Manifestações,
condenações internacionais e políticas: nove dias depois de chegar ao
poder, Donald Trump enfrenta neste domingo uma avalanche de críticas,
após sua decisão de fechar as fronteiras a todos os refugiados e a
cidadãos de sete países de maioria muçulmana.
AFP / Joshua LOTT
Manifestantes exibem
cartazes no aeroporto internacional O'Hare, em Chicago, em protesto
contra a ordem executiva de Donald Trump que veta a entrada ao país de
cidadãos de sete países: Irã, Iraque, Síria, Somália, Sudão, Iêmen e
Líbia
Manifestações, condenações internacionais e políticas:
nove dias depois de chegar ao poder, Donald Trump enfrenta neste domingo
uma avalanche de críticas, após sua decisão de fechar as fronteiras a
todos os refugiados e a cidadãos de sete países de maioria muçulmana.
Milhares
de manifestantes se reuniram neste domingo para protestar contra a
medida em frente à Casa Branca, em Washington, em um parque com vista
para a Estátua da Liberdade, em Nova York, em Boston (nordeste) e em
outras cidades - e aeroportos - do país.
O presidente nada mais
fez que cumprir suas promessas de campanha, defendeu seu porta-voz, Sean
Spicer, em alusão à assinatura, durante toda a semana, de ordens
executivas sobre saúde, imigração clandestina, combate ao extremismo ou
petróleo.
Mas a decisão de Trump de fechar as fronteiras de forma
seletiva, apesar de não ser tão ampla quanto sua promessa de campanha de
proibir a entrada de todos os muçulmanos, provocou a maior reação desde
a sua posse.
O decreto, que entrou em vigor na sexta-feira,
proíbe o ingresso aos Estados Unidos durante 120 dias de todos os
refugiados, seja qual for a sua origem, e durante 90 dias a cidadãos de
sete países de maioria muçulmana: Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão,
Síria e Iêmen.
Consequentemente, 109 pessoas foram detidas desde a
sexta-feira em sua chegada aos Estados Unidos, embora tivessem vistos
válidos. Após a intervenção, neste sábado, de uma juíza federal de Nova
York, a maior parte deles foi autorizada a entrar em território
americano, mas a constitucionalidade do decreto ainda não foi
questionada.
Mas o decreto continua em vigor no resto do mundo e
as companhias aéreas se recusam a liberar para embarque os cidadãos dos
sete países atingidos pela medida, embora tenham visto regular.
Críticas políticas
Nos
Estados Unidos, a oposição democrata pediu a retirada do decreto
anti-imigração e denunciou seu caráter contrário aos valores americanos e
à sua ineficácia na luta contra a ameaça terrorista.
AFP / Brendan Smialowski
O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, em Washington D.C., no dia 25 de janeiro de 2017
Não fará mais que "estimular quem pretende nos prejudicar", advertiu o líder dos democratas no Senado, Chuck Shumer.
No
Partido Republicano, majoritário no Congresso, poucos legisladores se
expressaram espontaneamente para defender o presidente. Um punhado de
legisladores deste partido condenou total ou parcialmente o decreto de
Trump, entre eles os senadores conservadores John McCain e Lindsey
Graham.
"Infelizmente, tememos que este decreto nos enfraqueça na
luta contra o terrorismo", afirmaram os dois conservadores, que
advertiram, ainda, que os aliados de Washington na luta contra o grupo
Estado Islâmico, são muçulmanos, em sua maioria.
Para o legislador republicano Justin Amash, o decreto parece estar mais motivado por questões políticas do que de segurança.
"Se
a gente se preocupa com o radicalismo/terrorismo, por que não Arábia
Saudita, Paquistão e outros?", escreveu no Twitter, em alusão a países
não atingidos pelo decreto, mas de onde eram originários autores de
ataques em solo americano.
"Os tribunais julgarão se foi longe
demais", comentou com prudência, neste domingo, Mitch McConnell, líder
da maioria no Senado à rede ABC.
Será, de fato, na Justiça que o
destino do decreto será decidido. A sentença de urgência, determinada
pela juíza de Nova York somou-se a outros três que bloqueiam as
expulsões, embora nenhum faça referência à constitucionalidade ou não da
decisão presidencial.
"Isto acabará provavelmente no Supremo",
prevê Anthony Romero, diretor da poderosa União Americana de Liberdades
Civis (ACLU), à rede CNN.
A Casa Branca, por sua vez, defende que
se trata de um ato para "não deixar que se infiltre gente que pretende
nos prejudicar", afirmou o porta-voz Spicer.
O Executivo terá que
se defender também de uma acusação de discriminação religiosa. Após o
período de 120 dias, o decreto estipula que será dada prioridade aos
refugiados perseguidos em virtude de sua religião, uma frase que aponta
implicitamente a proteger os cristãos de Iraque e Síria.
O
presidente não deixou nenhuma dúvida a respeito desta preferência. "Os
cristãos do Oriente Médio têm sido executados em massa. Não podemos
permitir que esse horror se perpetue!", escreveu, este domingo, no
Twitter.
Indignação internacional
Até
agora, o Irã é um dos países mais atingidos pela grande quantidade de
iranianos que têm vistos de trabalho ou de estudo nos Estados Unidos. Em
resposta, Teerã instaurou medidas similares contra os cidadãos
americanos.
Enquanto isso, as ondas de indignação atravessam o
mundo muçulmano e a Liga Árabe denunciou neste domingo como "restrições
injustificadas" as proibições impostas por Trump.
Na Europa, o
presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela
Merkel, somaram-se às críticas. segundo um porta-voz, Merkel explicou ao
presidente Trump as obrigações determinadas pela Convenção de Genebra
sobre a acolhida de refugiados, em sua conversa telefônica este sábado.
Bem-vindos ao Canadá
O
Canadá, por sua vez, anunciou ter recebido garantias de Washington de
que os cidadãos canadenses que tiverem dupla nacionalidade dos países
incluídos no decreto não serão afetados pela proibição, informou o
gabinete do premiê Justin Trudeau.
Neste domingo, um grupo de
líderes da comunidade tecnológica canadense pediu ao governo em carta
intitulada "A diversidade faz a nossa força" que conceda vistos de
residência temporária às pessoas afetadas pelo decreto de Trump.
"Estamos
todos afetados", escrevem mais de 150 membros da comunidade de empresas
tecnológicas canadenses na carta aberta, apontando que o decreto
assinado por Trump "já afetou vários membros de (sua) comunidade".
"As
empresas tecnológicas canadenses são conscientes da potência da
inclusão e da diversidade das correntes de pensamento e de que os
talentos e as competências não conhecem fronteiras", escreveram os
signatários, entre os quais estão dirigentes de Google, Facebook e
incubadoras tecnológicas.
Neste sentido, pede que Ottawa adore um
visto específico que permita às pessoas afetadas e deslocadas pelo
decreto americano obter visto de residência temporária no Canadá.
À
noite, o ministro canadense da Imigração, Ahmed Hussen, informou, em
coletiva de imprensa, que o governo concederá residência temporária às
pessoas que ficaram bloqueadas no país por causa do decreto de Trump.
No
sábado, o premiê, Justin Trudeau, já havia reagido à medida adotada
pelo país vizinho com um tuíte amplamente compartilhado, em que deu
destaque à política de acolhida canadense.
"Aos que fogem da
perseguição, do terror e da guerra, saibam que o Canadá os receberá
independentemente da sua fé. A diversidade faz a nossa força
#BienvenueAuCanada [bem-vindo ao Canadá])", escreveu Trudeau.
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