O
primeiro-ministro britânico, David Cameron, garantiu esta sexta-feira
em Lisboa - onde esteve reunido com Pedro Passos Coelho - que o Reino
Unido está a preparar-se para receber "mais milhares" de refugiados
vindos da Síria, numa tentativa de enfrentar aquele que considerou o
maior desafio atual para os países europeus: a migração em massa. "A
Grã-Bretanha vai agir com a cabeça e com o coração", sublinhou Cameron,
citado pela agência Reuters, insistindo porém que o grande objetivo a
longo prazo é encontrar solução para o conflito sírio.
Na sua
declaração, à margem do encontro com Passos e sem direito a perguntas
dos jornalistas, Cameron destacou que o Reino Unido já recebeu cerca de
cinco mil sírios e introduziu um esquema específico de acolhimento, de
auxílio aos refugiados em risco. "Como disse no início da semana, iremos
aceitar mais milhares de refugiados dentro destes esquemas e iremos
revê-los em permanência. Dada a escala desta crise, hoje posso anunciar
que faremos mais, oferecendo acolhimento a mais milhares de refugiados
sírios. Continuaremos com a nossa abordagem de os retirar dos campos de
refugiados, o que lhes proporciona uma rota mais direta e segura para o
Reino Unido, em vez de arriscarem na perigosa viagem que tantas vidas,
traficamente, tem custado. Forneceremos mais detalhes na próxima
semana", garantiu.
Cameron disse ainda que está disposto a
continuar a trabalhar com os parceiros internacionais para minimizar os
efeitos do conflito na Síria, para oferecer apoio à região e perseguir
as máfias que traficam e exploram as pessoas. "Continuaremos a salvar
vidas no mar", acrescentou.
O primeiro-ministro britânico referiu
também que os navios do Reino Unido já salvaram 6700 pessoas do
Mediterrâneo mas o trabalho prosseguirá no sentido de encontrar a longo
prazo uma solução que termine com o "banho de sangue" em que mergulhou a
Síria, onde a população enfrenta dois grandes inimigos: o Estado
Islâmico e o presidente Assad. "A Grã-Bretanha tem a responsabilidade
moral de ajudar os refugiados, como temos feito ao longo da nossa
história", realçou.
Cameron, defendeu ainda a necessidade de
reformas na União Europeia (UE) para a tornar mais competitiva, com
menos "regulações desnecessárias" e mais soberania para os Estados
membros.
"As quatro
áreas em que queremos reformas são competitividade, soberania, segurança
social e governação económica", disse à imprensa em Lisboa, após um
encontro com o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho.
"No
centro desta negociação há uma questão simples: a UE é suficientemente
flexível para responder às diferentes preocupações dos seus 28 Estados
membros e para trabalhar em conjunto para ser mais competitiva? Penso
que a resposta é sim", disse.
Segundo o primeiro-ministro
britânico, na conversa com Passos Coelho ficou claro que os dois
governos estão de acordo em "muitas áreas".
"Por exemplo: que a UE
pode fazer muito mais para explorar o potencial do mercado único - nos
serviços, energia e setor digital - ou que haja menos regulações
desnecessárias ao nível europeu", disse, saudando que a atual Comissão
Europeia, presidida por Jean-Claude Juncker, esteja "a produzir menos
propostas legislativas".
"Também acreditamos ambos num papel mais
forte para os parlamentos nacionais", disse ainda, frisando que as
reformas que pretende beneficiarão "não apenas o Reino Unido e Portugal,
mas todos os países da UE".
Passos Coelho defende liberdade de circulação na UE
O
primeiro-ministro português, por seu lado, afirmou esperar que haja um
debate aberto sobre as propostas de reforma da União Europeia a
apresentar pelo Governo britânico, mas defendeu que é preciso
salvaguardar a liberdade de circulação de pessoas.
Pedro Passos Coelho falava depois da declaração do primeiro-ministro britânico, David Cameron.
"Estamos
convictos de que a pertença à União Europeia é profundamente vantajosa
para os nossos países e para os nossos cidadãos. Esperamos que, com base
num conjunto de propostas que o Reino Unido deverá, em breve,
apresentar, seja possível ter um debate aberto, que permita encontrar a
melhor forma de fazer as mudanças que são necessárias, para que todos
tiremos o melhor partido do projeto europeu e para que, em particular,
os cidadãos do Reino Unido reconheçam inequivocamente as suas
vantagens", afirmou Passos Coelho.
Em seguida, o chefe do
executivo PSD/CDS-PP defendeu que é preciso "encontrar soluções
consensuais que protejam os valores da União enquanto projeto humanista e
de paz, e que salvaguardem as liberdades fundamentais, incluindo a
circulação de pessoas", que apontou como "a base da União" e das
"sociedades modernas e abertas" dos seus Estados-membros.
"Estou certo
de que será possível trabalhar em conjunto para, como sempre no passado
da União, encontrar as respostas que nos sirvam a todos e que protejam
quer o Estado social britânico, quer os direitos dos milhares de
portugueses que, em tempos de dificuldades, encontraram, por exemplo,
emprego no Reino Unido, e assim contribuem também para o crescimento
económico do Reino Unido", acrescentou.
Segundo o
primeiro-ministro português, "a União Europeia entrou hoje num debate
político realizado em todos os países europeus" e tem de ser criada "uma
relação virtuosa entre o espaço nacional e o espaço europeu", que
assegure "melhores soluções para todos, dentro do que são os objetivos
fundadores da União Europeia".
David Cameron está a iniciar uma
segunda ronda de encontros para procurar apoios dos parceiros europeus
para a sua agenda de reforma da União Europeia, que implica alterações
aos tratados e inclui o reforço dos poderes dos parlamentos nacionais e a
redução da liberdade de circulação de pessoas. A intenção anunciada
pelo primeiro-ministro britânico é fechar estas negociações antes da
realização de um referendo interno sobre a permanência ou saída do Reino
Unido na União Europeia - um compromisso que assumiu na campanha para
as eleições britânicas de 7 de maio, que o seu partido venceu com
maioria absoluta de mandatos.
Na declaração que leu aos
jornalistas, Passos Coelho agradeceu a Cameron o interesse que
manifestou em deslocar-se a Portugal para debater as suas propostas e
concordou que é preciso "modernizar a União, as suas políticas e
instituições". O primeiro-ministro português apontou como desafios
atuais da União Europeia "o crescimento económico" e a "crise dos
refugiados". Depois, referiu que também tem propostas "para o
aprofundamento da União Económica e Monetária", que apresentou "antes do
verão" e que "deverão ser debatidas ao longo dos próximos meses".
Passos
Coelho considerou que os governos de Portugal e do Reino Unido
partilham "o interesse na promoção de uma agenda comercial ambiciosa" no
sentido de uma maior abertura económica. "Convergimos, portanto, na
necessidade de melhorias institucionais e políticas", acrescentou.
copiado http://www.dn.pt
Nenhum comentário:
Postar um comentário