Em quase todas as culturas tradicionais, os ritos de
passagem assinalam o fim da infância e o início da idade adulta. Mas nem
todos esses ritos são indolores e isentos de perigo como os nossos
bailes das debutantes, a primeira comunhão dos católicos ou o bar mitzva
dos judeus. Existem aqueles que se lançam literalmente no vazio
amarrados a um cipó nos tornozelos, e quem se deixa picar nas mãos por
dezenas de formigas tropicais
Ontem menino, hoje homem. Os ritos de passagem mais estranhos do mundo
Em quase todas as culturas tradicionais, os ritos
de passagem assinalam o fim da infância e o início da idade adulta. Mas
nem todos esses ritos são indolores e isentos de perigo como os nossos
bailes das debutantes, a primeira comunhão dos católicos ou o bar mitzva
dos judeus. Existem aqueles que se lançam literalmente no vazio
amarrados a um cipó nos tornozelos, e quem se deixa picar nas mãos por
dezenas de formigas tropicais
3 de Setembro de 2015 às 12:12
No bairro antigo de Havana, em Cuba, garotos se divertem com os seios nus da mulher do painel.
Por: Luis Pellegrini
Ritos de passagem são celebrações que
marcam mudanças de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Esses
ritos podem ter caráter social, comunitário ou religioso, e marcam
momentos importantes na vida dos indivíduos. Os mais comuns são os
ligados a nascimentos, mortes, casamentos e formaturas. Em nossa
sociedade, os ritos ligados a nascimentos, mortes e casamentos são
praticamente monopolizados pelas religiões. Já as formaturas não
costumam ser, em si, religiosas, mas frequentemente têm importantes
momentos religiosos. O termo “rito de passagem” foi popularizado pelo
antropólogo alemão Arnold van Gennep no início do século vinte.
Rito de iniciação de faquir indiano
Em todas as sociedades primitivas,
determinados momentos na vida de seus membros eram marcados por
cerimônias especiais, conhecidas como ritos de iniciação ou ritos de
passagem. Essas cerimônias, mais do que representarem uma transição
particular para o indivíduo, representava igualmente a sua progressiva
aceitação e participação na sociedade na qual estava inserido, tendo,
portanto, tanto cunho individual quanto coletivo.
Geralmente, a primeira dessas cerimônias era praticada dentro do
próprio ambiente familiar, logo em seguida ao nascimento. Nesse rito, o
recém-nascido era apresentado aos seus antecedentes diretos, e era
reconhecido como sendo parte da linhagem ancestral. Seu nome ,
previamente escolhido, era então pronunciado para ele pela primeira vez,
de forma solene. Alguns anos mais tarde, ao atingir a puberdade, o
jovem passava por outra cerimônia.
Todos os anos os muçulmanos comemoram a festa do Ramadã, rito que assinala a passagem para um novo ciclo do tempo.
Para as mulheres, isso se dava geralmente no momento da primeira
menstruação, marcando o fato que, entrando no seu período fértil, a
garota estava apta a preparar-se para o casamento. Para os rapazes, a
cerimônia geralmente se dava no momento em que ele fazia a caça e o
abate do primeiro animal. Ambas ligadas, portanto, ao derramamento de
sangue, tais ritos significavam a integração daquela pessoa como membro
produtivo da tribo: ao derramar sangue para a preservação da comunidade
(pela procriação ou pela alimentação), ela estava simbolicamente
misturando o seu próprio sangue ao sangue do seu clã.
Na galeria abaixo apresentamos alguns ritos de passagem realmente incríveis – pelo menos para nos, ocidentais.
