Recapitalizar
os bancos, fragilizados pelo controlo de capitais, implementar o
memorando de entendimento acordado entre os credores internacionais e o
anterior executivo de Alexis Tsipras, com vista a um terceiro resgate de
87 mil milhões de euros, combater a corrupção e o desemprego e, ao
mesmo tempo, responder à crise dos migrantes e refugiados serão algumas
das tarefas que o novo executivo terá entre mãos.
1 - Os credores e o acordo sobre o terceiro resgate
Os
credores internacionais (FMI, BCE, Comissão Europeia e Mecanismo
Europeu de Estabilidade) vão estar atentos a estas eleições para saber
com quem vão ter de falar do acordo assinado pelo governo de Tsipras,
relativo a um terceiro resgate financeiro de 87 mil milhões de euros.
Com uma dívida da ordem dos 180% do PIB, a Grécia vai já no terceiro
resgate. Até ao acordo de agosto, aprovado no meio de polémica, já tinha
beneficiado de 240 mil milhões de euros.
2 - Uma banca com um estado de saúde bastante frágil
Ao acordar um 3.º
resgate, Tsipras deu razão ao ministro das Finanças alemão, Wolfgang
Schäuble, para quem os ajustamentos são a condição para permanecer no
euro. Por isso, quem quer que forme governo vai ter de enfrentar já em
outubro a primeira avaliação sobre o memorando. Dos 87 mil milhões de
euros, cerca de 25 mil milhões serão destinados à banca, que tem de ser
recapitalizada e sofreu muito com o controlo de capitais e três semanas
de bancos encerrados.
3 - Uma crise de migrantes e refugiados descontrolada
Estima-se
que tenham chegado à Grécia 250 mil migrantes e refugiados só neste
ano, ou seja, seis vezes mais do que o número registado em igual período
durante o ano passado. De ilhas gregas como por exemplo Kos ou Lesbos
chegam imagens de naufrágios que põem a mão na consciência da UE. A
Grécia foi empurrando o problema pelos Balcãs acima, Macedónia, Sérvia,
depois Hungria e Croácia... E por aí a fora. Atenas diz não ter
capacidade para responder ao flagelo.
4 - A força dos neonazis do Aurora Dourada
Quem
tem beneficiado do clima de medo causado pela vaga de refugiados e
migrantes tem sido o partido neonazi grego Aurora Dourada, que mais uma
vez deverá ser a terceira formação mais votada nas legislativas (como já
fora a 25 de janeiro). Além disso, o partido, que já teve o próprio
líder na cadeia, critica a subserviência do governo grego à UE. "Graças a
Merkel, o Aurora Dourada será o único vencedor destas eleições", disse
ao El Mundo o deputado Artemis Mattheòpoulos.
5 - O desafio de não espantar os turistas
Durante
o controlo de capitais imposto por altura do referendo de 5 de julho,
vários países da UE aconselharam os seus cidadãos a levar dinheiro vivo
para a Grécia. Não é um bicho-de-sete-cabeças, mas algo incómodo em
pleno século XIX. Em 2014, a Grécia recebeu um recorde de turistas: 22,5
milhões. E agora não deverá querer ver cair a fasquia. Porém, com o
aumento do IVA de 13% para 23% em alguns setores, fruto do acordo com os
credores, muitos temem que o setor do turismo venha a sofrer.
6 - Atrair investimento e implementar privatizações
Para
evitar o aumento da nova carga fiscal, muitas empresas gregas - há quem
fale em 15 mil - mudaram-se para a Bulgária. Apesar de um crescimento
de 0,9% no segundo trimestre do ano, o sentimento económico pode cair na
segunda metade do ano no país. Analistas ouvidos pela Bloomberg
calculam que o PIB contraia 1,4%. Tudo isto pode dificultar o aumento do
investimento. Além deste desafio, o novo governo terá de implementar o
plano de privatizações acordado com os credores.
7 - O flagelo do desemprego e da pobreza
Os últimos números
divulgados na quinta-feira revelam que a taxa de desemprego na Grécia
teve uma ligeira descida, de 26,6% para 24,6%. Também o desemprego jovem
desceu abaixo dos 50% e é agora de 49,5%. Mesmo assim não deixa de ser
um problema preocupante para quem quer que esteja no governo grego. A
juntar a isto, a pobreza. 30% da população do país vive no limiar da
pobreza e em muitas famílias a pensão dos reformados é o único sustento.
Daí a indignação de cada vez que se mexe nas pensões.
8 - Combate à corrupção
No
último debate televisivo, o líder da Nova Democracia, Vangelis
Meimarakis, e o líder do Syriza, Alexis Tsipras, trocaram argumentos
sobre quem mais fez contra a corrupção. O primeiro acusou o segundo de
não ter aprovado quaisquer leis para o efeito. Tsipras surgiu agora
fragilizado depois de vir a público que o seu "pai político", Alekos
Flambouraris, é dono da construtora que venceu em maio um contrato de
3,9 milhões de euros, quando era ministro.
9 - O tabu das despesas militares
Apesar
da grave crise que atravessa desde que pediu o primeiro resgate em
2010, a Grécia é um dos países da NATO que mais gastam em Defesa em
termos relativos: 2,5% do PIB. Na Grécia, o serviço militar é
obrigatório e as Forças Armadas contam com 190 mil militares ao serviço.
Tal como o governo anterior, também o de Alexis Tsipras evitou ao
máximo cortar nas despesas militares. Com o acordo sobre o terceiro
resgate lá aceitou introduzir cortes de 100 milhões este ano e de 400
milhões em 2016.
10 - A sempre difícil relação com a Turquia
Desde
a invasão da parte norte de Chipre pela Turquia, em 1974, a Grécia não
mais cessou de investir na sua Defesa. As relações entre os dois países
não tem sido fáceis. A Grécia é membro da UE tal como a ilha de Chipre, a
Turquia é país candidato à adesão e está a negociar com a UE. Em
janeiro, o ministro da Defesa de Tsipras e líder dos Gregos
Independentes, Panos Kammenos, provocou Ancara ao sobrevoar a ilha de
Imia, disputada entre turcos e gregos.
11 - O que fazer com a ligação à Rússia
A
seguir à sua eleição, o primeiro embaixador que Alexis Tsipras visitou
em Atenas foi o da Rússia. Andrei Maslof entregou--lhe uma carta do
presidente Vladimir Putin a congratulá-lo pela vitória. Em junho,
Tsipras foi a Moscovo, mas o país emergente em recessão pouco pôde fazer
pelo governo do líder do Syriza. Com laços religiosos fortes entre a
Rússia e a Grécia - ambos são cristãos ortodoxos - o novo executivo
também não vai querer virar as costas a Moscovo.
12 - Reparar a imagem na União EuropeiaNos últimos meses,
jornalistas, diplomatas, economistas, académicos e cidadãos em geral
habituaram--se a testemunhar os violentos embates entre a Grécia e o
resto da UE a cada reunião do Eurogrupo, a cada Conselho Europeu. O
clima melhorou - aparentemente - quando Yanis Varoufakis foi substituído
por Euclides Tsakalotos. Mas a imagem do país saiu danificada e cabe
agora ao governo que sair destas eleições a tarefa de tentar repará-la.
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