Brizola e o julgamento de Dilma, por Marceu Vieira
Marceu Vieira, que não foge dos delírios dos quais este blogueiro
escapa sempre, foi “ouvir” de novo Leonel Brizola, desta vez sobre o
julgamento de Dilma Rousseff. O resultado é sempre o que dá...
Marceu Vieira, que não foge dos delírios dos quais este blogueiro escapa sempre, foi “ouvir” de novo Leonel Brizola, desta vez sobre o julgamento de Dilma Rousseff. O resultado é sempre o que dá a delicadeza e a memória de Marceu do pensamento de Brizola…
Brizola volta a falar do calvário
Brizola e o julgamento de Dilma, por Marceu Vieira
Marceu Vieira, que não foge dos delírios dos quais este blogueiro escapa sempre, foi “ouvir” de novo Leonel Brizola, desta vez sobre o julgamento de Dilma Rousseff. O resultado é sempre o que dá a delicadeza e a memória de Marceu do pensamento de Brizola…
Brizola volta a falar do calvário
de Dilma e do impeachment
Marceu Vieira, em seu blog
Ao assistir à inquisição de Dilma no
Senado, o cronista digital teve uma nova alucinação e revisitou o baú de
lembranças do seu tempo de repórter político. Mais uma vez, surgiu
diante dele a memória de Leonel Brizola, e o cronista arrancou do velho
trabalhista gaúcho o que ele pensa do martírio e da paixão da presidente
em sua crucificação no tribunal do Senado.
Governador, o senhor ainda acredita na possibilidade de absolvição da Dilma?
Veja, Morfeu.
É Marceu, governador.
Tu me desculpes. Tu sabes desta minha
confusão renitente com teu nome. Mas veja, Alceu. A rigor, se isto
ocorrer, será uma imensa surpresa. Realmente, uma imensa surpresa. Um
velho ditado no Sul diz que não se apeia do cavalo enquanto o fim da
estrada não chega. Mas o fim da estrada está próximo, independentemente
do desfecho que tiver. Eu te digo isso com um sentimento de desgosto
muito grande! Muito grande, realmente. Estes senadores de gravatas
modernas, não é verdade?, esses que aí estão a julgar a presidente,
eles, sim, vão merecer um julgamento. Um julgamento exemplar e ainda
mais severo que este que impõem agora à presidente legitimamente eleita.
Será o julgamento da História! A História, tu sabes, é cruel em seus
julgamentos. Eu mesmo tenho aqui as minhas dificuldades em explicar
certas situações em que estive.
Que situações, governador?
A rigor, poucas, bem poucas. Mas sei que ainda hoje me julgam, compreende?
Por exemplo…
Julgam o velho Brizola pelo seu papel no episódio do impeachment do presidente Collor, por exemplo.
O senhor apoiou Collor naquele momento de crise. Sente-se arrependido?
Isto é uma grande inverdade, tu me
permitas dizer. Chego a duvidar, sinceramente, que tu penses assim. Tu,
que acompanhaste uma boa parte da nossa trajetória, que estavas ali tão
próximo, a nos entrevistar naquele período, tu sabes que não foi o que
ocorreu. As diferenças entre mim e o Collor eram conhecidas. Já não sei
de ti, mas qualquer guri daquele tempo, qualquer piá, francamente, sabia
da minha profunda discordância em relação ao presidente Collor. De modo
que, se há um arrependimento neste coração que já parou de bater, mas
segue vivo aqui no meu peito, se há um arrependimento é o de eu não ter
me posicionado com mais clareza sobre estes fatos naquela época para
desfazer certos mal entendidos. Nada mais.
Se não era apoio, o que era?
Deixe-me concluir, Ateneu. Calma lá
que te darei a tua resposta. Em nome da governabilidade, eu, como
governador do Rio de Janeiro, do que muito me orgulho, aliás, procurei o
presidente Collor e propus a construção de Cieps federais e a adoção de
algumas das nossas ideias. Sobretudo, na área da educação. Ele nos
atendeu com os Ciacs, não é verdade? Creio que o presidente se
contaminou ali, criou ali um certo encantamento em relação a algumas
das nossas ideias, e se construiu um clima amistoso entre nós. Ele foi
sempre muito cortês conosco. E nós retribuíamos o trato pessoal. E foi
só.
Mas o senhor não participou dos atos pelo impeachment dele nem se posicionou.
Veja, Nereu. Eu sempre disse que
caberia ao Congresso e ao Supremo Tribunal julgar os crimes de que
acusavam o Collor. Eu não fui a reboque do PT, um ramal auxiliar do PT,
que queria a carnificina, o julgamento sumário, a crucificação imediata.
