Hélder Amaral acusa ex-presidente do CDS de "não estar do lado certo"
Hélder Amaral: "Há sinais de mudança no MPLA que é preciso proteger"
Entrevista ao vice-presidente do grupo parlamentar do CDS, representante do partido no Congresso do MPLA
Esperava que as suas declarações sobre a maior proximidade do CDS ao MPLA causassem tanta polémica no partido?
De
facto fiquei surpreendido. Talvez devesse ter sublinhado que se tratava
de uma opinião pessoal, de alguém que acompanha há muitos anos a
evolução do país, não vinculando o CDS. De qualquer forma devo dizer que
lamento o desconhecimento, por algumas pessoas do partido, em relação a
todo o percurso de contactos do CDS, grande parte da minha
responsabilidade, com vários partidos da oposição angolana, como é o
caso da UNITA e do CASA-CE. Essas relações têm sido regulares, com
encontros anuais com dirigentes da UNITA e este ano foi a primeira vez
que aconteceu a aproximação ao MPLA...
Mas
quando disse que "há mais pontos em comum" entre o CDS e o MPLA, sendo
partidos nas antípodas ideológicas, compreende as reações, certo?
Só
se essas reações tiverem uma base superficial. Antes de mais devo dizer
que as minhas palavras foram em resposta a uma pergunta sobre o que
pensava do discurso de José Eduardo dos Santos. E neste discurso de
facto constatei sinais de mudança que entendo que deve ser protegidos.
Nesses sinais há alguns pontos em comum com as ideias do CDS. Falo, por
exemplo, da valorização da iniciativa privada, com críticas explícitas
aos negócios ilícitos e da defesa de um Estado mais eficiente. Se
passarem das palavras aos atos é uma evolução a que devemos estar
atentos. Se for assim é claro que estou mais próximo do governo
angolano.
Mas as suas
declarações deixaram a direção do partido debaixo de pressão de muitos
militantes e obrigou a um esclarecimento que deixa implícito uma
demarcação em relação ao que disse...
Costumo
dizer que o meu dever é sempre superior a minha vontade no CDS. O CDS
nunca se demarca de mim, está sempre comigo. Não senti qualquer
demarcação, mas simplesmente uma crítica à interpretação errada que
estava a ser feita. Não tenho qualquer negócio em Angola. O meu único
interesse é a minha família que cá está, a minha mãe que venho ver quase
todos os anos. É preciso salientar a extrema importância para Portugal
em manter um bom relacionamento com o governo angolano. A presença neste
congresso de representantes dos maiores partidos portugueses (PS e PSD)
é disso evidência. Angola teve um papel fundamental na recuperação da
nossa economia, temos uma forte comunidade portuguesa neste país e uma
não menos forte presença angolana em Portugal. Não podemos esquecer que
Angola nos ajudou em momentos tão difíceis.
O facto de ser angolano pode ter influenciado a emoção das suas palavras?
Não
sou emotivo. Já afirmei que não retiro o que disse. Agora o facto de
ser angolano - tenho dupla nacionalidade - e a circunstância de visitar
regularmente o país para visitar a minha família dão-me o privilégio de
acompanhar muito de perto a evolução do país e a poder ter uma opinião
mais fundamentada sobre as mudanças registadas. A minha perceção é que o
país tem sinais de recuperação e desenvolvimento a muitos níveis.
Saiu de Angola com que idade?
Foi
logo a seguir à independência, com seis anos. Eu e o meu pai só
tínhamos as calças e a camisa que trazíamos vestidos. Fomos espoliados,
ficámos sem nada. A minha mãe ficou em Angola e estive quase 15 anos a
pensar que estava morta. Quando soubemos que estava viva passei a vir
quase todos os anos. Estou sempre disponível para vir a Angola dar um
beijinho à minha mãe.
Já pensou em voltar para Angola?
Não,
de todo. A minha vida é em Portugal, em Viseu. E como costumo dizer
gosto mais de cozido à portuguesa do que de muamba. Sou um beirão de
gema.
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