Fantasmas habitam casas em ruínas, não as em construção. O MEC pode ser um quartel com uma múmia ministerial?

Fantasmas habitam casas em ruínas, não as em construção

Por que tornaram este 55° aniversário do golpe de 1964 uma espécie de sessão de invocação dos fantasmas do autoritarismo?
Isso só acontece porque nosso país perdeu o sentido de ser uma obra em construção, com planos, projetos e sonhos.
Passou a ser, ao contrário, um lugar a ser desmontado, desconstruído, demolido, como uma casa assombrada de onde provêm o mal, a tristeza, a pobreza, a danação.
Como vamos perdendo, todos os dias, o sentido do futuro, os mais fracos, os mais limitados e os mais conformados vão buscar refúgio num passado que, nem foi tão suave quanto a memória o filtrou, nem é possível reeditar nos tempos presentes e a vir.
Então, vive-se  a louvar um Brasil  imaginário, um lugar que não existiu senão nesta memória edulcorada.
Um país sem violência, sem corrupção, dos “noventa milhões em ação” da Copa de 1970, o país “prá frente” que empurrava para os morros e para periferia os pobres de sua riqueza e para as covas anônimas os cadáveres de sua paz.
Mas por que, então, dedicam-se a invocar estes tempos?
Porque não podem deixar que nos lembremos de outro, muito mais recente, em que este país não era esta obra em ruínas, mas uma casa que se erguia, decerto que com defeitos e precariedades, para abrigar não alguns, mas a todos, ainda que à maioria muito, muito modestamente.
Um casa que estava ficando grande porque já não queria mais colocar os pobres na senzala, porque ia se ajeitando no convívio de alhos com bugalhos, que ia abrindo as portas antes fechadas pela exclusão.
Eles não chamam os fantasmas para trazer o passado de volta, chamam-nos para impedir que venha o futuro.

O MEC pode ser um quartel com uma múmia ministerial?

Poderiámos ter um ministro da Educação na Presidência, mas agora temos um presidente sem ministro da Educação, que tragédia!
O ministério da Educação, desde ontem, vive uma “intervenção militar”, com a presença do tenente-brigadeiro Ricardo Vieira como secretário-executivo da pasta.
Ele vai para o lugar de Luiz Tosi, foi exonerado após críticas do astrólogo Olavo de Carvalho pelo twitter,  e que “quase” foi ocupado por Rubens Barreto da Silva, era  secretário-executivo adjunto de Tozi e pela “pedagoga de Deus” Iolene de Lima.
Vieira disse logo a que vem, em entrevista ao Valor: “queremos que o nosso ministro saia de foco”.
Querem-no, portanto, mumificado em seu gabinete, enquanto o ministério se dedica a uma rotina sem-sal.
E produz, claro, algumas “vitórias administrativas”, como cartilhas expurgadas de “imoralidades”, duas dúzias de escolas militarizadas que “vão resolver” o problema educacional brasileiro.
Só que isso não é possível, nem como farsa.
Até agora, o sistema continua funcionando por inércia, mas dentro de dois ou três meses vai começar a parar, por diversas razões: falta de dinheiro, falta de comando (as estruturas administrativas), falta de projetos e, claro, reação das comunidades de professores e alunos.

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