Aconteceu. Vem mais em 2017. Juiz solta manifestantes: “Brasil não pode legitimar ‘prisão para averiguação” Não é “confronto”, é repressão Leia a decisão do juiz na íntegra

“Diretas Já”, o grito que assombra Temer mesmo sem eleições no horizonte

Planalto avalia que Temer errou ao menosprezar atos enquanto analistas veem no mote um

aglutinador

Pleito só ocorre com passos hoje improváveis: renúncia, decisão do TSE ou mudança no Congresso

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Brasília / São Paulo
Protesto no dia 2 de setembro, em São Paulo. AP
Na análise de seus auxiliares, Michel Temer cometeu um erro político ao subestimar o potencial dos primeiros protestos contra seu Governo dizendo que eles são “grupos mínimos”, "as 40 pessoas que quebram carro" durante a viagem à China, sua primeira como presidente ratificado. Por isso, o movimento do Planalto, um dia depois do protesto que reuniu milhares em São Paulo contra o Governo pedindo novas eleições presidenciais, foi calibrar a mensagem. O primeiro a ensaiar o novo discurso foi o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ainda na China, onde participa do encontro do G20, o chefe da equipe econômica falou em número substancial, "apesar de minoritário". Ainda que um novo pleito seja considerado improvável, se não impossível, no atual cenário político, analistas avaliam que o mote "diretas já", abraçado por parte das ruas desde o impeachment de Dilma Rousseff, pode ser o ponto de partida para manifestações de rua contra o pacote de reformas e cortes prometido pelo novo Governo para os próximos meses.
Por ora, a persistência dos atos com volume e força —para além do constrangimento de ministros de Temer provocado pelos gritos de "golpista", que tem se repetido —ainda está por ser provada nas ruas. Há pelo menos mais dois atos programados para essa semana: no feriado de 7 de Setembro e no dia 8 de setembro, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro. Se houve atos expressivos na capital paulista e em cidades como Florianópolis e Porto Alegre, a onda de indignação contra o novo Governo não apareceu em Brasília com o mesmo ímpeto: um dos únicos protestos na cidade aconteceu no Ministério do Planejamento, ocupado na madrugada desta segunda-feira por manifestantes sem-terra que pedem a volta de assentamentos e dizem não reconhecer o atual Governo. Porém, não pediram novas eleições explicitamente.
“Objetivamente, não há chances de novas eleições diretas para presidente. Esses protestos servem para denunciar que Temer é um presidente sem votos, que não dialogou com a sociedade porque não apresentou suas propostas na campanha eleitoral de 2014. Mas para nisso”, afirmou o diretor do Departamento Intersindical de Análise Parlamentar (DIAP), Antônio Augusto de Queiroz.
Para a socióloga Esther Solano, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o mote "diretas já" dificilmente conseguirá atrair os setores mais à direita, que não se identificam com os protestos "Fora Temer", mas podem atrair uma parcela da sociedade civil que se considera progressista, mas que não foi às ruas contra o impeachment pelo descontentamento com o Governo Dilma. Na avaliação da socióloga, porém, a pauta é "frágil", pois "parte da esquerda também se recusa a abraçar as 'diretas já' por ver nisso uma legitimação do impeachment", diz. "Mais forte é a reação contra as medidas de austeridade propostas pelo Governo Temer, como os retrocessos sociais propostos com as mudanças na CLT, por exemplo, que tem uma capacidade de mobilização muito maior", avalia.
O cientista político Luis Felipe Miguel, professor da UnB (Universidade de Brasília), considera que os pedidos de novas eleições, proposta apoiada por 62% da população segundo pesquisa Datafolha de julho, em caso de renúncia dupla, deve ganhar força nas manifestações, mesmo que seja para impor um constrangimento a Michel Temer, que em sua primeira declaração pública disse que não irá tolerar ser chamado de "golpista". A frase do peemedebista não pegou bem entre parte da população que viu na declaração uma espécie de "provocação". "[Propor novas eleições] É uma forma de desgastar o Governo e lembrá-lo, até 2018, que ele não chegou onde chegou legitimamente", diz. Assim como Solano, Miguel vê na reação às reformas propostas por Temer um maior potencial de oposição da sociedade civil. E aponto outro problema para o novo Governo: o fato de, enquanto há pessoas nas ruas se opondo à presença do peemedebista no Planalto, não há um movimento em apoio ao presidente. "Não vemos um movimento, mesmo entre os que queriam a Dilma fora, levantando a bandeira de Temer", completa.

