José
Roberto de Toledo
02
Março 2017 | 03h00
A
princípio, nem Michel Temer nem Eliseu Padilha admitiram terem se
encontrado com Marcelo Odebrecht e Cláudio Melo Filho no Palácio do
Jaburu, onde morava o então vice, para falar de doação para o PMDB
durante a campanha eleitoral de 2014. Ambos repudiaram em notas as
“falsas acusações” e “mentiras”.
Não
admitiram o encontro, mas tampouco negaram. Em sua nota de 9 de
dezembro, Temer afirmava que as doações feitas pela Odebrecht ao
PMDB foram “todas por transferência bancária”, e que não houve
caixa 2 nem entrega de dinheiro a seu pedido. Só. Padilha disse que
nunca tratou de arrecadação com quem quer que seja. Os outros
protagonistas têm contado história diferente.
Temer
e Padilha se referiam ao trecho da delação do diretor Melo Filho
que diz que parte do dinheiro prometido pela Odebrecht no Jaburu foi
entregue no escritório paulistano de José Yunes. Amigo de Temer
desde a faculdade de Direito, Yunes foi nomeado assessor especial da
Presidência em julho de 2016, mas deixou o cargo logo após a doação
odebrechtiana vir a público.
Dias
depois de suas notas indignadas, tanto Temer quanto Padilha passaram
a admitir ter havido o encontro dos quatro homens no Jaburu.
Insistiam, porém, que era tudo dinheiro declarado.
Essa
versão começou a furar quando o Estado noticiou
que quem entregara o dinheiro no escritório de Yunes havia sido
Lúcio Funaro, um operador preso pela Lava Jato sob acusação de
extorquir dinheiro de empresas junto com Eduardo Cunha. Segundo a
notícia, Funaro entregara R$ 1 milhão em espécie ao amigo de
Temer.
Em
depoimento voluntário ao Ministério Público pouco antes do
carnaval, Yunes confirmou ter atendido pedido de Padilha – que
viria a ser nomeado por Temer ministro-chefe da Casa Civil – para
receber “um documento” em 2014. O amigo do presidente disse não
saber o que havia no pacote, mas que foi “mula involuntária do
Padilha” – em alusão a quem carrega drogas para traficantes.
Yunes
relatou que, ao entregar-lhe a encomenda, Funaro contou que estavam
trabalhando para financiar 140 deputados a fim de eleger Eduardo
Cunha presidente da Câmara em 2015. Como se sabe, Cunha foi eleito e
teve papel-chave no processo que levou Temer à Presidência, e
Padilha, de volta ao ministério.
Por
vias tortas, o próprio Cunha demonstrou conhecer a história.
Arrolou Temer como sua testemunha de defesa e perguntou-lhe, por
escrito: “Qual a relação de Vossa Excelência com o senhor José
Yunes? O senhor José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha
para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB?”
Para
sua sorte, Temer não se comprometeu com uma resposta. Foi uma das 21
perguntas que o juiz Sérgio Moro achou sem pertinência ou
inapropriada e não remeteu ao presidente.
O
que se deduz – pelas questões de Cunha e, principalmente, pela
delação do empreiteiro confirmada por Yunes – é que nem toda
doação da Odebrecht para o PMDB de Temer e Padilha foi pela
declarada via bancária. Parte usou mulas. Por qual motivo?
Se
a Justiça eleitoral descobrir, vai demorar. Padilha está
hospitalizado. Temer pode alegar ignorância, arrolar testemunhas,
postergar o julgamento. Enquanto isso, o governo tenta aprovar as
reformas, aquecer a economia e ficar popular.
copiado http://politica.estadao.com.br
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