A pobreza em África foi agora vista por satélite Público - Mundo
Algoritmos informáticos permitiram extrair dados de imagens de
satélite para, dessa forma, calcular o rendimento das famílias em
bairros de lata. Novo método poderá ajudar a combater a pobreza.
As paisagens nas fotografias tiradas por drones que o antropólogo Johnny Miller divulgou há uns meses
da África do Sul são desconcertantes. Observam-se subúrbios na Cidade
do Cabo, onde impera um contraste absoluto entre bairros ricos e
florestados de um lado e bairros de lata do outro. Esta geografia mostra
como os tentáculos do “apartheid” – política da elite branca
sul-africana que, durante décadas, deu mais direitos aos brancos do que
aos negros e separou a sociedade em duas, fomentando o racismo –
deixaram uma marca profunda no urbanismo, com consequências na vida de
milhares de pessoas que, até hoje, vivem na pobreza.
Johnny Miller desmontou há uns dias o poder destas imagens ao “site” da cadeia televisiva australiana ABC: “Acho que a natureza de uma imagem captada de um local alto no céu retira a antipatia visceral que existe sobre o outro. É quase como se tudo se tornasse um problema matemático que necessita ser resolvido, um problema da esfera do design.”
Agora, é do espaço que nasceu uma outra ferramenta para ajudar a combater a pobreza olhando também para os bairros de lata. Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos desenvolveu e testou um programa informático para fazer estimativas de pobreza a partir de imagens de satélites. Os resultados sobre a eficácia deste programa foram publicados esta sexta-feira num artigo na revista científica Science. Com este desenvolvimento, a equipa espera ajudar a combater a pobreza de uma forma mais eficaz.
Há 700 milhões de pessoas em todo o mundo que vivem abaixo do limiar de pobreza, de acordo com o Banco Mundial. Isto significa que vivem com menos de 1,9 dólares por dia (valor actualizado em Outubro de 2015). Fazendo contas e passando para euros, aquele valor equivale a menos de 51 euros por mês.
Para se combater esta situação é preciso conhecer a distribuição desta pobreza no território. Mas esta necessidade revela uma falha de base. “Um grande obstáculo no desafio de reduzir a pobreza é a falta de informação de qualidade sobre a distribuição da pobreza”, explica ao PÚBLICO Neal Jean, um dos investigadores da equipa que publicou o artigo na Science e que é da Universidade de Stanford, na Califórnia (Estados Unidos). “A aplicação dos métodos tradicionais de recenseamento dos agregados familiares é extremamente baixa, tanto a nível espacial como temporal. Por isso, muitas vezes nem sequer se sabe onde vivem as pessoas mais pobres, o que impede o desenvolvimento de intervenções [anti-pobreza] que tenham como alvo aqueles que mais beneficiariam delas.”
Em África, este problema é generalizado. “De acordo com o Banco Mundial, houve 39 países africanos entre 59 que, entre 2000 e 2010, fizeram menos de dois recenseamentos que permitissem medir a pobreza de forma representativa a nível nacional”, lê-se no artigo. Além de bastante caros, estes levantamentos são “difíceis a nível institucional, já que alguns governos vêem poucos benefícios no facto de o seu desempenho fraco ser documentado”.
Se quiserem combater a pobreza, os países africanos precisam urgentemente deste tipo de conhecimento sobre as suas populações. Nos últimos tempos, recorreu-se ao uso de telemóveis e de redes sociais para obter esta informação, mas os dados móveis pertencem a empresas privadas e pode ser difícil obtê-los. Por outro lado, já se tentou usar imagens de satélite nocturnas, onde se vêem as luzes associadas à urbanização. Mas os mais pobres muitas vezes vivem em locais sem iluminação pública.
Para tentar contornar este problema, Neal Jean e os colegas usaram
imagens de satélite com luz do dia e luz nocturna de cinco países
africanos – Malawi, Nigéria, Ruanda, Tanzânia e Uganda. Com estas
imagens, disponíveis em base de dados públicas, foi possível identificar
as zonas mais pobres. Para isso, comparam imagens de dia onde se vêem
zonas urbanizadas com imagens do mesmo local, mas à noite, onde não se
vê luz naquelas zonas urbanizadas. Além disso, os algoritmos usados pelo
programa identificaram nas imagens estradas, zonas urbanas, regiões
agrícolas e cursos de água.
Com esta informação, a máquina algorítmica fez estimativas sobre riqueza tendo também em conta o nível económico de cada país. Finalmente, para testar a qualidade destas estimativas, a equipa comparou os resultados obtidos pela máquina algorítmica com as análises de riqueza e pobreza feitas mesmo no terreno nalgumas zonas daqueles países. Deste modo, os investigadores confirmaram que o seu modelo conseguiu fazer previsões melhores sobre o nível de riqueza e pobreza visto nas imagens do que outros modelos que usaram outros dados.