1 Picados pelas formigas. Ela é uma Paraponera
clavata, que os indígenas da Amazônia chamam tocandira e os de língua
inglesa bullet ant, ou formiga-projétil. É assim chamada porque a dor
que provoca quando pica com suas potentes mandíbulas é comparável à de
um tiro de revólver. Para entrar no mundo dos adultos, os adolescentes
homens da tribo dos Sateré Mawé, que vivem na fronteira entre o Amazonas
e o Pará, desafiam esse monstruoso inseto – uma das maiores formigas do
mundo, chegando a 3 centímetros - enfiando as mãos no interior de um
par de luvas (veja a foto) recheadas com dezenas de tocandiras. Os
garotos têm que dançar com as mãos dentro da luva durante dez minutos. A
dor pode durar até 24 horas e é tão intensa que o corpo sofre com
convulsões. O mais inacreditável é que os homens da tribo repetem este
ritual várias vezes durante a vida, para provar a sua masculinidade. E
devem resistir sem gritar, sem chorar ou se lamentar durante pelo menos
dez minutos!
Vídeo : National Geographic
2 Saltar no vazio. Para se tornar gente grande e
demonstrar que não sentem medo, os adolescentes homens da tribo Sa, na
Ilha de Pentecostes, no Arquipélago de Vanuatu, no Oceano Pacífico,
devem se exibir no ritual do “naghol” (salto no vazio), um costume que
inspirou o bungee jumping. Com os tornozelos atados a longos cipós, os
garotos se atiram de torres de madeira com mais de 30 metros de altura. A
prova é muito arriscada: se o cipó é demasiado curto eles podem bater
contra as madeiras pontudas que sustentam a estrutura; se é demasiado
longo batem no chão a uma velocidade superior a 50 quilômetros por hora.
O ato é considerado uma prova de masculinidade para os rapazes, e o
primeiro salto assinala a passagem deles à idade adulta. Este ritual
serve como um rito de passagem e como um ritual de colheita dos
habitantes de Vanuatu. Quando o “mergulho” é feito corretamente, o
garoto deve encostar os ombros e a cabeça no chão. Entretanto, os cipós
não são elásticos e um cálculo errado do comprimento da corda pode
causar ferimentos sérios ou até mesmo a morte do garoto no ritual.
Vídeo: National Geographic
3 Veneno sagrado. A tribo indígena dos Matis, que
vivem na floresta amazônica brasileira, realiza quatro testes com os
garotos, para que eles mostrem que podem participar das caçadas com os
outros homens. Primeiro, os garotos recebem veneno diretamente nos
olhos, para supostamente melhorar a sua visão e aguçar os sentidos.
Depois, eles são espancados e recebem chicotadas, para depois receber a
inoculação do veneno de um sapo venenoso da região. A tribo acredita que
o poderoso veneno do animal aumenta a força e a resistência, o que só
acontece depois que o participante do ritual sofre com fortes enjoos,
vômitos e diarreia. Quando os garotos passam por esta terrível sequência
de testes, são considerados aptos a participar das caçadas da tribo.
Foto: Paulo Whitaker
4 Iniciação para canibais. Os Aghori, uma seita
indiana cujos membros se concentram na cidade santa de Varanasi (a
antiga Benares), costumam comer carne humana em certos momentos do seu
caminho em direção à iluminação espiritual. Sua principal fonte de
abastecimento são as piras funerárias que, diariamente, queimam
cadáveres nas margens do Rio Ganges. Segundo os Aghori, essa prática,
ligada à purificação da alma, contribui para manter o corpo sadio e
evita as doenças.
5 Sangue purificador. Para os
Matausa,
uma população do Arquipélago Papua Nova Guiné, o corpo da mulher não é
puro e, de consequência, também os filhos que a mulher gera não são
puros. Os jovens são purificados durante a adolescência (ou em alguns
momentos importantes da vida, por exemplo pouco antes do casamento) com
um ritual muito doloroso e violento: Eles inserem pela boca duas varetas
e as fazem sair pelas narinas. O sangue e o muco que saem das feridas
representam as impurezas que o menino recebeu da sua mãe, e que agora
estão sendo expulsas.
6 O rito das debutantes. Pouca gente sabe disso, mas
os tradicionais bailes de debutantes, quando as jovens moças são
apresentadas à sociedade, são uma versão moderna de ritos iniciáticos
muito antigos e comuns a várias culturas ao redor do mundo. Assinalam
sempre o fim da infância e o início da idade adulta, como nesta foto em
que debutantes inglesas chegam para o seu grande baile.
