Rajoy vai hoje a votos. PSOE fala num "burocrata cansado" São nítidas as divisões entre os socialistas. Há quem diga que o Comité Federal deve ser convocado para viabilizar o líder do PP e quem defenda que Sánchez deve tentar alternativa



São nítidas as divisões entre os socialistas. Há quem diga que o Comité Federal deve ser convocado para viabilizar o líder do PP e quem defenda que Sánchez deve tentar alternativa

Mariano Rajoy apresentou-se ontem perante o Parlamento para o debate de investidura
São nítidas as divisões entre os socialistas. Há quem diga que o Comité Federal deve ser convocado para viabilizar o líder do PP e quem defenda que Sánchez deve tentar alternativa
Hoje há primeira votação e tudo indica que a investidura de Mariano Rajoy irá falhar. O líder do Partido Popular (PP) precisa de 176 votos favoráveis para conseguir a maioria absoluta, mas os apoios que tem garantidos não chegam. Somando os 137 deputados do PP, os 32 do Ciudadanos e o único representante da Coligação Canária o total dá apenas 170. Só uma surpresa fará com que a matemática seja diferente.
Depois de Rajoy ter ontem explicado aos deputados as traves mestras do seu programa de governo - num discurso que durou cerca de uma hora e meia e no qual não fez qualquer apelo ao PSOE -, os trabalhos são retomados hoje às 09.00 de Madrid (08.00 em Lisboa). O primeiro a falar será Pedro Sánchez, secretário-geral dos socialistas. A partir daí seguem-se os porta-vozes das restantes forças políticas, por ordem decrescente do número de deputados. Cada orador terá 30 minutos à sua disposição e Rajoy poderá optar por responder um a um ou por uma réplica conjunta no final.
Está previsto que a votação comece entre as 16.00 e as 17.00 de Lisboa. Os deputados, por ordem alfabética e começando numa letra escolhida por sorteio, serão chamados para revelar o voto. Não havendo investidura, a nova votação terá lugar na sexta-feira. Aí já não é necessário maioria absoluta. Bastará ao líder do PP reunir mais sins do que nãos e a aritmética política torna-se mais complicada.
Caso não consiga os seis votos que lhe faltam, Rajoy precisa pelo menos de 11 abstenções. Pedro Sánchez já garantiu que o seu grupo parlamentar continuará a dizer que não. Tal como explica o El País, a única hipótese de sucesso seria - como aconteceu para a eleição da Mesa do Congresso - Rajoy encontrar respaldo nos cinco deputados do Partido Nacionalista Basco e nos oito do Partido Democrata da Catalunha. Mas, como sublinha o diário espanhol, o pacto assinado entre Rajoy e Albert Rivera do Ciudadanos - que reforça o compromisso pela integridade territorial espanhola - "parece impossível de assumir" por estas forças políticas independentistas.
A menos que algo mude de repente tudo deverá continuar na mesma e o mais provável é que Rajoy volte a chumbar na sexta-feira.
A partir daí arranca uma contagem decrescente de dois meses. Se até 31 de outubro ninguém conseguir formar governo, Felipe VI será obrigado a convocar novas eleições, as terceiras em menos de um ano. Aplicando os prazos constitucionais, os espanhóis voltarão às urnas a 25 de dezembro, dia de Natal.
No entanto, entre o hipotético falhanço da investidura de Rajoy e o fim da contagem decrescente, muita água pode correr debaixo da ponte e outras investiduras podem ser tentadas. Num primeiro momento, Felipe VI deverá voltar a ouvir os partidos e convidará para tentar formar governo o líder que lhe der mais garantias de conseguir reunir os apoios necessários. Rajoy não rejeita uma segunda tentativa e nas próximas semanas é possível que o cenário político sofra uma mudança. Por um lado, a 25 de setembro haverá eleições regionais na Galiza e no País Basco. O resultado do sufrágio poderá alterar as regras do jogo de alianças. Por outro lado, são cada vez mais audíveis as vozes dentro do PSOE que pedem uma nova reunião do Comité Federal para repensar a estratégia do partido. É o caso dos ex-chefes de governo José Luis Rodríguez Zapatero e Felipe González. Além dos ex-líderes, vários barões socialistas defendem que o não a Rajoy não deve ser eterno e que uma eventual abstenção do partido não significaria um apoio ao PP.
Também não está descartada a possibilidade de o secretário-geral dos socialistas tentar reunir apoios para ser investido. "Sánchez necessita do fracasso de Rajoy como oxigénio para emergir como candidato alternativo. Na segunda-feira abriu claramente essa porta. Não é descartável em absoluto que tente formar governo com o Podemos e com uma amálgama de partidos separatistas", escrevia ontem, em editorial, o ABC. Para o mesmo jornal, Sánchez está a guardar trunfos para tentar chefiar o governo com o apoio de Pablo Iglesias (Podemos) "e com quem aceite juntar-se a um cordão sanitário anti-PP, Ciudadanos incluído".
Segundo o La Vanguardia, as divisões dentro do PSOE são nítidas: "Uns veriam com bons olhos que Sánchez tentasse formar governo com o Podemos e outras forças políticas e outros preferem dar o braço a torcer perante o PP com uma abstenção técnica depois das eleições bascas e galegas".
Ontem, Rajoy, além de ter feito um balanço do mandato recorrendo a indicadores económicos, pediu a confiança do Parlamento. "Espanha necessita de um governo forte e estou aqui porque assim quiseram os espanhóis. A menos que alguém expresse o contrário, suponho que todos desejamos evitar novas eleições", sublinhou o líder do PP, tentando colocar pressão sobre os outros partidos. Para o El País foi um discurso "sem a alma e a transcendência de um debate de investidura". Antonio Hernando, porta-voz do PSOE, sentenciou que se tratou de uma intervenção de um "burocrata cansado" e que Rajoy não deu aos socialistas qualquer razão que justifique um voto de confiança.

 

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