Eu estava ali, de camarote, entendes? Tu sabes das minhas convicções e
das minhas imensas diferenças também com o PT. Francamente, até me
surpreende que tu queiras seguir por esta vereda agora nesta nossa
conversa e neste momento tão grave do nosso país.
Qual a diferença daquele processo de impeachment pra este de agora?
Permita que eu te diga. Veja. Tu
mesmo, agora, estás aí a trabalhar para a Rede Globo. Andei sabendo, nas
minhas resenhas, dos teus novos voos, com este Adné…
Adnet, governador, Adnê.
Tu me perdoes a maneira desabrida.
Longe de mim querer te desagradar ou te constranger. Longe de mim! Mas
este Adné, que, na verdade, me parece um fanfarrão, te pôs pra trabalhar
no império Globo. Por isso, sinto teus questionamentos contaminados.
Governador, trabalho
atualmente pra um programa de humor, como roteirista. E perguntei apenas
sobre as diferenças entre o processo de impeachment da Dilma e o do
Collor.
Eu te peço desculpas. As minhas mais
sinceras desculpas. Mas é como vejo. A grande diferença é que não há
crime agora. O que fez a dona Dilma?! Com todo o respeito aos sábios da
lei, a rigor, ela não fez nada. Não há nada! Esta é a verdade. Dilma não
roubou, não acobertou corruptos, não se apequenou diante dos… como te
dizer… diante dos chimangos. Dilma não se beneficiou de um alfinete do
palácio! Um alfinete! A rigor, Dilma, uma jovem que vimos nascer na
política lá no Rio Grande, não fez nada. Nada. Já Collor tinha lá as
intercorrências dele, não é verdade? Tu sabes. Collor ficava naquela
motoca d’água dele (jet ski), ali nos lagos de Brasília, exibindo seus
dotes atléticos, enquanto no porão do palácio havia quem fizesse coisas
que se dizia que faziam em nome dele, tu sabes bem. Não sou eu quem está
dizendo! Não sou eu, Leonel, quem diz. Diziam que faziam. Diziam até
que o tesoureiro pagava as contas pessoais dele! Mas veja. Diziam. Não
sou eu que afirmo. E o que fez a dona Dilma? A rigor, nada! Dona Dilma é
inocente e está pagando por crimes que não cometeu. Com toda convicção,
não cometeu.
O senhor diria que ela paga pelos erros do PT?
Tu agora tocaste num ponto, creia,
que tem andado aqui nas minhas reflexões. Daqui de onde estou agora,
tenho uma visão mais ampla do que ocorre e descontaminada das coisas da
política. O Lula, na sua autossuficiência, abandonou a Dilma em certo
momento. Não há como negar. Não quero julgá-lo. Mas, francamente, foi o
que se deu. Falam aí de um apartamento, de um pedalzinho da dona Marisa…
Olha…
Pedalinho…
Isto. Perdão. Pedalinho. Olha… tisc…
isto é uma bobagem. Uma bobagem! Veja o que nossas elites e estes aí que
a representam já fizeram em sua grande tunga no atacado! Veja, Marcel. A
rigor, o grande assalto… o grande assalto, não é verdade?… o grande
assalto é o que fazem agora, com esta gestão para tirar de uma
presidente legitimamente eleita o seu mandato conferido pelo povo. Mas
veja, eu sei, cá comigo, que muitos lá no PT cometeram seus excessos, se
embriagaram com o poder, gostaram daqueles tapetes felpudos,
compreende? Nutriram maus sentimentos e fizeram coisas impróprias a quem
deve ter o cuidado com a coisa pública. De modo que a Dilma paga, sim,
pelos erros dos seus pares. Mas são erros pequenos se comparados a tudo
isso que volta a se instalar no país com o Temer. Eu venho de longe!
Estes pés trazem calos que seguem comigo. Conheço esta gente. Este Temer
chegou ao poder mais perdido do que cusco quando cai de caminhão de
mudança e fica ali, francamente, abanando o rabo para as elites
financeiras, ungido pela grande imprensa e abençoado pelos baronato da
comunicação.
O que será do Brasil com Temer?
A rigor, um desastre! Um desastre!
Ouso te dizer que este governo do Temer não se sustentará e também ele
sofrerá o impeachment! Se não no Congresso, nas ruas, pela força do
nosso povo. Escreva o que te digo. Este Temer representa uma casta. Uma
casta! Uma casta que andou aí apartada, apeada do poder, e que cresceu o
seu olho gordo, aquele olhão gordo das elites, não é verdade?, e de
tudo fez para tomar a cadeira da presidente. Eles, Temer e todos esses a
seu redor, que voltaram a sentir o gostinho do poder agora, que se
lambuzam com o melado do poder, compreende?, eles precisam se desgastar
ainda mais até serem jogados de uma vez no lixo. E é pra lá que eles
vão, pro lixo! Podes escrever!