“O modelo estima as despesas médias do agregado familiar ou o seu rendimento médio para a área vista na imagem”, refere Neal Jean. “Todo o nosso programa vai ser de acesso livre online. As técnicas que desenvolvemos são genéricas e poderão ser usadas em diferentes regiões do globo para prever outros resultados além dos da pobreza, como indicadores de saúde, por exemplo a mortalidade infantil. Esperamos que seja usado por organizações não-governamentais, governos e outras organizações que estão a trabalhar para melhorar a vida das pessoas em todo o mundo.”
copiado http://publico.uol.com.br/ciencia/n
Johnny Miller desmontou há uns dias o poder destas imagens ao “site” da cadeia televisiva australiana ABC: “Acho que a natureza de uma imagem captada de um local alto no céu retira a antipatia visceral que existe sobre o outro. É quase como se tudo se tornasse um problema matemático que necessita ser resolvido, um problema da esfera do design.”
Agora, é do espaço que nasceu uma outra ferramenta para ajudar a combater a pobreza olhando também para os bairros de lata. Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos desenvolveu e testou um programa informático para fazer estimativas de pobreza a partir de imagens de satélites. Os resultados sobre a eficácia deste programa foram publicados esta sexta-feira num artigo na revista científica Science. Com este desenvolvimento, a equipa espera ajudar a combater a pobreza de uma forma mais eficaz.
Há 700 milhões de pessoas em todo o mundo que vivem abaixo do limiar de pobreza, de acordo com o Banco Mundial. Isto significa que vivem com menos de 1,9 dólares por dia (valor actualizado em Outubro de 2015). Fazendo contas e passando para euros, aquele valor equivale a menos de 51 euros por mês.
Para se combater esta situação é preciso conhecer a distribuição desta pobreza no território. Mas esta necessidade revela uma falha de base. “Um grande obstáculo no desafio de reduzir a pobreza é a falta de informação de qualidade sobre a distribuição da pobreza”, explica ao PÚBLICO Neal Jean, um dos investigadores da equipa que publicou o artigo na Science e que é da Universidade de Stanford, na Califórnia (Estados Unidos). “A aplicação dos métodos tradicionais de recenseamento dos agregados familiares é extremamente baixa, tanto a nível espacial como temporal. Por isso, muitas vezes nem sequer se sabe onde vivem as pessoas mais pobres, o que impede o desenvolvimento de intervenções [anti-pobreza] que tenham como alvo aqueles que mais beneficiariam delas.”
Em África, este problema é generalizado. “De acordo com o Banco Mundial, houve 39 países africanos entre 59 que, entre 2000 e 2010, fizeram menos de dois recenseamentos que permitissem medir a pobreza de forma representativa a nível nacional”, lê-se no artigo. Além de bastante caros, estes levantamentos são “difíceis a nível institucional, já que alguns governos vêem poucos benefícios no facto de o seu desempenho fraco ser documentado”.
Se quiserem combater a pobreza, os países africanos precisam urgentemente deste tipo de conhecimento sobre as suas populações. Nos últimos tempos, recorreu-se ao uso de telemóveis e de redes sociais para obter esta informação, mas os dados móveis pertencem a empresas privadas e pode ser difícil obtê-los. Por outro lado, já se tentou usar imagens de satélite nocturnas, onde se vêem as luzes associadas à urbanização. Mas os mais pobres muitas vezes vivem em locais sem iluminação pública.
Com esta informação, a máquina algorítmica fez estimativas sobre riqueza tendo também em conta o nível económico de cada país. Finalmente, para testar a qualidade destas estimativas, a equipa comparou os resultados obtidos pela máquina algorítmica com as análises de riqueza e pobreza feitas mesmo no terreno nalgumas zonas daqueles países. Deste modo, os investigadores confirmaram que o seu modelo conseguiu fazer previsões melhores sobre o nível de riqueza e pobreza visto nas imagens do que outros modelos que usaram outros dados.
“O modelo estima as despesas médias do agregado familiar ou o seu rendimento médio para a área vista na imagem”, refere Neal Jean. “Todo o nosso programa vai ser de acesso livre online. As técnicas que desenvolvemos são genéricas e poderão ser usadas em diferentes regiões do globo para prever outros resultados além dos da pobreza, como indicadores de saúde, por exemplo a mortalidade infantil. Esperamos que seja usado por organizações não-governamentais, governos e outras organizações que estão a trabalhar para melhorar a vida das pessoas em todo o mundo.”
copiado http://publico.uol.com.br/ciencia/n
Nenhum comentário:
Postar um comentário