Eleonora de Lucena: elite deu tiro no pé com o golpe
Editora da Folha entre 2000 e 2010, a jornalista Eleonora de Lucena publica um importante artigo nesta terça-feira, em que denuncia como as elites brasileiras foram míopes ao apoiar o golpe de 2016, que levou o vice Michel Temer ao poder provisório; "A elite brasileira está dando um tiro no pé. Embarca na canoa do retrocesso social, dá as mãos a grupos fossilizados de oligarquias regionais, submete-se a interesses externos, abandona qualquer esboço de projeto para o país", diz ela; "O impeachment trouxe a galope e sem filtro a velha pauta ultraconservadora e entreguista, perseguida nos anos FHC e derrotada nas últimas quatro eleições. Com instituições esfarrapadas, o Brasil está à beira do abismo. O empresariado parece não perceber que a destruição do país é prejudicial a ele mesmo"; ou seja: para destruir o PT, o Brasil decidiu se autodestruir
247 – Editora-executiva
da Folha de S. Paulo entre 2000 e 2010, a jornalista Eleonora de Lucena
publica um importante artigo nesta terça-feira, em que aponta como a
elite brasileira abraçou um projeto de autodestruição nacional e dela
própria, ao abraçar o golpe de 2016, rotulado por ela como um Escracho.
"A elite brasileira está
dando um tiro no pé. Embarca na canoa do retrocesso social, dá as mãos a
grupos fossilizados de oligarquias regionais, submete-se a interesses
externos, abandona qualquer esboço de projeto para o país", diz a
jornalista, fazendo a ressalva de que o golpe de 2016 não é o primeiro
exemplo de retrocesso patrocinado pela própria elite. "Não
é a primeira vez. No século 19, ficou atolada na escravidão, adiando
avanços. No século 20, tentou uma contrarrevolução, em 1932, para deter
Getúlio Vargas. Derrotada, percebeu mais tarde que havia ganho com as
políticas nacionais que impulsionaram a industrialização."
Lucena afirma que a
inclusão social fortalecida no governo Lula trouxe grande rentabilidade
para a elite, mas não ameaçou o rentismo – o que só veio a acontecer na
presidência de Dilma Rousseff. "Os
últimos anos de crescimento e ascensão social mostraram ser possível
ganhar quando os pobres entram em cena e o país flerta com o
desenvolvimento. Foram tempos de grande rentabilidade. A política de
juros altos, excrescência mundial, manteve as benesses do rentismo. Quando, em 2012, foi feito um ensaio tímido para mexer nisso, houve gritaria."
Ela afirma que, com o impechament, foi colocada em marcha uma agenda de retrocessos, que coloca o Brasil à beira do abismo. "O
impeachment trouxe a galope e sem filtro a velha pauta
ultraconservadora e entreguista, perseguida nos anos FHC e derrotada nas
últimas quatro eleições. Privatizações, cortes profundos em educação e
saúde, desmanche de conquistas trabalhistas, ataque a direitos", diz
ela. "O objetivo é elevar a
extração de mais valia, esmagar os pobres, derrubar empresas nacionais,
extinguir ideias de independência. Em suma, transferir riqueza da
sociedade para poucos, numa regressão fulminante. Previdência,
Petrobras, SUS, tudo é implodido com a conversa de que não há dinheiro.
Para os juros, contudo, sempre há."
"Com instituições
esfarrapadas, o Brasil está à beira do abismo. O empresariado parece não
perceber que a destruição do país é prejudicial a ele mesmo", lembra
ainda a jornalista.
Saída democrática passa necessariamente por Dilma
Os dados dos levantamentos dos instiutos Ipsos e Paraná Pesquisas são eloquentes e revelam que a única maneira de tentar consertar o estrago feito na democracia brasileira pelo golpe parlamentar de 2016 é rejeitar o impeachment, que levou ao poder o interino Michel Temer – segundo o Ipsos, ele deve continuar no poder apenas para 16% dos brasileiros; um passo seguinte seria a consulta popular sobre reforma política e novas eleições presidenciais; caso os senadores, no entanto, confirmem o impeachment, a democracia brasileira terá sido ferida de morte para sempre, pois uma presidente terá sido afastada sem crime de responsabilidade para que em seu lugar fosse mantido um vice em exercício extremamente impopular247 – Dentro de aproximadamente um mês, os senadores decidirão se matam de vez a democracia brasileira ou se buscam uma saída democrática para a crise atual.
Se a opinião pública puder servir como farol, uma única solução se mostra viável: rejeitar o impeachment, uma vez que a tese das pedaladas fiscais e dos créditos suplementares já foi completamente desmoralizada, desde que a presidente Dilma Rousseff se comprometa a consultar a população, por meio de um referendo, sobre novas eleições e reforma política.
É essa a saída que a população aponta por meio dos levantamentos dos institutos Ipsos e Paraná Pesquisas. De acordo com o Paraná Pesquisas, nada menos que 73,1% dos brasileiros defendem a saída imediata de Michel Temer (leia aqui). No Ipsos, só 16% querem que Temer continue, percentual menor do que os 20% que defendem que Dilma volte e conclua seu mandato.
Como a tese de novas eleições depende da volta de Dilma, ainda que temporária, é esse o compromisso que ela tem assumido com os senadores indecisos – volta, mas, em seguida, consulta a população sobre novas eleições. Nesse período de transição, a própria equipe econômica, capitaneada por Henrique Meirelles, na Fazenda, seria mantida.
Caso os senadores, no entanto, decidam manter Michel Temer no poder, entrarão para a história como coveiros da democracia. Terão afastado uma presidente que não cometeu crime de responsabilidade, numa farsa jurídica já decifrada pela opinião pública do Brasil e do mundo, para manter no poder um interino extremamente impopular. Ou seja: a saída democrática para o Brasil passa, necessariamente, pela volta de Dilma, para que ela, eleita, possa transmitir o cargo um sucessor também eleito.
copiado http://www.brasil247.com/
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