Sócrates defende "urgente reforma democrática da União"
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Maria João Gala / Global Imagens
O
antigo primeiro-ministro escreve um artigo de opinião sobre os
resultados do referendo que ditaram a saída do Reino Unido da União
Europeia
José Sócrates defende, em artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias e na TSF
com o título "Desencantamento", uma "urgente reforma democrática da
União" na sequência da decisão manifestada pela maioria dos eleitores
britânicos de sair da União Europeia. O antigo primeiro-ministro retira
quatro lições deste referendo, cujo resultado foi, defende, "foi a
muitos títulos surpreendente".
Sócrates
considera que o argumento do medo, que muitos consideraram "impróprio",
foi "razoável", "já que não há nada de mais legítimo do que apelar à
recusa do que é desconhecido e imprevisível". No entanto, mostra-se
surpreendido por este argumento, " que nada tem de irracional, tenha
sido insuficiente para convencer os britânicos a ficar". Daí a primeira
lição: "O nível de insatisfação tinha de ser profundo para ainda assim,
sem sabermos o que vai acontecer a seguir, decidir partir".
O
antigo chefe de Governo fala depois do argumento da imigração, a seus
olhos "desprezível" e " indigno para um País com as tradições e as
responsabilidades dos britânicos". E recorda que " estes refugiados
poderão invocar que, em parte, as suas vidas foram destruídas por uma
guerra injustificável que o Reino Unido iniciou e na qual participou."
Para
Sócrates, "é preciso estar cego para não ver também nesta decisão
razões bem positivas e democráticas". "A recusa em ser governado por
aparelhos administrativos, que não só não são eleitos como não respondem
perante ninguém, devia convidar a Europa a debater seriamente o chamado
défice democrático das suas instituições", defende, considerando que
"não há nada mais autoritário do que o governo de ninguém". "A deriva
tecnocrática é a causa principal do desencantamento do projeto europeu",
conclui como segunda lição a tirar do referendo.
A
terceira lição tem a ver com a Alemanha, nomeadamente "a desconfiança
britânica em que por detrás deste governo de funcionários estivesse,
afinal, a Alemanha". Por isso, José Sócrates admite que "este é o
primeiro sinal de insubmissão à 'pax germânica' em construção".
José
Sócrates considera que "a convocatória do referendo foi uma aventura",
"a negociação entre a Europa e o governo de Cameron uma desgraça" e "a
defensiva campanha pela permanência no mínimo embaraçante" e defende que
agora é preciso construir em cima disto. "Porque a verdade é que tudo
pode acontecer - o melhor e o pior". O primeiro passo desse processo é
dos "líderes da saída", que precisam de dar uma resposta positiva ao que
propuseram", mas para Sócrates essa tarefa não será fácil e vai
requerer "muita imaginação para apresentar boas razões aos escoceses que
queiram, também eles, reclamar: 'we want our country back'".
"A
Europa tem uma dura tarefa pela frente", defende o ex-governante.
Responder com ressentimento e populismo é "irresponsável", considera. "A
única reação política à altura dos tempos é uma resposta enérgica e
urgente de reforma democrática da União", defende, como quarta lição
deste referendo. "Há momentos em que o que menos precisamos é dos
especialistas da "prudência" - o pior é nada fazer", conclui.
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