Entrevista Constantino: 'Michel Temer surpreendeu, mas o tamanho do abacaxi é enorme' Polêmico colunista fala sobre política brasileira, eleições nos Estados Unidos ("Votaria no Trump tomando um Engov") e sobre o "jeitinho brasileiro", abordado em seu novo livro, que será lançado hoje em Belo Horizonte


Entrevista

Polêmico colunista fala sobre política brasileira, eleições nos Estados Unidos ("Votaria no Trump tomando um Engov") e sobre o "jeitinho brasileiro", abordado em seu novo livro, que será lançado hoje em Belo Horizonte

 

Economista e colunista de grandes revistas de circulação nacional, Rodrigo Constantino, 40, está em BH hoje para o lançamento de seu livro “O Brasileiro é Otário?: O Alto Custo da Nossa Malandragem”, pela editora Record. Com formação em economia, Rodrigo Constantino já fez parte do time da revista “Veja” e hoje é colunista da “IstoÉ”. Amado pela direita e execrado pela esquerda, ele se auto-intitula um “liberal sem medo da polêmica” e assina também os livros “Contra a Maré Vermelha”, “Liberal com Orgulho” e “Esquerda Caviar”.

À reportagem de O TEMPO, o autor falou sobre seu posicionamento acerca da “malandragem brasileira”, de como acabar com o famoso “jeitinho” e das comparações entre o Brasil e os EUA. O economista mora há um ano e meio em Miami, na Flórida.

Constantino também fala sobre o futuro das eleições norte-americanas, admite que Donald Trump não é o “candidato dos sonhos” dos republicanos, mas afirma que, se votasse nos Estados Unidos, o polêmico empresário mereceria seu voto.

Sobre a conjuntura política brasileira e o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o colunista acredita que a petista não volta à Presidência e diz que Michel Temer surpreendeu “de forma positiva”.
O “jeitinho brasileiro” é motivo de orgulho para muitos. Como ele é abordado em seu livro?

É uma análise, com um viés negativo, do que ficou conhecido como “jeitinho brasileiro” e que me incomoda muito. Algumas pessoas até elogiam, dizem que somos descolados, sabemos levar a vida sem estresse, mas isso gera um alto custo para a sociedade brasileira, como a burocracia, a alta criminalidade, um ambiente de negócios hostil. E eu consegui encontrar o DNA do “jeitinho brasileiro” em vários desses problemas. Mas eu também evitei cair no outro extremo, que é daquele complexo de vira-lata – e reconheço que há alguma vantagem nesse lado mais emotivo, mas o tiro saiu pela culatra.

No livro você cita exemplos, inclusive de comparação entre os EUA e o Brasil.

Vivo há mais de um ano na Flórida e consegui observar algumas coisas, principalmente no cotidiano das classes média e média-baixa. Na concepção da esquerda, os EUA são um país que não deu certo, e é o que se aprende com os professores de esquerda, mas eu tento mostrar que é o contrário. Lá, um lixeiro, por exemplo, vai dentro do caminhão no ar-condicionado, ele só tem que apertar alguns botões para recolher o lixo. A faxineira chega para trabalhar de carro, em carro que até é considerado bacana para os brasileiros.

Você acha que esse jeitinho pode ser a base para a corrupção na política?

Acho que há algum elo. As eleições são um jogo de cartas marcadas, você tem um menu de opções muito ruim. Há, obviamente, essa ligação entre a cultura da malandragem e o que acontece na corrupção, mas não se resume a isso.

Quais são as causas do “jeitinho brasileiro”?

Isso se deve em parte à cultura. Mas também se deve às instituições perversas que nós temos. Quem quiser ser um cidadão que segue as regras vai viver num inferno. Em parte, o “jeitinho” também é um mecanismo de defesa da população, e uma coisa vai alimentando a outra.

Podemos dizer que, nos últimos anos, o brasileiro está mais consciente desses problemas?

É difícil mensurar, mas acho que há uma tentativa de reação. Tem cada vez mais gente irritada reagindo, mais gente ousa sair da toca e se pronunciar, dizer: “Pô, não pode parar nessa vaga que não é para você”, “Não pode furar fila”.

Qual seria a solução para o “jeitinho”?

No Brasil temos essa ideia de que tudo vai se resolver com lei. Começa a ter lei pra tudo. Como no caso dos idosos. Na fila, um deveria respeitar o outro, deixar os mais velhos passarem na frente. Aí cria essa lei, e vem um cara de 60 anos, que nem podemos mais considerar idoso, que acabou de chegar da academia, todo saudável, e a lei perde o sentido. Só conheço duas saídas. Uma é uma mudanças cultural, e a outra são reformas institucionais que reduzam o excesso de governo, o excesso de lei, o excesso de burocracia.

E sobre as eleições nos EUA? Qual é a sua opinião?

Eu não vou negar que o (Donald) Trump está longe de ser o candidato ideal que qualquer republicano gostaria, ele é uma espécie de bufão, um cara personalista que gosta de slogans simplistas. E a imprensa filtra tudo com um viés de esquerda. Tanto ele quanto a Hillary (Clinton, candidata democrata) são ruins, na minha opinião. Nos EUA, o povo está muito irritado com os democratas, a Hillary é vista como uma grande mentirosa. E o Trump vem tocando em pontos sensíveis para o eleitorado. O povo está sendo seduzido por um discurso simplista e demagogo, mas não podemos fechar os olhos para o que está acontecendo.

Você acha que o Trump tem chance de ganhar? Você votaria nele?

Acho que ele tem chance de vitória sim. Se eu tivesse que escolher, escolheria o Trump. Brinco que, aqui no Brasil, eu tinha que votar nos tucanos tomando um Engov, então eu votaria no Trump tomando um Engov, ou tampando meu nariz. Porque o Partido Republicano precisa vencer, e os democratas precisam sair. E essa eleição importa para os próximos 40 anos porque teremos a escolha dos novos juízes da Suprema Corte, e o Obama tem colocado juízes com mentalidade progressista, que vai contra a ideia de fazer a América o país que ela é.

O que você pensa sobre o atual momento da política brasileira?

Eu acho que a Dilma não volta. E acho que o Temer surpreendeu a muitos de forma positiva na questão econômica. Mas o tamanho do abacaxi é enorme. Tem que fazer uma grande reforma. Ele consegue? Num governo interino, sem ter sido eleito, a minha opinião é que não.
Serviço
Lançamento. O economista Rodrigo Constantino estará em Belo Horizonte hoje para o lançamento de seu livro “Brasileiro é Otário?”, às 19h, no shopping Pátio Savassi, na região Centro-Sul da capital.

 copiado  http://www.otempo.com.br/c

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