BrasilLágrimas, poesia e troca de argumentos antes de votação histórica





A sessão de terça-feira no Senado contou com vários momentos de tensão antes da votação que vai decidir o destino de Dilma Rousseff
Lágrimas, discursos inflamados com poesia e avisos para o lugar que a história irá reservar aos senadores que vão votar a destituição da Presidente suspensa, Dilma Rousseff, marcaram o dia antes da votação, no Senado, em Brasília.
Dilma Rousseff é acusada de editar créditos suplementares no ano passado e de usar dinheiro de bancos federais em programas do Tesouro, as chamadas "pedaladas fiscais".
Na sessão de terça-feira, que durou cerca de 17 horas e terminou antes das 03:00 horas de hoje (07:00 em Lisboa), foram trocados argumentos jurídicos e políticos, finalizando um processo de nove meses que foi muito além da denúncia e que se jogou também na força das manifestações nas ruas.
Janaína Paschoal, da acusação, defendeu que o "'impeachment' (destituição) é um remédio constitucional" para uma "grande fraude" e maquilhagem das contas públicas.
A advogada pediu desculpa a Dilma Rousseff pelo "sofrimento" que lhe causou e, entre lágrimas, comentou: "Peço que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela".
"Para quem conhece Dilma Rousseff, pedir a sua acusação para defender os seus netos é algo que me atingiu muito fortemente", disse aos jornalistas o advogado da Presidente suspensa, José Eduardo Cardozo, emocionando-se.
Na tribuna, Cardozo alertou que a condenação seria "uma pena de morte política", baseada em "pretextos".
"Era pelo conjunto da obra que os militantes políticos eram presos, torturados e assassinados" durante a ditadura, lembrou.
Dos 63 senadores que decidiram falar na tribuna, por dez minutos, a maioria anunciou que vai votar a favor do afastamento.
Os parlamentares comentaram a teoria do "golpe parlamentar", repetida pelos defensores de Dilma Rousseff para definir o 'impeachment', e a "luta de classes", que alguns acreditam estar subjacente ao processo.
Os defensores do 'impeachment' advogaram que o processo é democrático, vincando que Dilma Rousseff não pode estar acima da lei e acusando-a de ter violado a Constituição, de mentir e de "estelionato eleitoral" (crime semelhante à burla), além de não ter respondido a "perguntas fulcrais" quando fez a sua defesa.
Os apoiantes do afastamento falaram ainda na crise económica e no desemprego deixado pelo Governo "corrupto" de Dilma Rousseff, fazendo a comparação com o Executivo interino, de Michel Temer, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), e acusaram a Presidente suspensa de não dialogar com o Congresso.
Ronaldo Caiado, dos Democratas (DEM), disse que a continuidade de Dilma Rousseff no poder levaria a economia a uma situação semelhante à que se vive na Venezuela.
Magno Malta, do Partido da República (PR), afirmou que Deus permitiu que Dilma Rousseff ganhasse as eleições porque "as lambanças feitas no escuro precisavam vir à luz, e foi a eleição dela que permitiu".
Por contraponto, os defensores da arguida evocaram as conquistas sociais alcançadas pelo Partido dos Trabalhadores (PT), com os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Disseram ainda que a primeira mulher que comandou o Brasil é "honesta", está a ser vítima de "misoginia", de uma "trama" e de uma "conspiração", que inclui aqueles que não conseguiram ganhar as eleições.
Contrário ao 'impeachment', o senador Roberto Requião, do PMDB, avisou que o povo "não retornará submissamente às senzalas", questionando os demais: "Os senhores estão preparados para a guerra civil?".
Enquanto os defensores do afastamento falaram num processo pedagógico, os opositores alertaram que a história dará razão a Dilma Rousseff e que será aberto um precedente, que pode resultar numa insegurança jurídica devido às dúvidas que os atos em julgamento levantam.
"Pode dormir tranquila. A história te reserva um lugar de honra", afirmou Lindbergh Farias, do PT, falando para a líder brasileira.
Se for considerada culpada por 54 dos 81 senadores, Dilma Rousseff perderá o mandato e o direito a ocupar cargos públicos eletivos durante oito anos, e Michel Temer ocupará a Presidência em pleno.
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