14 polegadas
Em 1994 eu viajava pelo interior do Nordeste para fazer várias reportagens sobre a seca que afligia o Ceará, Pernambuco, Bahia etc. Passei, com o colega encarregado dos textos, quase dois meses rodando lugares os mais recônditos e modestos do sertão.
Um belo dia, já no finzinho da tarde, deparamos com uma cena inusitada, perto de Quixeramobim. É claro que parei para fazer s foto, essa aí, pois era evidente que em breve a cena seria referência para comparação da evolução da sociedade através do tempo.
Os humildes moradores do pequeno vilarejo de dez ou quinze casebres se cotizaram para comprar um único televisor, comum a todos. A tevêzinha era guardada a chave de cadeado numa casinhola de ferro colocada sobre um pedestal, tal e qual um altar. Era, talvez, a peça mais moderna que havia ali.
Sentados em bancos de madeira caprichosamente colocados à frente da tevê de catorze polegadas homens, mulheres e crianças podiam acompanhar, em cores, as novelas e ver as notícias nos telejornais, o que rolava mundo a fora.
Estou sempre viajando pelos interiores, mas a esse vilarejo precisamente nunca mais voltei. Pergunto: hoje, passados vinte e três anos, — na era do telefone celular, da Internet rápida e, enfim, da comunicação digital — será que cenas como essa ainda existem no chamado Brasil profundo? É muito provável que não. É possível que agora o nosso singelo povoado perto de Quixeramobim faça parte de uma reveladora estatística: 97 por cento dos lares agora brasileiros possuem uma tevê.
Aliás, segundo pesquisas realizadas pelo IBGE-Instituto Brasileiro de Estatística, o número de aparelhos de televisão e geladeiras suplantou a quantidade de rádios.
Orlando Brito
copiado https://osdivergentes.com.br/
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