João de Deus é alvo de outros 8 inquéritos sobre abuso sexual, diz delegado
Polícia fez novas buscas em imóveis de médium e achou pedras preciosas, dinheiro e cofre vazio
O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes de Almeida, disse nesta sexta-feira (21) que o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, é alvo de outros oito inquéritos policiais que investigam supostos abusos sexuais.
Os crimes teriam sido praticados durante atendimentos individualizados e em locais restritos na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, a cerca de 90 quilômetros de Goiânia.
O médium, que já está preso, recebeu nova ordem de prisão preventiva por posse irregular de arma de fogo e posse de arma com identificação adulterada.
No cumprimento de cinco mandados de busca e apreensão cumpridos nesta sexta-feira (21), três deles em residências de João de Deus, em Abadiânia, a polícia encontrou pedras preciosas, supostamente esmeraldas, e uma mala de dinheiro em espécie, cujo valor total ainda não foi divulgado.
Em um dos endereços, os investigadores encontraram um cofre vazio dentro de um porão, cujo acesso era feito por uma porta no fundo de um guarda-roupa.
O novo montante deve ser somado a outros cerca de R$ 400 mil apreendidos na última quarta-feira (19) em uma das casas do médium junto a cinco armas de fogo.
A decisão que determinou os mandados de busca e apreensão foi assinada nesta quinta-feira (20) pelo juiz Liciomar Fernandes da Silva, da comarca de Abadiânia. Foi ele quem decretou a prisão preventiva do médium pela prática de posse irregular de arma de fogo e posse de arma com identificação adulterada.
Na decisão, o magistrado considerou que, “ao que tudo indica, João de Deus chefia uma organização criminosa que atua principalmente na cidade de Abadiânia”, como sustentaram a polícia e o Ministério Público Estadual de Goiás.
As investigações em andamento, segundo o delegado-geral, devem seguir a mesma linha do primeiro inquérito concluído e remetido nesta quinta-feira (20) ao judiciário, indiciando João de Deus por violação sexual mediante fraude.
De acordo com Almeida, esse inquérito é que sustentou o pedido de prisão preventiva do médium por crime contra a liberdade sexual. Ele está preso preventivamente desde o último domingo (16), conforme publicou com exclusividade a colunista Mônica Bergamo, da Folha.
Segundo o delegado-geral, outros seis casos de vítimas que já foram ouvidas formalmente pela Polícia Civil estão em andamento, mas ainda não tiveram inquéritos instaurados. “Estamos instaurando inquérito desde que haja fundada suspeita, que é a viabilidade do que está sendo acusado. Temos um caso que há descrição perfeita, mas falta a menção da pessoa que fala. É necessário que a pessoa que utiliza o 197 deixe uma forma de ser localizada. Não adianta ter o inquérito se não houver a vítima para dar sustentação à suspeita”, afirmou.
A Polícia Civil não descarta a possibilidade de João de Deus ser indiciado futuramente por estupro.“Se em algum momento João de Deus segurou a vítima ou disse à vítima que se ela não permitisse a prática algo mau, ruim, aconteceria, estamos falando de estupro. Se ele segurou a vítima e a pressionou para permanecer no lugar, tem violência. Para existir estupro, tem que existir violência ou grave ameaça”, disse a delegada Ana Elisa Gomes Martins, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Goiânia.
No total, oito delegados e mais de 50 agentes estão trabalhando na força-tarefa da Polícia Civil. Não há pedido de interdição da Casa Dom Inácio de Loyola protocolado na Justiça. A delegada Marcela Orçai, porta-voz da corporação, disse que, na hipótese de haver essa solicitação futuramente, é preciso comprovação de que “o local não atende à função social”.
Em geral, de acordo com a polícia, as vítimas são mulheres de 20 a 40 anos de idade que procuraram a Casa Dom Inácio de Loyola por algum problema pessoal. “A maioria de saúde ou, às vezes, pela impossibilidade de gravidez ou doença grave. Isso causa uma vulnerabilidade muito grande”, disse o delegado-geral.“
Todos os casos têm importância e todos os casos terão peso no julgamento pelo Poder Judiciário. Estamos preocupados com encorajamento das vítimas para elas trazerem os detalhes.”
Em nota, o advogado Alberto Zacharias Toron, que representa João de Deus, disse ser “deplorável” que profissionais da imprensa tenham acesso à decisão que decretou a nova prisão preventiva e busca e apreensão, ao contrário dos advogados do médium.
Segundo a nota, “a decretação da nova prisão preventiva, além de desnecessária, pois o investigado já está preso, se mostra inidônea porque calcada no desejo de calar o clamor público contra a impunidade”.
O texto afirma que a jurisprudência dos tribunais brasileiros é pacífica no sentido de que a prisão preventiva não se presta a punir sem processo e sem defesa. “Prisão preventiva serve para tutelar os interesses cautelares do processo, coisa que não se demonstrou”, disse.
A nova busca e apreensão, de acordo com a nota, foi determinada com base em denúncia anônima e foi genérica, o que, conforme emenda o texto, é inadmissível. “Não se lavrou auto de apreensão no local, como manda a lei. Portanto, a diligência é írrita.”
Por telefone, o advogado disse desconhecer a existência de novos inquéritos contra João de Deus.
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