'declaração de amor' ao brasil 'Somos Brasil', de Marcus Lyon, percorreu 22 mil km e ouviu 104 brasileiros. Projeto foi 'declaração de amor' ao Brasil, diz o autor; leia a entrevista.

'declaração de amor' ao brasil

Britânico roda 22 mil km e retrata a 'cara do Brasil' G1

Identidade brasileira é tema de projeto multimídia de fotógrafo britânico

'Somos Brasil', de Marcus Lyon, percorreu 22 mil km e ouviu 104 brasileiros.
Projeto foi 'declaração de amor' ao Brasil, diz o autor; leia a entrevista.

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Identidade brasileira é tema de projeto multimídia de fotógrafo britânico

Fábio TitoDo G1, em São Paulo
Pessoas entrevistadas para o projeto Somos Brasil (Foto: Marcus Lyon)Pessoas entrevistadas para o projeto 'Somos Brasil' (Foto: Marcus Lyon)
Lançado para todo o mundo na semana passada, um projeto ambicioso de um fotógrafo inglês busca traduzir a complexidade que compõe a identidade da nação brasileira. Marcus Lyon percorreu 22 mil km durante seis meses rodando o país, e entrevistou 104 pessoas para compor o 'Somos Brasil'.
Muito mais que a ideia inicial de fazer um projeto de retratos pelo país, Marcus contou em entrevista ao G1 que a ideia foi evoluindo até abraçar o relato falado de cada um dos entrevistados e uma análise genética do DNA dessas pessoas. E a melhor forma que ele enxergou para expor isso tudo foi com a elaboração de um aplicativo para smartphone.
Disponível para Android e iOS, o app Somos Brasil permite que você aponte a câmera do smartphone para qualquer imagem do projeto, seja impressa ou na tela de um computador, para que imediatamente o celular comece a tocar o áudio da pessoa retratada.
Veja abaixo uma seleção de seis relatos de entrevistados do "Somos Brasil". Lyon reforça que é importante ver o projeto como um todo em seu site para ter uma visão mais próxima da grandiosidade da obra.
Casado com uma brasileira e pai de dois filhos, Marcus concorda que"Somos Brasil" é de alguma forma uma declaração de amor ao país. Ele já tinha uma profunda relação com o Brasil quando viu o projeto começar a se desenhar em sua cabeça. E os filhos, que apesar de nascidos na Inglaterra se definem como brasileiros, têm ligação direta com isso. Leia abaixo a entrevista na íntegra. No final, ainda é possível ver um vídeo de Marcus falando sobre o projeto em palestra para a plataforma TED.
O fotógrafo Marcus Lyon, autor do projeto 'Somos Brasil' (Foto: Somos Brasil)O fotógrafo Marcus Lyon (Foto: Somos Brasil)
G1: No texto que escreveu para o projeto, você conta que seus filhos se definem como brasileiros, apesar de terem nascido na Inglaterra, e que disso surgiu uma das fagulhas que motivaram a construção do projeto. Como você se sente, como um pai de família britânico, vendo seus filhos definindo-se dessa forma?
Marcus Lyon: Acho que, quando você tem um casamento transcultural, como nós temos, há tanta coisa a se celebrar em juntar duas culturas. E vivendo predominantemente na Inglaterra, ainda mais agora que as crianças começaram a ir à escola, eu me sinto muito feliz que elas têm um senso tão forte de suas identidades brasileiras. Acho que, se você pegar o melhor do Brasil e o melhor da Grã-Bretanha, em algum ponto pode-se dizer que você tem o melhor de tudo.
G1: E o que lhe chamou a atenção para começar algo tão grandioso?
Marcus Lyon: Inicialmente, eu só fiquei impressionado com a maneira como os brasileiros se identificavam. Que eles não precisavam buscar uma "terra natal" [diferente] para se definirem. Que eles ficam felizes em se dizerem simplesmente "brasileiros". Isso era muito diferente do que via nas inúmeras vezes em que fui aos EUA, por exemplo, onde as pessoas costumam se definir como ítalo-americanas, afro-americanas...
... Sendo quem sou, eu queria como artista representar o que há de melhor no Brasil e mostrar ao mundo o que é o Brasil de verdade, o que ele pode ser e o que podemos ser juntos"
O que foi talvez mais interessante no projeto, em um nível mais profundo, foi que as pessoas que a gente contatava para participar sempre ficavam muito felizes ao saber que um fotógrafo britânico estava indo vê-los, tirar seus retratos, ouvir suas histórias e ajudá-los a achar respostas a algumas das questões de identidade que eles tinham sobre suas origens. E eles pareciam sempre muito receptivos, muito "brasileiros" na maneira de querer se ligar a mim. Não que tenha sido uma surpresa, mas foi muito agradável.
G1: Você tem uma forte ligação com o Brasil por conta de sua esposa, mas você provavelmente ainda consegue ter uma visão de fora sobre o país, por ser estrangeiro e ter toda sua cultura construída de outra forma. Você acha que isso ajudou no processo?
Marcus Lyon: Sim, eu sou um estrangeiro, ainda falo português muito mal. Até consigo me virar e sobreviver, mas com certeza não consigo fazer uma piada, nem conheço nada do linguajar mais conceitual. Mas acho que o que sempre me chama atenção quando estou aqui é quão receptivas as pessoas são com estranhos. Como não existem os medos tão presentes nas sociedades europeias ou da América do Norte, em relação à confiança interpessoal. Mesmo com índices mais altos de criminalidade. E eu me senti muito bem recebido tanto no Acre, como em Mato Grosso do Sul, Manaus, Belém... Em todos esses lugares eu me sentia mesmo parte do time, o que foi fabuloso.
