Reino Unido
Portugueses vítimas de ataques racistas após brexit
O número de incidentes racistas e xenófobos aumentou no Reino Unido nos últimos dias.
Cidadãos
estrangeiros, incluindo portugueses, foram vítimas de ataques racistas
no Reino Unido após o referendo que determinou a saída da União
Europeia, tendo as autoridades registado mais 57 por cento de queixas de
crimes de ódio desde sexta-feira.
Os
incidentes aconteceram em Londres, País de Gales ou Norfolk, disseram à
agência Lusa vários membros da comunidade portuguesa, que acrescentaram
que nem todos são divulgados por receio de reprovação ou represálias.
Em
Londres, Fátima Lourenço ainda está abalada com o que aconteceu na
passada sexta-feira, quando um grupo de jovens com idades entre os 18 e
os 20 anos lhe cuspiu na cara e agrediu na rua com uma bandeira inglesa.
"Houve
pessoas que reagiram, que lhes chamaram nomes e vieram pedir desculpa.
Eu não estava à espera, senti-me humilhada e tive de chorar para
desabafar", contou à Lusa.
O relato,
que começou por fazer nas redes sociais, atraiu críticas de
compatriotas, mas Fátima Lourenço, que faz trabalho doméstico e vive no
Reino Unido há 13 anos, explica que só o fez para partilhar a
experiência e para deixar o alerta para outros.
"Não acontece só a nós, o meu companheiro trabalha com polacos e eles também disseram que foram insultados", acrescentou.
Iolanda
Banu Viegas, conselheira das Comunidades Portuguesas em Wrexham, no
País de Gales, confirma bastantes situações semelhantes, nomeadamente de
comentários maldosos de colegas nos locais de trabalho ou de abuso
verbal junto a estabelecimentos portugueses naquela cidade.
"Só
num dia vi vários casos de pessoas a chegar perto e a gritar 'vão-se
embora'. São provocações", lamentou a portuguesa, que também trabalha
para uma agência galesa de combate à discriminação para incentivar as
pessoas a fazerem queixas formais.
Não
foi o que aconteceu com Cláudia Martins, motorista de autocarro em
Wrexham, que se sentiu hostilizada no posto de correios local, onde foi
pedir informação sobre o pedido de cartão de residência que o governo
português aconselhou a pedir.
"O senhor
olhou para mim, disse que não era ali que se fazia e riu-se para o
colega. Senti-me mal. Mas, como faço sempre o mesmo serviço de
autocarro, também tive pessoas a trazerem-me flores e chocolates e a
dizerem-me que fique", disse.
Em
Thetford, na região de Norfolk, na costa leste de Inglaterra, Joe
Barreto, fundador da organização sem fins lucrativos Simple, confirma
que ele próprio também foi vítima de um episódio de xenofobia.
"Um
carro parou junto à minha família, cuspiu-nos e insultou-nos. Fiz
queixa à polícia, mas muitos portugueses aqui não querem falar por medo
de represálias", revelou à Lusa.
Um
emigrante português descreveu que o chefe o agrediu fisicamente, mas que
nenhuma das testemunhas o defendeu e por isso não oficializou a queixa,
e outros têm sido alvo de abusos verbais.
"Já
há pessoas a prepararem-se para voltar para Portugal devido ao que
estão ao passar e com receio do que se avizinha", afirma Joe Barreto.
O
conselheiro das Comunidades Portuguesas António Cunha e o vereador de
Stockwell, no sul de Londres, Guilherme Rosa, confirmam ter
conhecimentos de mais casos na região da capital britânica, nomeadamente
através das redes sociais, nos dias após o referendo.
Porém, Cunha que vinca os portugueses não são alvo em particular deste tipo de incidentes e que não há "razão para alarme".
Nem
a Embaixada nem o Consulado portugueses de Londres receberam denúncias
oficiais de ataques a portugueses, e a polícia britânica também não
confirmou casos específicos nacionais.
Porém,
o site de denúncia de crimes de ódio (que incluem discriminação racial,
religiosa ou sexual) True Vision registou mais 57% de casos entre
quinta-feira e domingo relativamente ao mês anterior.
Mesmo
com a ressalva de que esta não é uma confirmação de um aumento deste
tipo de crimes, a polícia disse estar a "trabalhar em proximidade com as
comunidades para manter a unidade e tolerância e evitar qualquer tipo
de crime de ódio ou abuso na sequência do referendo" à permanência
britânica na UE.
No Parlamento, na
segunda-feira, o primeiro-ministro David Cameron qualificou as situações
relatadas na comunicação social britânica, nomeadamente contra polacos
Londres e perto de Cambridge, como desprezíveis e valorizou o contributo
dos estrangeiros para o país.
Mas
Fátima Lourenço confessa ter receio de ser novamente confrontada,
confiou à Lusa: "Vou continuar aqui, mas vou estar alerta. Adoro vestir a
camisola da seleção nos dias dos jogos [de futebol], mas agora vou
pensar duas vezes", admitiu.
COPIADO http://www.dn.pt/
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