Os caminhos para a eleição direta

Pela legislação vigente, há atualmente três caminhos para que uma nova eleição presidencial ocorra mediante voto direto da população, sem contar uma improvável renúncia de Michel Temer. Duas delas dependem de apoio três quintos dos parlamentares de cada Casa do Congresso Nacional _ou seja, de 308 dos 513 deputados e de 49 dos 81 senadores, quando a base aliada de Temer na Câmara é de cerca de 400 deputados e, no Senado, de 61 senadores. A outra via, a eventual cassação da chapa Dilma-Temer eleita em 2014, está parada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Neste último caso e no caso da renúncia, há ainda uma questão de prazos: para a eleição ocorrer, tudo teria de acontecer ainda em 2016, antes do término do segundo ano do mandato, conforme previsto na legislação brasileira. Se acontecer depois, Temer seria substituído por um presidente eleito indiretamente pelo Congresso Nacional.
Desde abril, tramita no Senado a proposta de emenda constitucional (PEC) 20/2016. Conforme previsto nela, uma nova votação presidencial deveria ocorrer já no próximo dia 2 de outubro, juntamente com as eleições municipais, e o atual mandato de presidente seria encerrado no dia 31 de dezembro de 2016. O projeto está parado na Comissão de Constituição e Justiça e, de lá, não deve sair tão cedo, até em razão do calendário eleitoral, que já está em vigor. Mais de 205.000 pessoas já opinaram em uma enquete (consulta pública) promovida pelo Senado sobre esta mesma PEC, sendo que até esta terça-feira, 190.000 opinaram favor da realização de eleições presidenciais simultaneamente às eleições municipais de 2016 e 15 mil votaram contra. A consulta ainda está em andamento.
A outra proposta é semelhante à sugerida por Dilma Rousseff. A petista passou a defender oficialmente, uma semana antes de seu impeachment, a convocação de um plebiscito para consultar a população sobre o encurtamento do mandato presidencial e a realização de uma nova eleição. Essa PEC, de número 28/2016, também esbarra no mesmo problema da anterior: teria de ser votada junto com o primeiro turno das eleições municipais. Um outro empecilho, nesses dois casos, seria que as regras eleitorais têm de ser editadas um ano antes do pleito. Isso sem contar o embate jurídico que geraria, pois há quem defenda que diminuir o tempo de mandatos eletivos é inconstitucional.
O caso parado no TSE, que pede a cassação da chapa Dilma/Temer, originou-se ainda em 2014, por meio de ações apresentadas pelo PSDB. Não há previsão de seu julgamento e o presidente da corte, Gilmar Mendes, já disse publicamente que é possível estudar separar as responsabilidades de Dilma e Temer no processo, um desmembramento inusual que poderia salvar o novo presidente mesmo em caso de condenação. Abuso de poder e irregularidades em prestações de contas são alguns dos argumentos dos acusadores contra a ex-presidente e o atual. Nas últimas semanas, servidores do TSE estão analisando documentos das perícias feitas em empresas que prestaram serviço para a coligação da petista e do peemedebista. O objetivo é tentar encontrar alguma irregularidade que sustentaria a cassação da chapa.

A agenda eleitoral e as reformas

Enquanto isso, Temer segue as articulações para tentar aprovar medidas no Legislativo mesmo em meio à agenda eleitoral. O plano agora é deixar que aconteçam ao menos o primeiro turno das eleições municipais para dar andamento a parte de seu pacote de reformas, como a reforma da Previdência e a trabalhista, ambas com potencial para provocar mais protestos. Até lá, tentará fazer caminhar no Legislativo a proposta que cria o polêmico teto de gastos públicos. Do lado na nova oposição, o plano é não deixar o impulso das ruas de domingo em São Paulo contra o Planalto se perder. "São Paulo está virando centro de resistência, a cada dia passeatas. (A ideia é) fazer isso irradiar por todo o país", disse o senador petista Lindbergh Farias (RJ).

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Decisão considera detenção de grupo no domingo, antes da manifestação contra Temer, irregular. Menores também foram liberados


