Brasil Temer toma posse, Dilma promete luta e Aécio fica zangado


Michel Temer, prestou depois juramento sobre a Constituição
País entra numa nova era, com direita no poder e a esquerda relegada à oposição. "Corruptos e derrotados", acusa a ex-presidente.
Às 18.13, horário de Lisboa, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), tornou-se ex-presidente do Brasil e Michel Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), assumiu a chefia da sétima economia mundial. Ricardo Lewandowski, o juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) que presidiu ao julgamento final de Dilma, acabara de assinar a sentença que a destituiu pelo voto de 61 contra 20 senadores, mais sete do que os necessários, alçando ao poder o seu ex-vice-presidente. Duas horas depois, Temer tomou posse perante centenas de parlamentares e convidados, tornando-se o sétimo presidente brasileiro desde a redemocratização do país.
Exatamente um ano depois de três juristas terem protocolado o pedido de impeachment de Dilma, a 1 de setembro de 2015, começa hoje uma nova era no país - Temer, com perfil de centro-direita, sucede a 13 anos de presidentes militantes do PT, de centro-esquerda, primeiro com oito anos de gestão de Lula e depois com cinco anos sob administração de Dilma. Após breve discurso difundido já de madrugada em Portugal, o novo chefe do Estado devia viajar para a reunião do G20, em Pequim.
Menos de uma hora antes da posse do sucessor, Dilma, que tem 30 dias para deixar vago o Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência, falou rodeada de apoiantes que cantavam "Dilma guerreira da pátria brasileira", num discurso mais duro do que o usado no Senado, na segunda-feira, e no qual citou o poeta russo Vladimir Maiakovski e o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro. "Saio sem ter cometido nenhum crime, condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar, políticos que querem escapar da justiça uniram o braço a derrotados nas urnas", acusou. "Apropriam-se do poder por meio de golpe de Estado, o segundo que enfrento na vida, foi uma farsa jurídica que me derruba do cargo para que fui eleita, ou seja, 61 senadores votaram contra 54 milhões de brasileiros numa eleição indireta", prosseguiu.
Para Dilma, "no poder está um grupo de corruptos investigados, levados por uma imprensa facciosa, com uma agenda conservadora e reacionária, o golpe não foi cometido apenas contra mim, foi apenas o começo de um golpe contra os movimentos sociais e sindicais, o golpe é homofóbico, o golpe é racista". E concluiu: "Não desistam da luta, eles pensam que nos venceram mas estão enganados, haverá contra eles a mais firme e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer, não gostaria de estar no lugar dos que se sentem vencedores, a história será implacável com eles."
Aécio perplexo
Se a votação do impeachment não trouxe nada de novo, a não ser que todos os indecisos acabaram por votar contra Dilma, a divisão em duas votações da pergunta colocada à consideração aos senadores causou a grande surpresa do dia e o primeiro conflito aberto entre o PMDB de Temer e o Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB), o seu maior aliado.
Aécio Neves, líder do PSDB que perdeu para Dilma nas eleições de 2014, revelou-se "perplexo" com a divisão. Em causa, um pedido de senadores petistas, aceite por Lewandowski, que permitia que, mesmo destituída, a agora ex-presidente possa ocupar cargos na função pública - situação que foi vedada, por exemplo, a Collor de Mello, que perdeu o mandato em 1992 em situação análoga. Parte do PMDB, incluindo o presidente do Senado, Renan Calheiros, e até colaboradores próximos de Temer votaram a favor do pedido do PT. "Ao fazê-lo, o Senado não cumpriu a Constituição, vamo-nos queixar ao STF e espero que o PMDB assine a queixa", ameaçou Aécio, na primeira crise institucional com Temer. Off the record, dirigentes tucanos sugeriram romper aliança com os peemedebistas.
Ao ser-lhe permitido exercer cargos na função pública, Dilma pode, por exemplo, ser professora de universidades públicas, um dos seus objetivos.
A destituição de Dilma ocorre no último dia de agosto, considerado num dos países mais místicos do globo, um mês de "desgosto". Foi também em agosto, mas de 1954, que Getúlio Vargas, um dos mais marcantes presidentes do Brasil, se suicidou na madrugada de 23 para 24, no seu quarto no Palácio do Catete. Ainda no mês que no Brasil representa o auge do inverno, o chefe do Estado Jânio Quadros renunciou inesperadamente ao cargo a 25 de agosto de 1961. Finalmente, na noite de 22 de agosto de 1976, morreu outro presidente histórico, Juscelino Kubitschek, num acidente de viação ao volante de um Chevrolet.
Mercado sossegado
No mercado financeiro, o preço do dólar não teve alterações dramáticas ao longo do dia de ontem. Pelo contrário, a moeda norte-americana subiu e desceu, registando-se a principal queda 15 minutos após Ricardo Lewandowski lavrar a sentença que derrubou Dilma e alçou Temer à presidência.
À hora da tomada de posse, o dólar valia 3,224 reais, apenas menos 0,19% do que na terça-feira. Os investidores aguardavam a definição da reunião, ontem de madrugada, que determinou a taxa de juros e trabalhavam em cima do resultado negativo do PIB, que caiu mais do que o esperado no segundo trimestre. Também a Bovespa, bolsa de valores de São Paulo, operava em baixa, horas depois do impeachment de Dilma ter sido aprovado por 61 votos a 20, chegando a cair 1,83%.
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