O senhor acredita que a presidente também é vítima de misoginia?
Tu não tenhas dúvida de que sim. Vejo
até mais que um ato misógino. Vejo nisto tudo a doença social, tu podes
crer, a doença de quem não tolera o ingresso de mulheres, negros e de
outras minorias no ambiente predominado por homens brancos filhotes da
elite, ou à elite rendidos. Aliás, me permitas concluir, nem são
minoria! Nem são minoria! As mulheres e os negros são a maioria do povo
brasileiro! Os números do IBGE e da Justiça Eleitoral estão aí a
comprovar o que vos digo.
O senhor fala agora especificamente do Ministério montado pelo Temer?
Sim! Francamente, não é possível nem
chamar aquilo de Ministério! Aquilo lá é um museu, um cemitério de
zumbis ressuscitados. Não há um negro!!! Uma mulher!!! Quem ali defende
uma minoria?! Uma única minoria?! Nenhum daqueles senhores! A única
minoria presente neste governo provisório e ilegítimo é a sua própria, a
daquela pequena elite que quer continuar sugando o melhor leite da
vaca, enquanto deixa ao nosso povão apenas o perdigoto. Eles nos veem
como abostados, podes crer, como se a grande massa trabalhadora,
composta por negros e mulheres, fosse se contentar em comer as cascas
das suas bergamotas e a viver chineleada, levando surra de relho.
O senhor acompanhou o discurso da Dilma no Senado?
Sim. Daqui, tudo vejo e tudo escuto.
Com grande tristeza e uma dó imensa daquela mulher, acompanhei sua fala e
sua inquisição. Vi que, ali, na plateia, estava até aquele filho do
professor Sérgio, por quem sempre tive o maior apreço, apesar do seu
engajamento ao PT e não a nós na nossa volta do exílio.
O Chico Buarque, filho de Sérgio Buarque de Hollanda.
Sim, ele o menino lá. Achei um gesto
de grandeza a presença dele ali. Eu, se aí ainda estivesse, lá estaria.
Eu e o pai desse menino já mantivemos aqui algumas lábias afetuosas e
preocupadas com o que ocorre por aí.
O senhor tem acompanhado a campanha das eleições municipais?
Tenho e te digo que recebi com enorme
desapontamento a notícia de que o nosso partido, o PDT, se aliou a este
Paes e a seu candidato Paulo Pedro.
Pedro Paulo, governador.
Pedro Paulo. E mais te digo:
ainda mais desapontado fiquei ao saber que a dona Cidinha Campos, logo a
nossa Cidinha, a quem tanto prezei enquanto estive aí, na luta
política, logo ela aceitou ser a vice deste filhote do filhote do Cesar
Maia. Francamente! Mas disto eu te pediria para abordarmos em outra
hora.
Que cenário o senhor vê pro Brasil?
O cenário imediato eu vejo como
trágico. A rigor, uma tragédia. Com este Temer, veja bem, francamente,
não há saída que não seja a da porteira da fazenda. Mas creia que,
quando olho o futuro, daqui de onde estou, eu, Leonel, mantenho a
esperança. No meu último quarto de hora da vida, eu vi o início de uma
era que culminou com a eleição do Lula em 2002. Eu me fui daí em 2004.
Tu sabes que nunca morri de amores pelo Lula, nem ele por mim. Relevei
muitas agressões e espetadas dele. Mas reconheci e ainda reconheço nele,
no governo dele, e adiante no governo da dona Dilma, com toda a
humildade, com toda a humildade, compreendes?, reconheço nesse conjunto
de governos o avanço de que o Brasil precisava.
O senhor ainda se ressente de
não ter chegado lá? Acha que, se fosse o senhor lá, em vez do Lula, o
Brasil estaria melhor e nada disso teria ocorrido?
Veja. Estas conjecturas eu deixei no
passado. Não deu para ser conosco. Nós estávamos desgastados e
enfrentávamos a grande resistência disseminada e impetrada pelas elites.
Este lombo aqui levou muitas chibatadas das elites e até mesmo do PT.
Tu sabes o que a Globo fazia comigo sob o silêncio do PT. Trago aqui as
marcas daquelas chibatas. Mas… tisc… o rio, depois que passa com a força
de suas águas, leva as folhas mortas e o lodo que se instalam em suas
margens. A chuva lava a poeira das telhas. De modo que me sinto livre de
ressentimentos e mantenho a esperança na retomada do caminho das
esquerdas unidas pelo bem do Brasil, não mais comigo, Perseu.
É Marceu, governador.
Tisc… tu me perdoes uma vez mais! Meus agradecimentos, Narceu.
copiado http://www.tijolaco.com.br/blog/brizola-e-o-julgamento-de-dilma-por-marceu-
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