Moscou convocará na quarta-feira embaixadores estrangeiros pelo caso Skripal
Kommersant Photo/AFP/Arquivos / Yuri SENATOROV(Arquivo) Foto mostra o ex-espião russo Serguei Skripal durante audiência em Moscou, na Rússia, em 9 de agosto de 2006
A Rússia vai convocar na quarta-feira (21) os embaixadores estrangeiros credenciados em seu território para explicar seu ponto de vista sobre o caso do envenenamento de um ex-agente duplo na Inglaterra, anunciou a diplomacia russa nesta terça-feira (20).
Os embaixadores estão convidados para "um encontro com autoridades e especialistas do departamento responsável pelas questões de não-proliferação e controle de armas" do ministério russo das Relações Exteriores, indicou a porta-voz do ministério, Maria Zajarova.
Essa reunião será dedicada ao caso do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal, que anos atrás traiu seu país em benefício dos britânicos, e de sua filha, em 4 de março em Salisbury, declarou a porta-voz à agência russa TASS.
"O ponto de vista russo será exposto aos representantes oficiais dos Estados estrangeiros. Suas possíveis perguntas serão respondidas e a Rússia formulará suas próprias questões" neste caso, apontou.
O envenenamento de Skripal provocou uma grave crise nas já tensas relações entre Moscou e os países ocidentais e resultou na expulsão de 23 diplomatas russos do território britânico e na suspensão dos contatos bilaterais.
Em resposta, a Rússia, que defende sua inocência, anunciou a expulsão de diplomatas britânicos e pôs fim às atividades do British Council, a organização internacional do Reino Unido para relações culturais e educacionais.
Veículo estatal russo fala do programa Novichok e depois modifica texto
AFP / Ben STANSALLA Grã-Bretanha considera que uma destas substâncias provocou o envenenamento de Skripal, um ex-agente russo, e de sua filha no dia 4 de março na Inglaterra
A Rússia afirma que nunca existiu um programa chamado Novichok, apesar do papel que o Reino Unido atribui ao mesmo no envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal. Mas um cientista russo afirmou que trabalhou na concepção dos agentes tóxicos a um veículo estatal, que modificou suas declarações.
"Novichok não é uma substância, é todo um sistema de armas químicas", explicou Leonid Rink em uma entrevista à agência Ria-Novosti, que o apresentou como um dos diretores do programa.
A declaração contradiz as afirmações do Kremlin de que nunca existiu um programa similar.
Mas horas depois essa frase desapareceu do site da agência, que modificou o texto. Agora, o químico é descrito como "um dos criadores do agente tóxico que recebeu o nome de 'Novichok' no Ocidente".
"O programa de armas químicas na URSS não se chamava 'Novichok', mas de outra maneira. O nome utilizada números", declara Rink na nova versão.
A Grã-Bretanha acredita que um destes agentes neurotóxicos provocou o envenenamento de Skripal, um ex-agente russo, e de sua filha Yulia no dia 4 de março na Inglaterra. Ambos permanecem internados em estado crítico.
O ataque provocou uma nova crise nas relações já distantes entre a Rússia e os países ocidentais e resultou na expulsão de vários diplomatas.
Na entrevista, Rink explica por que a Rússia não pode estar por trás do envenenamento.
Segundo o cientista, Moscou não tinha nenhum interesse em atacar um ex-agente porque ele já havia revelado todos os seus segredos quando foi descoberto.
"Eles continuam vivos. Isto significa que não era o sistema Novichok ou que foi aplicado de modo descuidado", completou.
"Ou logo depois da aplicação, os ingleses usaram um antídoto, o que significa que eles teriam que saber exatamente qual era o veneno".
Rink insiste que não acredita na participação russa.
"Disparar contra um indivíduo que não tem interesse com um míssil de tal calibre e, apesar disso, não conseguir atingi-lo é o cúmulo da estupidez", disse.
A existência deste programa foi revelada por Vil Mirzayanov, um químico russo refugiado nos Estados Unidos. Ele afirmou que os agentes nervosos foram criados na década de 1980 por cientistas soviéticos.
Em declarações à AFP a partir dos Estados Unidos, Mirzayanov confirmou que conheceu Rink e que se viam no programa, no qual trabalhavam "centenas de pessoas".
"Não é tão fácil (...) sintetizar uma substância deste tipo em qualquer lugar. Sem experiência é possível que nem se consiga. Os ingleses não puderam fazê-lo", assegurou o cientista, que acusa seu antigo colega de "mentir".
De acordo com vários meios de comunicação, os cientistas trabalhavam para o Instituto Público de Química Orgânica e Tecnologia (GNIIOKhT), com sede em Moscou, mas que também tinha laboratórios em Shikhany.
"Havia um grande grupo de especialistas que desenvolviam o Novichok em Moscou e em Shikhany, técnicos, toxicólogos, bioquímicos (...) Conseguimos ótimos resultados", disse Rink à agência Ria-Novosti.
De acordo com o cientista, o programa se chamava Novichok-5. "O nome sempre era acompanhado do número", explicou.
Segundo Rink, a tecnologia do programa Novichok está ao alcance de "qualquer Estado desenvolvido" ou qualquer grande empresa farmacêutica.
"Desenvolver uma arma assim não supõe nenhum problema", disse.
Procurado pela AFP após a publicação da entrevista, o ministério russo das Relações Exteriores repetiu que "nunca existiu um programa de pesquisas e desenvolvimento chamado Novichok".
copiado https://www.afp.com
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