Rede social para negros quer dar visibilidade a políticos e empreendedores. “O Brasil é um dos países mais racistas do mundo, mas o racismo é velado” O racismo no Brasil pelo olhar de quem vem de fora: documentário Open Arms, Closed Doors aborda o problema do nosso racismo disfarçado. “Ordem é abordar indivíduos negros e pardos” Superar o racismo requer mais que ‘apenas’ educação Estudante ‘rejeitado’ da Unifesp comete suicídio dentro da faculdade Ator Luís Salém é acusado de racismo: “Preto, vai estudar e se formar sem cotas”

Rede social para negros quer dar visibilidade a políticos e empreendedores

AFP / Mauro Pimentel Uma mulher se conecta à rede Black & Black, em 21 de setembro de 2018, no Rio de Janeiro
A Black & Black, uma rede social brasileira indicada para negros, foi lançada dois meses antes das eleições com o objetivo de dar visibilidade a políticos e empreendedores e promover iniciativas, como o boicote de campanhas de marketing racistas.
A plataforma, que se apresenta como inédita no mundo, pretende "conectar as demandas e narrativas da população negra no mundo", para que "o povo negro tenha o protagonismo que merece", descreve o site oficial.
Idealizada pelo empreendedor social Celso Athayde, CEO da Favela Holding, a rede conta com cerca de 100 mil usuários, entre eles o ator Lázaro Ramos, o rapper MV Bill, a colunista Flávia Oliveira e o humorista Hélio de la Peña.
Segundo Athayde, a meta é chegar a um milhão de membros até as eleições de outubro e a 10 milhões no fim do ano.
A plataforma quer juntar pessoas com tendência a consumir "experiências black, atividades ou ações envolvendo questões de etnia", afirma Athayde.
"Movimentos negros, mulheres que falam de beleza negra, bailes blacks, religião afro... temos uma série de segmentos dentro do segmento negro, mas tudo espalhado", acrescenta. "Podem ter interesses diferentes, mas existe uma coisa que nos une: o sentimento de ser negro".
Essa necessidade de encontrar uma plataforma comum pode ser explicada pelo fato de que no Brasil, devido a séculos de miscigenação, o movimento negro é historicamente múltiplo e difuso, segundo Luana Génot, diretora executiva da ONG Instituto Identidades do Brasil.
A situação é diferente, por exemplo, da dos Estados Unidos, onde "a separação legal entre raças facilitou o surgimento de associações que ajudam a unificar a comunidade negra", acrescenta.
O Brasil foi o último país a abolir a escravidão na América, sem que isso tenha sido acompanhado de políticas para a inserção social dos negros.
Ações afirmativas como cotas raciais nas universidades surgiram nas últimas décadas para tentar compensar essa dívida histórica, o que permitiu o acesso dos negros a ambientes majoritariamente brancos e, com isso, o fortalecimento da identidade afro.
Athayde rejeita as críticas de que a Black & Black promove segregação: "Não estamos separando; reconhecemos a separação que já existe. Vivemos num país onde existe movimento negro e entidades públicas de combate ao racismo, prova de que existe preconceito racial".
- Sub-representação no Congresso -
AFP/Arquivos / EVARISTO SA Câmara dos Deputados, em sessão de 2 de agosto de 2017, em Brasília. Apenas 20% dos membros do Congresso são negros, ou pardos, em um país onde correspondem a 55% da população
A interface da Black & Black é similar à do Facebook, com amigos, páginas e um feed, onde os usuários compartilham informações de interesse da comunidade negra - notícias, ofertas de emprego, atividades culturais, produtos e serviços.
Também é um espaço para fazer política, promovendo o encontro de candidatos negros aos governos estaduais e a cargos legislativos – há cerca de 600 na plataforma – com seu público.
O lançamento oficial da plataforma será em 2019, mas a versão beta foi disponibilizada no último dia 15 de agosto.
"Resolvemos antecipar o lançamento porque era uma oportunidade para os candidatos fazerem suas páginas, pedirem votos e serem apresentados às pessoas", diz Athayde.
O empresário ajudou a criar o partido Frente Favela Brasil, que hoje tem mais de 100 candidatos disputando cargos através de outras formações.
Embora sejam 55% da população brasileira, de acordo com o IBGE, os negros (cidadãos que se autodeclaram pretos ou pardos) representam apenas 20% dos membros da Câmara dos Deputados, e somam 46% dos candidatos às eleições de outubro, segundo dados do TSE.
"Os pretos não são eleitos porque quem permite que você seja eleito são os recursos financeiros, e eles não têm porque não são os empregadores. Portanto, não são prioridade nos partidos", avalia Athayde.
Segundo Athayde, essa sub-representação no Congresso reflete na falta de políticas e ações afirmativas em favor da população negra.
"A política define toda e qualquer regra desse jogo, e se você só tem brancos e homens nesse setor, obviamente eles só vão pensar no que interessa para eles", destaca.
- "Despertar medo" -
Athayde enfatiza que o potencial de consumo da população negra, subestimado, é impulsionado nessa plataforma. Assim, pequenos empreendedores ou grandes companhias que têm produtos específicos para negros poderão se comunicar diretamente com seu público-alvo.
De acordo com o instituto de pesquisa Locomotiva, os negros movimentaram R$ 1,6 trilhão no Brasil em 2017, equivalente ao 17º maior mercado do mundo.
Athayde destaca ainda o potencial de mobilização, por exemplo contra campanhas de marketing racistas: "Não existe hoje um canal onde se possa se posicionar de forma permanente ou propor boicotes contra quem comete esses deslizes".
"Hoje não causamos medo em ninguém. Precisamos despertar um pouco de medo nas pessoas, e acho que essa plataforma começa a despertar isso. Se os pretos se juntarem, esse jogo pode começar a virar".
A rede passará por atualizações até chegar a uma versão final em dezembro, quando será disponibilizada também nos Estados Unidos, França e Espanha.
Pode ser acessada pelo site www.blackeblack.com e pelo aplicativo Black&Black.
Redação Pragmatismo