7 Circuncisão. Quando os meninos da tribo Xhosa, da
África do Sul, chegam à adolescência, devem suportar a circuncisão feita
a sangue frio, uma operação que, nos adultos, é particularmente
dolorosa. Mas as penas dos jovens xhosa não são nada comparadas com as
provas a que são submetidos os adolescentes de 14 a 16 anos, de ambos os
sexos, da tribo Okiek, do Quênia. A iniciação começa com a circuncisão
dos órgãos sexuais. Depois, os participantes ficam separados dos
adultos do sexo oposto por um período de quatro a 24 semanas. Os jovens
circuncisados têm que se pintar com argila branca e carvão, para ficarem
com uma aparência selvagem, e na fase de isolamento recebem
ensinamentos ministrados pelos anciãos da comunidade. Feita sem nenhuma
anestesia ou cuidados higiênicos, essas circuncisões deixam os jovens
propensos infecções. Ainda mais cruel, a circuncisão feminina consiste
na remoção do clitóris, o que deixa a maioria delas incapaz de sentir
prazer durante o sexo para o resto da vida. Caso as meninas se recusem a
passar pelo rito são isoladas do resto da tribo.
8 A golpes de pedra. Também no noroeste da
Austrália, a cultura da tribo dos Unambal considera que os rapazes, para
se tornarem homens, devam passar pela circuncisão quando aparecem os
primeiros sinais de pelos na face. Mas o método usado é terrivelmente
primitivo: o órgão masculino é comprimido sobre uma rocha e o prepúcio é
cortado a golpes, com o uso de uma pedra afiada. Graças a controles
governamentais, a prática diminuiu nos últimos anos.
9 Bebês voadores. Todos os anos, na primeira semana
de dezembro, no Estado de Karnataka, na Índia, acontece um ritual
propiciatório particularmente terrificante. Os bebês nascidos no
decorrer do ano são lançados do alto dos tetos dos templos, de alturas
que superam os 30 metros. Embaixo, para acolhê-los, lençóis e colchas
são segurados por parentes e amigos da criança. Segundo a tradição
local, esse rito de passagem serve para trazer boa sorte e boa saúde aos
recém-chegados. As autoridades indianas proibiram recentemente o rito
devido à sua periculosidade, mas em muitas aldeias da região ele
continua a ser praticado. O vídeo abaixo, particularmente inquietante,
mostra como o rito dos “bebês voadores” acontece.
Vídeo: Bebês Voadores
10 Pelados sobre os touros. A cerimônia do salto
sobre os touros é um rito de passagem da tribo Hamar, da Etiópia, ao
final da qual considera-se que os jovens participantes entraram na idade
adulta e podem formar um casal com a amada escolhida. Completamente
nus, os meninos devem passar correndo e saltando sobre uma fila de
touros colocados lado a lado. As moças, por seu lado, deixam-se açoitar
por mulheres mais velhas.
11 Haja pancada. Rapazes da tribo nômade dos Fulani,
na África ocidental (Mali e Níger), têm um rito de passagem muito
doloroso para se tornar adultos: Eles lutam a golpes de chicotadas. Dois
a dois, os rapazes se desafiam. Depois de escolher um bastão
suficientemente robusto, o primeiro garoto investe contra o seu
adversário e o golpeia o mais fortemente possível. A seguir, é a vez do
seu adversário golpear, tomado pela mesma fúria. A multidão é quem
decide quem é o vencedor, com base na força dos golpes e na resistência
de quem os recebe.
12 Passeando com os mortos. Algumas populações do
Madagascar, na África Oriental, costumam exumar periodicamente os corpos
dos próprios mortos para mudar o sudário funerário que os envolve. Os
cadáveres, antes de serem novamente sepultados, são levados em procissão
durante dois dias seguidos, durante os quais os familiares dançam,
bebem muito álcool e fazem a festa. Esse rito, chamado Famadihana, é
repetido enquanto perdurar na tribo a memória do defunto.
