Temer x Padilha: como guilhotinar um amigo para o ‘N1’
Ontem, o colunista Jorge Bastos Moreno, com toda a sua expertise em Michel Temer perguntava porque Jorge Yunes desfila com a cabeça de Padilha pela Esplanada dos Ministérios e naquele seu jeito oblíquo de narrar,...
Ontem, o colunista Jorge Bastos Moreno, com toda a sua expertise em Michel Temer perguntava porque Jorge Yunes desfila com a cabeça de Padilha pela Esplanada dos Ministérios e naquele seu jeito oblíquo de narrar, dizia que Michel Temer era amado como um filho pelo amigo “mula”.
Hoje, na Folha, Monica Bergamo responde de forma mais direta à pergunta de Moreno:
Amigos e assessores do núcleo pessoal de Michel Temer elogiaram a iniciativa do empresário José Yunes de se antecipar às investigações e declarar que foi “mula” do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Eles acreditam que o presidente foi preservado e até salvo pela atitude.A informação de Yunes de que um “pacote” foi entregue em seu escritório pelo doleiro Lucio Funaro, operador de Eduardo Cunha, a pedido do ministro da Casa Civil explodiu como uma bomba e pode custar o cargo a Padilha.
“Essa história iria ser vazada de qualquer forma”, escreveu a Temer um de seus amigos e consultores. “Quando fosse revelada, o Zé [José Yunes] perderia o protagonismo da versão verdadeira e seria muito difícil as pessoas e a imprensa não desconfiarem que o destino do dinheiro não fosse outro senão o grupo do amigo N1 [o próprio Temer]”, segue o consultor.
Na opinião do mesmo amigo, Yunes acabou erguendo uma grade de proteção a Temer. “Foi melhor [Yunes] falar a verdade e jogar no colo do Padilha do que acabar caindo no seu colo e no colo do seu governo.” Yunes só teria falhado ao não deixar claro que fez o que fez para “não ficar na mão de pessoas investigadas” nem “sofrer pressão de pessoas encarceradas”.
“Essa história iria ser vazada de qualquer forma”, escreveu a Temer um de seus amigos e consultores. “Quando fosse revelada, o Zé [José Yunes] perderia o protagonismo da versão verdadeira e seria muito difícil as pessoas e a imprensa não desconfiarem que o destino do dinheiro não fosse outro senão o grupo do amigo N1 [o próprio Temer]”, segue o consultor.
Na opinião do mesmo amigo, Yunes acabou erguendo uma grade de proteção a Temer. “Foi melhor [Yunes] falar a verdade e jogar no colo do Padilha do que acabar caindo no seu colo e no colo do seu governo.” Yunes só teria falhado ao não deixar claro que fez o que fez para “não ficar na mão de pessoas investigadas” nem “sofrer pressão de pessoas encarceradas”.
Monica, gentilmente, deixa ao leitor a conclusão da autoria da “grade de proteção”.
Padilha, como se sabe, pediu licença para ser operado sábado.
Mas já tinha entrado na faca na quinta, quando o velho amigo de Temer cortou sua cabeça em praça pública.
Varejo presidencial é clima de fim de feira
Certamente não é por gosto que Michel Temer assumirá, pessoalmente, o troca-troca com a Câmara dos Deputados para a aprovação – “no que der” – da reforma da Previdência. Porque passar, tal como está,...
Certamente não é por gosto que Michel Temer assumirá, pessoalmente, o troca-troca com a Câmara dos Deputados para a aprovação – “no que der” – da reforma da Previdência. Porque passar, tal como está, nem mesmo nos seus delírios noturnos ele sabe ser impossível.
É absoluta e desastrosa necessidade.
A confirmação de que a licença médica de Eliseu Padilha se estenderá por até três semanas, dada por Sonia Racy, no Estadão– talvez a agonia política do quase ex-Ministro da Casa Civil não dure tanto – ratifica o que todos vêm percebendo: caíram ou foram para o canto do tabuleiro todas as peças em torno do Rei e ele passa a ter se defender com movimentos próprios, que são extremamente limitados quando se é Presidente da República.
Isso é uma regra básica que, aliás, Temer ignorou no seu famoso jantar no Palácio do Jaburu, quando pediu quantia certa e com destino (já não tão certo) ao empresário Marcelo Odebrecht , o que lhe rende os “pacotes” em que se vê embrulhado agora.
É que há distância entre intenção e gesto. Da intenção, no máximo, poderia tratar aquele homem que queria ser rei e se tornou, afinal, pela traição. O gesto fica para outra hora, nunca a mesma, e para seus auxiliares.
Mesmo que as moedas sonantes, agora, sejam “apenas” cargos e influências, igual não conviria que o próprio Presidente tivesse da tratar, nos seus detalhes, dos gestos da cooptação, sobretudo com uma clientela bem menos discreta que Marcelo Odebrecht.
Não conviria, mas não há outro jeito, porque aquilo que sobrou a Temer para usar como interposta pessoa é menos que nada, é contraproducente.
O que era possível quando tinha Cunha, Geddel e Padilha, o “Trio Parada Dura” para lidar com o baixo clero, não é possível fazer diretamente, ainda mais agora que há sinais cada vez mais evidentes de que a mídia parou de lhe dar encobrimento total, como na tardia “descoberta” da Globo de que o “Fora Temer” desfilou no Carnaval.
A ida de temer para o balcão é – e seus “clientes” nada bobos percebem – o clima de fim de feira de um governo que, com tudo na mão – da mídia à inflação – só conseguiu em seus dez meses de usurpação do poder degastar-se e sofrer baixas.
Há um clima de “não me deixem só” em Brasília.
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