Racismo não 19/Feb/2013 às 08:31 COMENTÁRIOS

“O Brasil é um dos países mais racistas do mundo, mas o racismo é velado”


O racismo no Brasil pelo olhar de quem vem de fora: documentário Open Arms, Closed Doors aborda o problema do nosso racismo disfarçado

documentário Brasil é um dos países mais racistas do mundo
Racismo no Brasil pelo olhar de quem vem de fora: Cena do documentário Open Arms Closed Doors (Foto: Al Jazeera)
Discutir o racismo na sociedade brasileira sempre é um assunto controverso. Para início de conversa, uma parcela significativa da nossa população insiste em dizer que este é um problema que não enfrentamos. Somos miscigenados, multirraciais, coloridos. Como um país assim pode ser racista?
Foi essa a pergunta que o angolano Badharó, protagonista do documentário “Open Arms, Closed Doors” (Braços Abertos, Portas Fechadas – vídeo no fim do texto), que dirigimos para a rede de TV Al Jazeera e que será veiculado a partir de hoje em 130 países, se fez quando chegou ao Brasil em 1997 esperando encontrar o Rio de Janeiro que ele via nas novelas.
Badharó é um dos milhares de angolanos que vieram viver no Brasil. Depois de fugir da guerra civil no seu país de origem, escolheu aqui como novo lar – um país sem conflitos, alegre, aberto aos imigrantes e cuja barreira da língua já estava ultrapassada à partida. Foi parar no Complexo da Maré, onde está localizada a maior concentração de angolanos do Rio de Janeiro.
Para quem defende que o Brasil não é um país racista, vale ouvir o que ele, um imigrante negro, tem a dizer sobre a nossa sociedade. Badharó não nasceu aqui, não carrega nossos estigmas, não foi acostumado a viver num lugar em que muitos brancos escondem a bolsa na rua quando passam ao lado de um negro. Depois de 15 anos vivendo numa comunidade carioca, ele tem conhecimento de causa suficiente para afirmar: “O Brasil é um dos países mais racistas do mundo, mas o racismo é velado”. O documentário segue a rotina deste rapper de 35 anos e mostra o dia a dia de quem sofre na pele uma cascata de preconceitos, por ser pobre, negro e imigrante.
Além de levantar o tema do nosso racismo disfarçado, o documentário propõe, também, uma outra discussão: agora que estamos nos tornando um país alvo de imigrantes, será que estamos recebendo bem esses novos moradores?

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Com a ascensão do Brasil como potência econômica e o declínio da Europa, principal destino de imigração dos africanos, nos tornamos um foco para quem não apenas procura uma situação melhor de vida, mas para quem procura uma melhor educação ou mesmo um bom posto de trabalho. São muitos os estudantes africanos de língua portuguesa que desembarcam no Brasil. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, Angola foi o quarto país do mundo que mais solicitou visto de estudantes no Brasil em 2012. Com esta nova safra de imigrantes, basta saber como vamos nos comportar.
Europeus e norte-americanos encontram nossas portas escancaradas e nossos melhores sorrisos quando aportam por aqui, mesmo que estejam vindo de países falidos e em situação irregular. No entanto, um estudante angolano com visto e com dinheiro no bolso, continua sofrendo preconceito. Foi este o caso da estudante Zulmira Cardoso, baleada e morta no Bairro do Brás, em São Paulo, no ano passado. Vítima de um ato racista, a estudante virou o mote de uma musica que Badharó compôs para que o crime não fique impune. Isto porque tanto as autoridades brasileiras quanto as angolanas não deram sequência nas apurações e o crime segue impune.
A tentativa de abafar qualquer problema de relacionamento entre as duas nações pode afetar as interessantes parceiras comercias que existem entre os dois governos. Para todos os efeitos, continuamos sendo ótimos anfitriões e estamos de braços abertos para quem quer aqui entrar.

COPIADO  https://www.pragmatismopolitico.com.br/

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