AFP/Arquivos / Mauricio Lima(Arquivo) Setor de carnes em um supermercado de São Paulo
A Comissão Europeia pediu nesta segunda-feira ao Brasil que retire imediatamente da lista de estabelecimentos autorizados a exportar para a União Europeia os frigoríficos envolvidos no escândalo da carne estragada revelado pela "Operação Carne Fraca" da Polícia Federal.
"Pedimos ao Brasil que elimine de imediato todos os estabelecimentos envolvidos no escândalo da lista aprovada pela UE", informou aos jornalistas o porta-voz da Comissão Europeia, Enrico Brivio.
A UE também pediu ao Brasil que suspenda "a certificação desses estabelecimentos durante o processo de exclusão da lista", acrescentou o porta-voz do executivo comunitário.
De concreto, dos 21 frigoríficos envolvidos no escândalo da "Carne Fraca", quatro tinham permissão de exportar para os 28 países do bloco europeu.
A PF brasileira revelou na sexta-feira o esquema de pagamento de propinas desses frigoríficos a inspetores sanitários para autorizar a venda de alimentos não apropriados para o consumo.
Mais de 30 pessoas foram presas até o momento, três frigoríficos foram fechados temporariamente e 21 se encontram sob investigação. Entre os suspeitos, figuram empresas como JBS, BFR e Peccin, pesos pesados do setor do país, o primeiro exportador mundial de carne bovina e avícola.
Neste contexto, a operação "Carne Fraca" no Brasil aconteceu dias antes do início uma nova rodada de negociações entre a União Europeia e o Mercosul, que tem início nesta segunda-feira, em Buenos Aires.
Nesta segunda, o principal sindicato de agricultores europeus Copa-Cogeca também pediu que sejam garantidas as normas de segurança da União Europeia nas negociações em curso com os países do Mercosul, ao expressar sua preocupação com o escândalo da carne brasileira.
"A respeito das conversações comerciais com o Mercosul, enviamos uma carta à Comissão Europeia pedindo que sejam cumpridas nossas normas de segurança e que os países do Mercosul garantam o rastreio individual do gado", indica um comunicado do secretário-geral desta organização, Pekka Pesonen.
Para Pesonen, o bloco sul-americano não tem os mesmos padrões de segurança que a União Europeia, dando como exemplo "o caso do Brasil", e pediu a Bruxelas que alcance "acordos justos e equilibrados sobre a agricultura em qualquer acordo comercial" para não comprometer os padrões de segurança europeus.
A questão da carne é um dos temas sensíveis nas negociações entre o bloco europeu, por um lado, e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), do outro, para alcançar um acordo comercial cujas primeiras conversações remontam a 1999 e foram retomadas em 2010 depois de um intervalo de vários anos.
Alguns países da UE, entre eles a França, já expressaram suas reservas pelo impacto no setor agrícola deste acordo comercial.
As conversações na Argentina entre ambos os blocos, que já decidiram adiar as discussões sobre a carne até a realização das eleições presidenciais e legislativas na França (abril-junho), são cruciais para saber se um eventual acordo será alcançado até o final de 2017.
Em uma reunião de cúpula em 9 de março, os dirigentes colocaram as negociações com o Mercosul e com o México, assim como com o Japão, entre suas prioridades, em um momento de "ressurgimento de tendências protecionistas", segundo deixaram entrever em suas conclusões, em uma aparente referência à tendência do atual governo dos Estados Unidos.
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