Cria-se o ódio e, depois, o “auxílio sala VIP” para os magistrados
O país se derrete, com o dólar na bica de chegar aos 4 reais e a Bolsa ameaçando perder o patamar de 70 mil pontos e a manchete do site de O Globo é o aluguel de uma “sala VIP” no aeroporto de Brasília para os ministros do Supremo Tribunal Federal, ao custo de R$ 375 mil ao ano.
É óbvio que é um escárnio, até porque a alegação de que se lhes garantiria segurança cai por terra com uma simples pergunta: mas chegando a seus destinos em outras cidades ou partindo de lá suas excelências não estariam correndo os mesmos riscos que se invocam para a pataquada?
Claro, a internet está caindo no couro de Cármem Lúcia e dos demais, seguindo as regras que os próprios magistrados ensinaram ao país: julgue sem ouvir, odeie e seja intolerante, em lugar de abrir o debate.
Querem segurança contra os loucos que eles próprios cevaram e cevam?
E o Globo, evidente, deixa de lado os grandes bueiros por onde se esvaem as riquezas nacionais para focar-se nos ralos e vazamentos que enxovalham – e enxovalham, mesmo – os “poderosos”, sempre na linha de ir achando os “culpados” para as desgraças deste país.
O baile da Ilha Fiscal é, sem dúvidas, escandaloso, mas o sistema escravocrata do império é que decaía e encontrava nele o seu símbolo quase caricato.
A imprensa brasileira não vê, ou não se importa, que o país dê todos os sinais de desagregação e ruína.
O Brasil no buraco é o Brasil do buraco
Fiz uma viagem de automóvel ao Sul em 2003, ano da posse de Lula, que recebeu o país de Fernando Henrique Cardoso numa situação de penúria e cortes de investimentos semelhante à de hoje. Quando entrávamos em alguma estrada vicinal, de terra, a brincadeira era dizer que “pegamos a BR” de tão mal conservadas estavam as estradas federais.
Prepare-se para viver algo semelhante nos próximos anos, depois das sensíveis melhorias que experimentamos em um década.
Juliana Elias, do UOL, publica hoje um conjunto de dados que reflete os investimentos em infraestrutura no país nos últimos dez anos e o resultado, claro, é como uma “lombada” de estrada… Subiu e desceu vertiginosamente, como mostra o gráfico.
Os números não se referem, claro, apenas a reparos, duplicações e abertura de rodovias. Incluem saneamento, energia e ferrovias, essencialmente. E apontam que, em 2016, ficaram em lastimáveis R$ 99 bilhões.
“É também pouco mais da metade da receita alcançada em 2012, quando os gastos com infraestrutura atingiram seu pico. Em 2012, as obras de infraestrutura realizadas no país, segundo a Paic, somaram R$ 180,5 bilhões. Desde então, este valor veio caindo ano a ano até chegar à mínima de 2016, número mais recente do IBGE”, narra Juliana.
Não foi só a recessão econômica: atingidas pela Lava jato, empreiteiras paralisaram obras e o resultado foi um aumento de 17% no desemprego da construção civil. Quem manteve o posto de trabalho perdeu 5% dos salários já modestos.
Não imagine que 2017 seja diferente disso, porque não houve dinheiro, senão para o setor elétrico. Os desembolsos do BNDES para as áreas de saneamento, logística e mobilidade urbana caíram 23% e as contratações de crédito, que representam obras em futuro próximo, despencaram 44%.
Pior ainda porque, para aliviar os problemas de caixa da União, o BNDES devolveu os recursos que tinha disponíveis para emprestar. Não ache que o fato de boa parte da malha rodoviária ter sido privatizada vá ser a saída: obra pesada, mesmo nelas, só com financiamento público, embora a conservação possa ser feita com os pedágios escorchantes que cobram.
No próximo buraco em que cair numa rodovia federal, lembre-se de Henrique Meirelles, do teto de gastos e do discurso neoliberal.
copiado http://www.tijolaco.com.br/b
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