Manifestações contra cortes na educação ocorrem em todos os estados e no DF. "Ô, Bolsonaro, seu fascistinha, os estudantes vão botar você na linha" e "Livro sim, arma não" foram outros gritos dos estudantes, que se sentaram na avenida

Luciana Quierati/UOLManifestações contra cortes na educação ocorrem em todos os estados e no DF

Professores, estudantes e trabalhadores da educação participam desde as primeiras horas da manhã de manifestações em defesa das universidades federais, da pesquisa científica e do investimento na educação básica. Os maiores protestos começaram à tarde em São Paulo, em Curitiba e no Rio.
Os atos reuniram pessoas de idades diversas, com crianças, jovens e idosos contra os cortes na educação. É o primeiro protesto nacional do governo Bolsonaro.
Na capital paulista, manifestantes se concentram nas imediações do Masp (Museu de Arte de São Paulo), fechando os dois sentidos da avenida Paulista. Depois foram em direção à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), no Paraíso.
Um grupo de alunos da USP (Universidade de São Paulo) veio a pé desde a Cidade Universitária, que fica a quase 7 km da avenida Paulista.
Além de cartazes, há bandeiras e balões de centrais sindicais e sindicatos da área da educação, assim como de coletivos estudantis. Bandeiras de partidos, como o PCO, aparecem em menor número.
Participantes também colaram adesivos contra a reforma da Previdência. Alguns manifestantes também estão com camisas e cartazes pedindo a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em um determinado momento, do meio de um grupo de estudantes da USP Leste, enquanto se aproximavam da do Masp vindos da Consolação, alguns desde grupo começaram a gritar "Bolsonaro, vai tomar no c...". Mas logo foram repreendidos pelos próprios colegas. "Não, aqui não vai ter isso". E continuaram com gritos de "Reage USP", "Luta" e "Resiste".
"Ô, Bolsonaro, seu fascistinha, os estudantes vão botar você na linha" e "Livro sim, arma não" foram outros gritos dos estudantes, que se sentaram na avenida Paulista em um trecho próximo ao Masp, pedindo a atenção das pessoas ao redor.
Luciana Quierati/UOL
15.maio.2019 - Os manifestantes espalham-se em vários pontos da Avenida Paulista, uma das principais vias de São PauloImagem: Luciana Quierati/UOL

Rio tem concentração na Candelária sob chuva

Centenas de manifestantes se concentram, desde as 15h, em frente à Igreja da Candelária, no centro do Rio.
A Polícia Militar, que acompanha o ato, não forneceu estimativa da quantidade de pessoas. Organizadores disseram ao UOL que havia pelo menos 3.000 pessoas em frente à igreja por volta das 15h.
Os manifestantes usam guarda-chuvas e capa de chuva enquanto aguardam a saída da concentração, às 17h, quando o protesto se dirigirá à Estação Central.
Placas como "Penso, logo reexisto" e algumas bandeiras de partidos de esquerda, como o PCdoB, estão presentes. Panos de prato ironizando os ministros da Justiça, Sergio Moro, e da Economia, Paulo Guedes, são vendidos a R$ 10.
O público ironizava com gritos e cantos: "Que contradição, tem dinheiro para a milícia, mas não tem para a educação", "Ô, Bolsonaro, vou te falar: a juventude também quer se aposentar". Havia bandeiras de sindicatos, universitários, partidos de esquerda e em lembrança à vereadora Marielle Franco.
Em Curitiba, há uma nova concentração reunindo movimentos LGBT, centrais sindicais e universitários. Uma caminhada está programada e os organizadores querem superar a agremiação ocorrida pela manhã.

Por que as pessoas foram às ruas?

Os atos acontecem após o MEC (Ministério da Educação) anunciar um congelamento orçamentário que atinge recursos desde a educação infantil até a pós-graduação, com suspensão de bolsas de pesquisa oferecidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Nas universidades federais, o bloqueio anunciado foi de 30% dos recursos destinados a gastos discricionários (como água, luz e serviços de manutenção).

Protestos desde a manhã

Mais cedo, alunos e docentes da USP (Universidade de São Paulo) iniciaram a manifestação por volta das 8h nos arredores da instituição, que fica na zona oeste de São Paulo, bloqueando ruas e avenidas do entorno. Eles decidiram ir andando até a avenida Paulista para engrossar o movimento da tarde.
Em Curitiba, os primeiros a chegarem no protesto contra os cortes na educação foram freis franciscanos. Eles ergueram faixas na praça Santos Andrade, no centro da capital paranaense. Os manifestantes se reuniram no prédio histórico da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e realizaram uma caminhada, bloqueando ruas da região central. Estudantes, professores e servidores da universidade participam do protesto, além de alunos de escolas e faculdades privadas da cidade.
Na região metropolitana da capital paranaense, metalúrgicos também fizeram protestos em diversas fábricas contra os cortes. A entidade informou que 20 mil trabalhadores participaram dos atos.
Já em Porto Alegre, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul usou granadas de gás lacrimogêneo para dispersar estudantes que protestavam na região da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em Porto Alegre. Segundo a Brigada Militar, a medida foi tomada para evitar o bloqueio do tráfego de veículos na região por volta das 12h.
"Não se pode confundir protesto com bagunça. Não se pode confundir manifestação com o bloqueio do direito de ir e vir da coletividade", afirmou Moritz, justificando a ação da brigada. "Eles estavam fazendo um protesto legal, um direito constitucional, mas fecharam as vias", disse.
Eduardo Matysiak/Futura Press/Estadão Conteúdo
Freis franciscanos participam de protesto em CuritibaImagem: Eduardo Matysiak/Futura Press/Estadão Conteúdo
Várias manifestações simultâneas aconteceram em Belo Horizonte, sendo a principal delas na Praça da Estação, no centro da capital mineira. Segundo os organizadores, somando-se todos os pontos de protestos, mais de 200 mil pessoas participaram dos atos.