Manifestação pelo Fora Temer neste domingo em São Paulo. EFE
Decisão do juiz Paulo Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo deixou sem efeito, no início da noite desta segunda-feira, a deliberação da Polícia Militar de deter 18 pessoas sob a acusação de associação criminosa e corrupção de menores antes da manifestação contra o Governo Michel Temer no domingo. Em dura sentença, Tellini de Aguirre Camargo entendeu que a prisão era ilegal e liberou o grupo, após uma audiência de custódia no Fórum da Barra Funda. “A polícia não permitiu a presença dos manifestantes antes de o ato de manifestação se realizar", diz o texto do magistrado. "O Brasil como Estado Democrático de Direito não pode legitimar a atuação policial de praticar verdadeira ‘prisão para averiguação’ sob o pretexto de que estudantes reunidos poderiam, eventualmente, praticar atos de violência e vandalismo em manifestação ideológica. Esse tempo, felizmente, já passou.”
Além do grupo, que passou noite na delegacia e ao menos cinco horas incomunicável, segundo contou Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual de Direitos Humanos, outros oito menores de idade haviam sido detidos na avenida Paulista porque estavam “atirando pedras com estilingue contra a Tropa”, segundo o coronel Dimitrios Fyskatoris, comandante do policiamento da capital. Os adolescentes, assim como os adultos, foram encaminhados para o Departamento Estadual de Investigações Criminosas (DEIC), e também passaram a noite lá até serem liberados também nesta segunda, após audiência na Vara da Infância.
O grupo de adultos, preso na avenida Vergueiro quando se reunia para ir ao ato no domingo, havia sido formado no Facebook recentemente. Por isso, nem todos se conheciam pessoalmente, segundo relatos dos participantes. Havia pessoas de outras cidades além de São Paulo, como Campinas. Não havia uma liderança. Conversavam por meio dessa rede social até que decidiram combinar de se encontrar antes da manifestação. Para isso, criaram um grupo no WhatsApp com cerca de 40 pessoas chamado 13h Metro Consolação, em referência ao local e hora do encontro.
Parte do grupo se encontrou na estação Vergueiro para seguir em direção à Consolação. Ali, por volta das 15h30, a Polícia Militar os deteve, porque, de acordo com o coronel Fyskatoris, eles “se apresentaram em atitude suspeita”. Foram consideradas em flagrante por associação criminosa, segundo o coronel depois que os policiais fizeram uma entrevista com cada um deles. O coronel disse que seis pessoas já tinham passagem pela polícia. “Eles faziam parte de várias células que estariam espalhadas pela cidade”, afirmou. “Eles foram entrevistados e declararam em entrevista que estavam ali reunidos, organizados para sair pela cidade para praticar atos de agressão contra as pessoas”, disse o coronel na entrevista coletiva.
"Eles foram entrevistados e declararam em entrevista que estavam ali reunidos, organizados para sair pela cidade para praticar atos de agressão contra as pessoas", afirmou o coronel Dimitrios Fyskatoris
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou, por meio de nota, que o grupo foi levado pela polícia porque portava “máscaras e pedras”. Consta no Boletim de Ocorrência ao qual EL PAÍS teve acesso que entre os objetos encontrados havia microfones, óculos, armação de óculos, um extintor de incêndio, vinagre, lanterna, máquina fotográfica, pilha, bateria, material de primeiros socorros, capacete e uma barra de ferro, que, segundo os detidos, não pertencia a nenhum deles.
Na decisão do juiz Aguirre Camargo, no entanto, ele afirma que não houve investigação prévia sobre os suspeitos. "A prisão ocorreu de um fortuito encontro com policiais militares que realizavam patrulhamento ostensivo preventivo e não de uma série e prévia apuração de modo que qualificar os averiguados como criminosos organizados à míngua de qualquer elemento investigativo seria, minimamente, temerário”. O juiz afirma que não há “mínima prova” de que todos se conheciam e que nenhum objeto de porte proibido foi apreendido.
Todo o grupo detido na Vergueiro foi levado para o DEIC, com exceção de um deles, conhecido como Balta Nunes nas redes sociais e que fazia parte do grupo do Facebook e do WhatsApp criado para a manifestação. Ele foi apontado por outros integrantes do grupo "como um infiltrado". A interlocutores, Nunes disse que foi para uma outra delegacia e foi liberado na sequência. No Facebook, publicou um post no final da manhã desta segunda-feira agradecendo “as orações” e dizendo que “daria um tempo” por conta “de possíveis retaliações de pessoas que não entendem a nossa luta”. O número de telefone dele passou o dia desligado.

Histórico

"Qualificar os averiguados como criminosos organizados à míngua de qualquer elemento investigativo seria, minimamente, temerário", afirmou o juiz Paulo Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo
Não é a primeira vez que prisões prévias a manifestações ou a violência policial durante atos causam controvérsia no Brasil, que passou a conviver com mais manifestações de rua a partir de junho de 2013. Em 12 de julho de 2014, durante a Copa do Mundo, a Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu 19 pessoas suspeitas de planejar atos de vandalismo - era a segunda vez em um mês que a polícia prendia manifestantes fora dos protestos. Dias depois, a Justiça determinou a soltura do grupo.
A repressão policial e o debate sobre uso desproporcional da força também já haviam entrado em pauta com as manifestações do Movimento Passe Livre no início deste ano ou com o movimento dos secundaristas contrários à reorganização escolar de Governo Alckmin no ano passado. Especialistas também veem problemas na lei antiterrorismo aprovada no Governo Dilma Rousseff antes dos Jogos Olímpicos porque a consideram um instrumento que pode ser usado contra a liberdade de manifestação. “Se um manifestante for detido em um protesto e indiciado por ato de terrorismo ele terá de provar que é inocente durante o processo”, disse o coordenador do programa de Justiça da ONG Conectas Direitos Humanos, Rafael Custódio, à época da aprovação da lei na Câmara, em fevereiro.

 copiado http://brasil.elpais.com/brasil/2

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