Denúncia
Informação consta de investigação em posse do Ministério Público Estadual de SP
Anuência
Profissionais sabiam da origem do dinheiro
PUBLICADO EM 11/12/16 - 03h00SÃO PAULO.
O Primeiro Comando da Capital (PCC) mantinha um “plano de
saúde” para os integrantes da sua cúpula ao custo de R$ 400 mil por mês,
com direito a tratamentos e cirurgias com médicos especializados e até a
massagistas. As informações integram a denúncia oferecida pelo
Ministério Público Estadual de São Paulo (MPE) à Justiça contra 40
advogados ligados à organização e 14 detentos do grupo por crimes de
associação criminosa armada e corrupção, que podem levar a 20 anos de
prisão.
A denúncia de 690 páginas, obtida pelo jornal “Estado de São Paulo”,
esmiúça o funcionamento da chamada célula R, aperfeiçoamento da antiga
“sintonia dos gravatas”, advogados que representavam integrantes da
facção. Trocas de mensagens com organogramas e pagamentos foram
interceptadas. Segundo o MPE, as funções do grupo deixaram de ser
exclusivamente jurídicas e passaram a funcionar como elo de comunicação
das atividades criminosas entre os líderes presos e os que estão em
liberdade.
Os profissionais passaram também a organizar e custear serviços médicos
prestados aos presos integrantes da cúpula. “É certo que o pagamento
(...) é feito com recursos de origem ilícita da própria organização,
obtidos com o lucro do narcotráfico e demais crimes afins”, diz o
documento.
A investigação mostrou que a facção chegou a financiar cerca de 100
cirurgias em 2015 a membros do grupo, um procedimento a cada três dias;
os custos chegavam a R$ 400 mil por mês e incluíam exames particulares
de especialistas como fisioterapeutas, dentistas, dermatologistas e até
massagistas. O atendimento ocorria prioritariamente a detentos da
Penitenciária de Presidente Venceslau 2 e da unidade de Presidente
Bernardes, onde cumprem pena os líderes do PCC.
“São benefícios que só quem tem plano de saúde, um bom plano, pode
usufruir”, disse o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo Especial de Atuação
de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), de Presidente Prudente. Os
investigadores suspeitam que os procedimentos tenham sido
superfaturados, com a cobrança do triplo do valor de mercado para
consultas, por exemplo.
Suspeita
Lavagem de dinheiro. As cirurgias, autorizadas pela Justiça, não
tiveram nota fiscal emitida e há a suspeita de que a facção estivesse
também lavando dinheiro por meio dos atendimentos.
Anuência
Profissionais sabiam da origem do dinheiro
SÃO PAULO. Para o Ministério Público, os profissionais denunciados passaram a integrar o “quadro jurídico” do PCC e contribuíram e concorreram direta ou indiretamente “para o projeto de poder e esquema da maior organização criminosa do País”.A investigação apontou que os profissionais tinham “plena consciência de que o dinheiro que movimentavam era oriundo do setor do ‘progresso’ (tráfico de drogas), da ‘cebola’ (mensalidade paga pelos integrantes) e das rifas” e usavam escritórios de fachada, que serviam “como ponto de apoio da organização”.
Entre os denunciados da cúpula da facção está Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, atualmente na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. “Desde 2006, depois dos ataques, ele nunca mais deixou de liderar a facção criminosa”, disse o promotor Lincoln Gakiya.
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