13 Jantando com os mortos. Já os indígenas da tribo
Toraja, uma população que vive nas montanhas da Indonésia, passam o ano
inteiro com os próprios defuntos. No sentido literal da palavra. Depois
de embalsamados com folmaldeído, os cadáveres permanecem na casa da
família durante muitos anos. São simbolicamente nutridos, lavados e
vestidos até que o processo de decomposição não esteja bem adiantado.
14 Sepultura no céu. Algumas populações do Tibete
não enterram ou cremam os seus mortos. Os cadáveres são transportados
para o alto de montanhas com a ajuda de bois iaques, em longas
procissões capitaneadas por monges budistas. Lá no alto, os corpos são
desmembrados e oferecidos aos abutres, considerados como reencarnações
de anjos.
15 Creme de banana com vovó. Os Yanomamis, tribo
que vive na Floresta Amazônica, não sepultam os próprios mortos. Eles os
cremam e comem as suas cinzas misturadas a uma espécie de creme
especial, feito à base de bananas amassadas. Na crença desses indígenas,
esse ritual serve para liberar a alma do defunto e enviá-la ao mundo
dos mortos. Foto: Odair Leal
16 As viúvas de dedos cortados. Não é fácil ser
mulher entre os Dani, tribo que habita no interior da Papua e que ainda
cultiva costumes antigos de mais de dez mil anos. Entre eles, quando as
mulheres ficam viúvas ou perdem um parente próximo, devem passar por um
rito impressionante: a amputação das falanges dos dedos das mãos. Isso
acontece até mesmo quando elas são meninas. Hoje, a prática foi proibida
pelas autoridades. Mas é comum se ver, nos povoados que ladeiam o Rio
Baliem, mulheres com partes dos dedos amputados como a da foto. Os
polegares, no entanto, nunca são cortados. Sem eles a mulher não
conseguiria mais desempenhar nenhum trabalho, nem em casa nem no
campo...
17 Ritos dos faquires. Enormes espadas trespassam as
bochechas e os lábios desse jovem pertencente à comunidade chinesa de
Phuket, na Tailândia. Mas ele não sangra e aparentemente não experimenta
nenhuma dor: ele se encontra em estado de transe. É o momento
culminante da Festa vegetariana, dedicado todos os outonos aos Nove
Imperadores celestes. Com jejuns, sacrifícios, possessões e transes
mediúnicos, essas divindades do panteão taoísta são invocadas durante
nove dias seguidos para que tragam bênçãos e prosperidade. As pessoas,
na ocasião, caminham sobre brasas ardentes ou sobre lâminas afiadas, sem
demonstrar dor.
18. Drogados e enjaulados. Os garotos da tribo
indígena Algonquim, no Canadá, eram levados para uma área separada do
restante do povo, e eram enjaulados. Quando trancafiados, recebiam uma
dose de uma substância chamada de wysoccan, altamente alucinógena e
quase cem vezes mais forte que o LSD. A intenção do ritual era fazer com
que os garotos esquecessem todas as suas lembranças da infância, para
que pudessem se tornar homens. O problema do ritual é que a força da
substância é tão grande que muitos garotos perdiam a memória da família e
da própria identidade, e alguns até mesmo paravam de falar. Os garotos
que mostravam que ainda lembravam coisas da sua infância eram levados
para tomar o wysoccan novamente.
19. Festa da menina moça. Esta festa de iniciação é
realizada pela tribo Tikuna, que vive na região norte da Amazônia. As
garotas começam a participar da iniciação quando menstruam, e ficam
durante 4 a 12 semanas em reclusão em um local construído na casa da
família com este único propósito. Durante este período, acredita-se que a
menina está no submundo, correndo perigo na presença de um demônio
conhecido como Noo. Ao final do ritual, outras pessoas utilizam máscaras
e se tornam reencarnações do demônio, e a garota fica durante dois dias
com o corpo pintado de preto para se proteger do Noo. Na manhã do
terceiro dia, ela pode sair da reclusão, e é levada por parentes para as
festividades, em que dançam até o amanhecer. Neste momento, a garota
recebe uma lança de fogo e deve jogá-la sobre o demônio. Depois disso, a
tribo considera que a mulher pode entrar para a vida adulta com
segurança.
copiado http://www.brasil247.com/pt
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