor e produto, a pegada
hídrica propõe mostrar o volume de água gasto em cada produto,
oferecendo condições ao consumidor de optar pelo produto que se
apresente como mais econômico e, como consequência, seja uma maneira de
estimular fabricantes a reduzir, em seus processos de produção, o uso
desse recurso tão importante.
Exigências para a transparência
Outra ideia da organização é criar um projeto de
lei que obrigue os fabricantes a apresentarem, nas embalagens dos seus
produtos, rótulos indicando a quantidade de água gasta em sua produção.
Essas propostas da organização surgem na tentativa de reduzir problemas
relacionados à escassez de água, que segundo relatório da Water
Footprint, chega a afetar, pelo menos um mês por ano, mais de 2,7
bilhões de pessoas.
E essa preocupação quanto à pegada hídrica deve
compreender a origem, a quantidade e a qualidade da água, pois é muito
importante observá-la a partir dos mananciais e rios, que marcam o
início de sua trajetória. Isso porque em caso de contaminação por
resíduos mal depositados ou problemas em tubulações, a água contaminada
tende a espalhar-se por residências, com efeitos imprevisíveis ao ser
consumida.
Além das ideias apresentadas pela organização, a
diminuição no consumo e maior conscientização da população podem se dar
pelo surgimento de novas tecnologias capazes de criar meios para
economia, como sensores de presença que suspendem a vazão quando ela não
é necessária, captação de água da chuva, temporizadores, dentre outras
alternativas para o consumo mais responsável.
Confira um vídeo da WWF do Canadá sobre o assunto (em inglês):
UMA DIETA MAIS SADIA PODE CORTAR PELA METADE A NOSSA ATUAL PEGADA HÍDRICA
UMA DIETA MAIS SADIA PODE CORTAR PELA METADE A NOSSA ATUAL PEGADA HÍDRICA
Por: Equipe Oásis
Sim: Os hábitos alimentares atuais constituem um
dos fatores principais para o aumento exponencial da pegada hídrica que,
hoje, exercemos no planeta. Para começar, reduzir o consumo de carne
vermelha, açúcares e gorduras animais trocando-os por frutas e verduras
não apenas seria uma providência benéfica para a nossa saúde como
reduziria de modo importante o consumo global de água doce. Na Europa
Ocidental, calcula-se que apenas isso já reduziria a pegada hídrica
europeia em 35%. Se a carne vermelha fosse substituída pelo peixe, a
redução dos consumos de água nos processos produtivos chegaria a 55%;
converter-se a uma dieta completamente vegetariana comportaria – e este é
um dado interessante – uma economia praticamente igual.
Análise detalhada
Essas constatações fazem parte de um estudo guiado
pelo cientista Davy Vanham, do Centro de Pesquisa da Comissão Europeia,
que levou em consideração a água que consumimos relativa à produção dos
alimentos que comemos e bebemos, ou seja, a água necessária para
produzir alimentos e bebidas, em três países: Inglaterra, França e
Alemanha.
Dos três países considerados, a Inglaterra é o que
tem a pegada hídrica mais comedida (2.757 litros ao dia por pessoa),
contra os 2.929 litros da Alemanha e os 3.861 litros da França. O
consumo maior dos franceses é devido ao consumo mais elevado de vinho,
cuja produção exige cerca de 7 vezes a quantidade de água necessária
para produzir cerveja, e à preferência por carne vermelha, produto
responsável por 40% da pega hídrica francesa ligada ao consumo de
alimentos.
Da pesquisa emergiram também importantes diferenças
regionais e socioeconômicas. Por exemplo, as áreas rurais têm em geral
uma pegada hídrica maior, por causa do maior consumo de carne: em
Londres consome-se menos carne vermelha do que nas regiões do sudoeste
da Inglaterra, mas essa vantagem é “compensada” de outros modos. Quem
possui uma renda mais elevada e um título escolar mais alto na cidade
também compra e consome mais vinho, e os ritmos frenéticos da vida nas
cidades grandes podem levar a uma alimentação mais desordenada.
15 mil litros de água para um quilo de carne vermelha
Três mil litros de água ao dia por pessoa significa
cerca de um milhão de litros ao ano: é o equivalente a encher três
vezes a piscina olímpica pública da cidade, depois de tê-la esvaziado
completamente. Cerca de 15 mil litros de água são necessários para
produzir um quilo de carne vermelha bovina, mil litros para se obter um
quilo de trigo. Sem contar os efeitos de uma dieta não sadia, demasiado
rica em gorduras e derivados animais, sobre a saúde: quando comemos
carne vermelha, leite e queijos em quantidades excessivas consumimos em
geral me4nos frutas e verduras.
Davy Vanham e seus colegas, por fim, calcularam
como a passagem coletiva para uma alimentação correta – calculada com
base nas normas médicas e nutricionais das nações europeias – poderia
mudar esse panorama. Converter-se ao vegetarianismo ou a uma dieta
vegetariana que inclua peixe, reduziria o consumo de água na Europa de
33 a 55%. Uma dieta sadia que inclua carne, porém em quantidade
equilibradas, já seria suficiente para cortar uma fatia compreendida
entre 11 e 35% do consumo de água.
(*) Pegada hídrica é um conceito criado pelo professor Arjen Y. Hoekstra da UNESCO-IHE em 2002, que diz respeito a quantidade de água potável suficiente
para produzir um alimento ou mercadoria. Produtos comuns utilizados
pela população em geral gastam cifras de água consideráveis: para a
produção de 1 kg de carne bovina são gastos em média 15500 litros de
água; para uma camisa de algodão são gastos 2700 litros, para 1 kg de
soja 1800 litros e para 1 kg de arroz são gastos 2500 litros.
copiado https://www.brasil247.com/pt/247
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