A guerra é maior do que parece
Quem são e como agem as cerca de 80 facções que espalham o terror
A guerra é maior do que parece
Quem são e como agem as cerca de 80 facções criminosas que se fortalecem em todo o País, controlam rotas do tráfico dentro de estados e ameaçam autoridades e órgãos públicos
Dados obtidos a partir do cruzamento de informações dos serviços de inteligência da Polícia Federal e das secretarias de segurança pública apontam que o Brasil tem atualmente cerca de 80 facções criminosas que atuam dentro e fora dos presídios. As primeiras surgiram em São Paulo e no Rio de Janeiro, com membros dissidentes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). Hoje, porém, muitas outras nasceram para atuar como sócias minoritárias que controlam o tráfico em diversos estados, distribuem as drogas e, na esteira das maiores, podem se tornar grandes potências do crime. Além disso, o próprio sistema prisional favorece a multiplicação das organizações criminosas. “A primeira pergunta dos agentes penitenciários é a qual facção o detento pertence”, diz Luciano Taques Ghignone, promotor de Justiça do Ministério Público da Bahia. “Se não existe filiação, ele é encaminhado para a ala da cadeia na qual estão membros do grupo predominante no bairro em que vivia, e assim será facilmente cooptado.”
Os grupos criminosos se multiplicam no Norte e no Nordeste e distribuem para os estados as drogas que vem da fronteira com o Peru
Desde que adotou a estratégia de se expandir para outros estados, o Primeiro Comando da Capital deixou pelo caminho opositores que não estavam dispostos a seguir ordens dos líderes Cesinha e Marcola em São Paulo. Surgiram, então, grupos como Terceiro Comando da Capital, Seita Satânica e Comando Democrático da Liberdade, que tentam até hoje enfrentar a hegemonia do PCC. Já no Amazonas, a FDN, que conta com o apoio do Comando Vermelho, conseguiu um poder de barganha importante na disputa pelas rotas do tráfico. Eles controlam o caminho que possibilita a entrada de drogas pelo norte do País, na fronteira com o Peru. “O PCC tem o domínio da rota do sul, agora eles querem controlar a rota do norte”, diz Márcio Sérgio Christino, procurador de Justiça. “É assim que as facções regionais se multiplicam, com a tomada de bocas e regiões que pertencem a grupos rivais.”
Opositores do PCC
Nas regiões em que não há hegemonia do PCC, facções menores encontram facilidade para se organizar – o Norte e Nordeste são as que mais sofrem com a multiplicação. As autoridades de segurança não conseguem reprimir a atuação das facções. “Esse modelo leva ao aumento da criminalidade e, com o descontrole nos presídios, tudo indica que o quadro deva se agravar”, diz Edison Brandão, desembargador e presidente da Comissão de Segurança do Tribunal de Justiça de São Paulo.
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