Bolsonaro fala em Dallas: "Idiotas úteis"

Questionado sobre os protestos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a maioria dos participantes dos protestos é formada por "idiotas úteis" e "imbecis" que estão sendo usados por militantes. "É natural [que haja protesto]. Mas a maioria ali é militante. Se você perguntar quanto é sete vezes oito, não sabe...São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo usadas como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais no Brasil", disse em Dallas, onde está para receber uma premiação.
"São idiotas úteis", diz Bolsonaro sobre "maioria" dos participantes de ato
UOL Notícias

No Nordeste

Assim como na USP, o protesto começou cedo em Fortaleza. Entre 5h e 7h da manhã, alunos da UFC (Universidade Federal do Ceará) bloquearam a avenida 13 de Maio, no Benfica.
Em seguida, o grupo saiu em caminhada para a praça da Bandeira, no centro, e se juntaram a outros manifestantes para, por volta das 10h, seguir em direção à reitoria da UFC. No interior do Ceará, atos também foram registrados em Juazeiro do Norte, Cedro, Iguatu, Quixadá e Tauá.
Em Salvador, manifestantes se reuniram na manhã de hoje. O ato teve início na avenida Sete de Setembro, na região central, e seguiu em direção à praça Castro Alves. Com batuques dos grupos de afoxé, mais de de 25 mil pessoas participam da manifestação, segundo os organizadores. Quem está no local, no entanto, afirma que há o dobro de pessoas na manifestação.
Em Teresina, o ato começou por volta das 8h. Manifestantes bloquearam o cruzamento das ruas Areolino de Abreu e Ruy Barbosa e a saída do terminal de ônibus da praça da Bandeira. Estudantes, professores e trabalhadores da educação fizeram passeata até a prefeitura da cidade, onde pararam por 30 minutos. Depois, eles seguiram em passeata pelas ruas da cidade. A organização do ato não informou o número de participantes.
Em João Pessoa, o protesto começou em frente ao colégio Lyceu Paraibano, na região central, de onde cerca de 4.000 pessoas saíram em caminhada pelas principais ruas do centro. Por volta das 10h40, manifestantes seguiam pela avenida Getúlio Vargas e bloquearam o trânsito de veículos. Foram registradas manifestações em Campina Grande, Areia, Monteiro e Sousa.
Estudantes se concentraram na Universidade Federal de Campina Grande, no bairro de Bodocongó, no interior de Paraíba, por volta das 7h e uma hora depois seguiram em caminhada até a praça da Bandeira, no centro da cidade.
A Polícia Militar de todos os estados citados informou que não iria estimar o número de manifestantes.

No Norte, ao menos 4 capitais registram atos

No Pará, as aulas nas universidades públicas e IFPA (Instituto Federal do Pará) foram suspensas por conta dos atos públicos. Em Belém, Marabá e Santarém os protestos começaram às 8h.
Cerca de 10 mil pessoas se reúnem na praça da República, na capital paraense, segundo o Sindtifes (Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais do Ensino Superior do Estado do Pará).
No Acre, manifestantes iniciaram às 7h um ato intitulado de "Ocupa Ufac", em Rio Branco. O grupo serviu um café da manhã na entrada da Universidade Federal do Acre e bloquearam a entrada da instituição. As aulas foram suspensas, mas a reitoria informou que as atividades administrativas funcionam normalmente. Cerca de 600 pessoas participaram da mobilização, segundo organizadores.
Em Rondônia, foram registradas ao menos duas manifestações. Em Porto Velho, manifestantes se concentraram na sede do Sintero (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Rondônia) e seguiram em caminhada até a praça das Três Caixas d'Água. Na fronteira com a Bolívia, estudantes fecharam o Instituto Federal de Rondônia, que fica em Guadajá-Mirim.
No Tocantins, estudantes fecharam as entradas de duas universidades públicas, em Palmas. Outro grupo se reúne desde as 9h na frente da Câmara Legislativa.
Segundo a Seduc (Secretaria de Estado da Educação), 15 escolas públicas em Palmas suspenderam as aulas por conta dos protestos. Há registros de paralisação em escolas da rede estadual de ensino nos municípios de Araguaína, Araguatins e Gurupi, entretanto, o número não foi divulgado
As Polícias Militares dos estados citados informaram que não terão estimativas de público dos atos.
Em Brasília, dois jovens não identificados foram detidos pela PM e são suspeitos de terem lançado o rojão contra os policiais.
Durante a caminhada pela Esplanada, alguns manifestantes tentaram criar barricadas com cones de trânsito e estruturas de bloqueio de tráfego da PM. Ao passar em frente ao Ministério da Educação, professores e estudantes promoveram um ato simbólico levantando livros e os apontando em direção à sede do MEC. Há também mensagens contrárias à reforma da Previdência e em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba.
* Reportagem de Bernardo Barbosa, Luciana Quierati, Mirthyani Bezerra, Hanrrikson Andrade, Marina Lang, Aliny Gama, Vinicius Konchinski e Marcellus Madureira

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