Espanha
As três mulheres do PSOE que mais atacam o "insensato sem escrúpulos"
É com este epíteto que o diário El País
se refere ao líder Pedro Sánchez. Os socialistas estão em guerra
aberta. Depois das 17 demissões, nem sequer se entendem sobre se a
direção caiu ou se continua. Amanhã há comité federal
Levantou
a voz e disse que é ela quem manda. "Neste momento a única autoridade
que existe no PSOE é a presidente da mesa do comité federal, que sou eu,
quer gostem quer não", afirmou ontem Verónica Pérez, à entrada da sede
do partido, na Rua Ferraz, em Madrid.
Nascida
em 1978, a secretária-geral dos socialistas em Sevilha acrescentou
ainda que, com a demissão de mais de metade da direção do partido, Pedro
Sánchez caiu e já não ocupa qualquer cargo no PSOE. Não é a primeira
vez que Pérez ataca em público o (ainda?) secretário-geral dos
socialistas. "Estou farta de resultados históricos deste partido, farta
de voltar a pulverizar os nossos piores resultados. E agora?", escreveu
na sua conta do Twitter, no domingo, depois de conhecidos os desaires
eleitorais do PSOE nas eleições bascas e galegas.
Oriunda
da Juventude Socialista, que começou a frequentar com 14 anos, Verónica
Pérez é também conhecida por ser o braço direito de Susana Díaz -
presidente da Andaluzia, crítica de Sánchez e um dos nomes mais falados
para suceder ao atual líder.
Talvez
tenha chegado a hora das mulheres no PSOE. Em 2012, a catalã Carme
Chacón - um dos 17 membros da direção que na quarta-feira apresentaram a
sua demissão - concorreu à secretaria-geral do partido. Perdeu a
corrida para Alfredo Pérez Rubalcaba por apenas 22 votos (num total de
952 delegados). Desde então tem sido sempre uma voz incómoda e tem
acumulado conflitos com a cúpula socialista.
Em
2014, perante uma nova crise no PSOE, Chacón acusava Rubalcaba de
"fomentar a divisão interna". Nessa altura, enquanto se jogava nos
bastidores nova disputa pela liderança, chegou a ser avançada a hipótese
de Susana Díaz e Carme Chacón apresentarem-se de mão dada. A primeira
seria a secretária--geral e a segunda a candidata a chefe de governo. O
processo terminou a 13 de julho, com a eleição de Pedro Sánchez, que
derrotou, em eleições diretas, Eduardo Madina e José Antonio Pérez
Tapias.
Com a eleição do atual
secretário-geral, Chacón passou a integrar a comissão executiva, órgão
do qual se demitiu na quarta-feira . Já em março tinha batido com a
porta na cara de Pedro Sánchez, quando decidiu que não voltaria a ser a
cabeça de lista dos socialistas por Barcelona. Disse que os motivos
"eram políticos, mas não relevantes". O El Mundo, no entanto,
não tinha dúvidas sobre o mal-estar: "Ninguém duvida de que em causa
está um desacordo profundo com Sánchez e com a direção do PSOE."
Apesar
das desavenças com Chacón, a mulher que mais dores de cabeça tem dado
ao líder é Susana Díaz. Apesar de o ter apoiado nas primárias em 2014, a
lua-de-mel entre os dois durou pouco tempo. Ao longo do consulado de
Sánchez, Díaz tem sido sempre uma espécie de fantasma. E, no atual
cenário de crise, o seu nome tem sido um dos mais ventilados para a
sucessão. A corda que unia os dois já estava esticada e, nas últimas
semanas, partiu-se de vez. Quando Sánchez insinuou a intenção de vir a
tentar uma solução de governo com o Podemos e o Ciudadanos, Susana Díaz
quebrou o silêncio a que se tinha remetido e voltou a atacar: "Não se
pode governar com 85 deputados."
Já
nesta semana, com o partido em total ebulição, sugeriu que poderá estar
disponível para avançar. "Estarei onde os meus companheiros quiserem que
eu esteja, à frente do partido ou na retaguarda", afirmou a presidente
da Andaluzia.
Estatutos pouco claros
Ontem
reuniram-se na Rua Ferraz os 18 membros que restam na comissão
executiva (Pedro Sánchez mais 17) e traçaram o calendário que pretendem
ver cumprido: comité federal amanhã, eleições diretas a 23 de outubro e
congresso extraordinário a 12 e 13 de novembro, no qual seria nomeada
uma nova comissão executiva.
Os
críticos estão de acordo com a marcação do comité federal para amanhã,
mas, a partir daí, os objetivos são distintos. Para os opositores de
Sánchez, a reunião do órgão máximo entre congressos deverá servir para
confirmar a dissolução da comissão executiva e para nomear uma comissão
gestora que conduziria o partido até à realização de um novo congresso.
No entender dos dissidentes, a discussão sobre a liderança interna só
deverá ocorrer depois de um novo governo ter tomado posse. Os estatutos
do partido, perante a demissão de mais de metade da comissão executiva,
são pouco claros. Sanchistas e críticos fazem interpretações distintas. Para os primeiros, a direção não caiu. Para os segundos, sim.
Quem
poderia esclarecer o assunto é a comissão de Ética e Garantias. Este
órgão é composto por um presidente, um secretário e três vogais. Os dois
primeiros estão do lado de Sánchez, os outros na trincheira dos
críticos.
Há muitas questões em aberto e
a resposta depende em muito da contagem dos soldados que amanhã estarão
presentes no comité federal. São 295 os membros que o compõem e, neste
momento, a contabilidade de tropas parece estar equilibrada. A guerra
está aberta.
Um "insensato sem
escrúpulos", que prefere "destruir" o PSOE em vez de "reconhecer o seu
enorme fracasso". Era assim que ontem o El País, em editorial, se referia a Pedro Sánchez.
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