G1: Você afirma ter percorrido 22 mil km em 6 meses para produzir as fotos e as entrevistas. Mas quanto tempo de produção levou antes disso, para reunir pessoas e organizar o projeto?
Marcus Lyon: O projeto levou cerca de 5 anos até aqui, no total. A ideia original era que fosse apenas um projeto de retratos fotográficos. Mas aí eu comecei a combinar o áudio com alguns dos meus outros trabalhos, como no "Exodus", no "Bricks" e no "Time Out". São os trabalhos pelos quais eu fiquei mais conhecido internacionalmente. Mas no "Somos Brasil" eu acabei desenvolvendo essa vontade de ter um aplicativo ativado pela imagem, para trazer as vozes das pessoas ao formato do livro, assim como ao formato digital. Você pode apontar seu smartphone com o app para qualquer imagem do projeto, e ele vai reproduzir o áudio específico daquele personagem. E conseguimos uma tecnologia muito incrível, bastante simples mas que funciona muito bem.
... O que realmente quero fazer é conectar-me de forma a inspirar uma conversa mais profunda. Com perguntas mais profundas, como 'Quem sou eu?', 'Por que estou aqui?', 'Quem eu posso ser?', como indivíduos e como grupo. 'O que estamos fazendo?', 'Quem somos nós, juntos?' "
Depois de construir essa ideia ao redor dos relatos sonoros, viemos então com a ideia de adicionar o DNA, explorando as árvores genealógicas pos participantes. Com essas três partes, tínhamos o projeto traçado.
Desde o começo eu estava bem certo de que os personagens do "Somos Brasil", as pessoas entrevistadas não seriam escolha minha. O que fizemos foi criar um processo de seleção, reunimos cerca de 150 pessoas em uma rede de contribuição para indicar indivíduos excepcionais, que exercem mudança em suas comunidades de alguma forma. Chegamos a cerca de 250 pessoas indicadas, e a partir daí fomos reduzindo até 150 delas que seria possível visitar e que não tivessem com perfis muito parecidos. A ideia era ter um espectro coerente e muito abrangente que acabou se fechando em 104 pessoas, e que de alguma forma, de uma forma muito pequena, fosse representativo de 200 milhões de pessoas.
É claro, ele não é capaz de representar o Brasil como um todo. Só por pedirmos indicações das melhores pessoas para estar no projeto, pessoas que são importantes para quem está ao redor, isso por si já é um recorte dos brasileiros. Mas sendo quem sou, eu queria como artista representar o que há de melhor no Brasil e mostrar ao mundo o que é o Brasil de verdade, o que ele pode ser e o que podemos ser juntos.
G1: O mapa que mostra com estrelas onde cada um dos entrevistados nasceu expõe muito bem a abrangência do trabalho, mas também deixa claro que você parece ter quase deixado de fora algumas áreas, como o Sul do Brasil. Isso por acaso tem a ver com o histórico separatista do Rio Grande do Sul, que contrastaria com esse senso de pertencimento que você buscou mostrar?
Marcus Lyon: Não... Para ser honesto, acho que você localizou uma fraqueza no projeto. Sabe, nós fizemos o que pudemos, abrimos as nossas asas tanto quanto conseguimos e fomos tão longe quanto nosso orçamento permitiu. Mas sabe, se tivessem me dado mais 3 meses de orçamento, eu teria passado mais tempo no sudoeste e, definitivamente, no Sul.
Foi questão de uma limitação imposta pelo orçamento e pelo tempo que tínhamos, e resultou em uma falha no que eu fiz. É minha culpa, espero não insultar ou aborrecer ninguém com isso. Não tem nada a ver com [esse histórico n]o Brasil. Acabou o dinheiro, nós gastamos tanto dinheiro e tempo nas viagens, e chegou um momento em que eu tive que falar: "É isso. Fiz o bastante para este projeto existir". Quem sabe eu possa adicionar pessoas ao projeto mais à frente, o projeto pode crescer de outras formas, não sei...
G1: Vendo todo o cuidado que você tem com o projeto e a dimensão que ele tomou,além da maneira como você fala do 'Somos Brasil', preciso perguntar... O projeto é de alguma forma uma declaração de amor ao Brasil?
Acho que, se você pegar o melhor do Brasil e o melhor da Grã-Bretanha, em algum ponto pode-se dizer que você tem o melhor de tudo"
Marcus Lyon: Sim, Tito... É bem por aí mesmo. Deixe-me ler algo para você: "Dentro da minha busca para conhecer seu povo, eu me encontrei. Obrigado por este presente precioso". Isso é parte da dedicatória que coloquei na descrição do projeto. De muitas formas vejo que o que tento fazer como artista agora é ser alguém que, no processo de reunir as informações para um projeto, eu tenha o maior respeito pelas pessoas e seus ideais. Mas o que realmente quero fazer é conectar-me de forma a inspirar uma conversa mais profunda. Com perguntas mais profundas, como "Quem sou eu?", "Por que estou aqui?", "Quem eu posso ser?", como indivíduos e como grupo. "O que estamos fazendo?", "Quem somos nós, juntos?".
Mesmo agora, eu ouço as gravações... Já conheci as pessoas, já as fotografei, pesquisei suas histórias, mas ainda ouço algumas histórias e sinto calafrios nas costas! Nossa, isso é tão íntimo. E isso é realmente interessante sobre o "Somos Brasil", o nível de intimidade emocional que essa combinação de imagem, som e ciência pode trazer e comunicar nas questões de indivíduo, comunidade e identidade.
- É possível acompanhar novidades do projeto pela página do 'Somos Brasil' no Facebook.
copiado  http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/08/identidade-brasileira-e-tema-de-projeto-multimidia-de-fotografo-britanico.html

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