[Nota do Editor: Mesmo que o Supremo Tribunal de Justiça brasileiro tenha decidido, em 2015, que o financiamento de campanhas por empresas está proibido, até as pessoas que tiram selfies com Eduardo Cunha
admitiriam que corporações e lobistas continuam tendo uma forte
influência corruptora em nossa cultura política. Por isso, The Intercept
Brasil está solicitando a seus leitores exemplos de políticos
brasileiros falando abertamente sobre o papel de dinheiro em nossa
democracia. Se você se lembrar de belos exemplos, envie um e-mail para nossa equipe ou deixe um comentário com link abaixo, por favor.]
Um dos aspectos mais constrangedores da política é quando políticos negam o impacto do dinheiro no que fazem. Por exemplo, Tom Corbett, ex-governador da Pensilvânia, notoriamente conhecido por sua simpatia pelo fraturamento hidráulico (“fracking”), recebeu US$ 1,7 milhão de empresas do setor de petróleo e gás, mas garantiu a seus eleitores que “as contribuições não influenciam minhas decisões”. Se você está tentando convencer pessoas a votarem em você, não diga a elas que o que elas querem não tem importância.
Essa postura também é popular com um tipo específico de comentaristas de renome, que adoram dizer “Não sigam a origem do dinheiro” (David Brooks, colunista do New York Times), “Dinheiro não compra eleições” (Stephen Dubner, coautor do livro Freakonomics falando na rádio Marketplace) ou “Dinheiro não compra votos” (Peter H. Schuck, professor de direito em Yale, em artigo no Los Angeles Times).
Enquanto isso, 85% dos americanos acreditam que os EUA precisam “reformular completamente” ou realizar “alterações estruturais” no sistema de financiamento de campanhas. Somente 13% acham que “apenas pequenos ajustes sejam necessários” – número menor do que o de americanos que dizem já ter visto um fantasma. Por isso, resolvemos coletar exemplos de políticos ativos reconhecedores da realidade absolutamente evidente.
[Nota do Editor: Lembrando: se você quiser nos ajudar a fazer uma versão brasileira dessa lista, envie exemplos por e-mail para nossa equipe (joao.filho@theintercept.com) ou deixe sua dica nos comentários. Estamos em busca de comentários de políticos vinculando diretamente o dinheiro à criação ou à alteração de leis. Posicionamentos referentes às novas condições eleitorais que excluem as doações privadas das campanhas também são bem-vindos. Obrigado!]
Um dos aspectos mais constrangedores da política é quando políticos negam o impacto do dinheiro no que fazem. Por exemplo, Tom Corbett, ex-governador da Pensilvânia, notoriamente conhecido por sua simpatia pelo fraturamento hidráulico (“fracking”), recebeu US$ 1,7 milhão de empresas do setor de petróleo e gás, mas garantiu a seus eleitores que “as contribuições não influenciam minhas decisões”. Se você está tentando convencer pessoas a votarem em você, não diga a elas que o que elas querem não tem importância.
Essa postura também é popular com um tipo específico de comentaristas de renome, que adoram dizer “Não sigam a origem do dinheiro” (David Brooks, colunista do New York Times), “Dinheiro não compra eleições” (Stephen Dubner, coautor do livro Freakonomics falando na rádio Marketplace) ou “Dinheiro não compra votos” (Peter H. Schuck, professor de direito em Yale, em artigo no Los Angeles Times).
Enquanto isso, 85% dos americanos acreditam que os EUA precisam “reformular completamente” ou realizar “alterações estruturais” no sistema de financiamento de campanhas. Somente 13% acham que “apenas pequenos ajustes sejam necessários” – número menor do que o de americanos que dizem já ter visto um fantasma. Por isso, resolvemos coletar exemplos de políticos ativos reconhecedores da realidade absolutamente evidente.
- “Dei dinheiro para muitas pessoas, antes disso, há dois meses, eu era empresário. Dou dinheiro para todo mundo. Quando me ligam, eu dou dinheiro. E sabe o que mais? Quando preciso de algo deles dois, três anos depois, eu ligo para eles e eles me atendem. Esse sistema ruiu.” – Donald Trump em 2015.
- “É isso que está errado. [Donald Trump] compra e vende políticos de todas as estirpes… Ele está acostumado a comprar políticos.” — Senador Republicano pelo Kentucky, Rand Paul, em 2015.
- “Agora, [os EUA viraram] uma oligarquia com subornos políticos ilimitados sendo parte essencial das indicações de candidatos à presidência e da eleição presidencial em si. E o mesmo se aplica a governadores, senadores e deputados. Portanto, observamos uma subversão completa do sistema político como forma de compensar grandes doadores…” — Jimmy Carter, ex-presidente, em 2015 (Agradecimento a Sam Sacks.)
- “Cada vez mais, milionários e bilionários se apropriam do processo político e de políticos que pedem dinheiro a eles (…) estamos passando muito rápido de uma sociedade democrática, onde cada pessoa tem um voto, para uma sociedade oligárquica, em que bilionários determinam quem serão os governantes eleitos do país.” — Senador independente por Vermont, Bernie Sanders, em 2015. (Agradecimento a Robert Wilson.)
- Sanders também fez diversas declarações semelhantes, como: “Acredito que muitas pessoas têm a impressão errada de que o Congresso regula Wall Street (…) A verdade é que Wall Street regula o Congresso”. (Agradecimento a ND, por e-mail.)
“É um jogo em que as corporações são indivíduos, e o dinheiro passa a ter voz como que por mágica.”
- “É preciso investigar a origem do dinheiro. E, na origem, há quase sempre condição imposta. (…) É muito difícil receber enormes quantias de dinheiro de um grupo que defende uma postura específica, concluir que eles estão errados e votar contra.” — Joe Biden, vice-presidente dos EUA, em 2015.
- “O jogo político atual, liderado por um pesadelo absurdo de elites endinheiradas, é ridículo. É um jogo em que as corporações são indivíduos, e o dinheiro passa a ter voz como que por mágica, candidatos se hospedam em suítes corporativas e retiros secretos dos ricos vendendo suas almas políticas sem o menor pudor.” — Jim Hightower, ex-comissário de agricultura do Texas, Democrata, em 2015. (Agradecimento a CS, por e-mail.)
- “Toda hora, as pessoas me dizem que a política em Washington está ruindo e que multimilionários e bilionários estão dando as cartas (…) não é difícil concordar com isso.” — Russ Feingold, Senador democrata pelo Wisconsin por três mandatos, em 2015, ao anunciar mais uma candidatura ao Senado. (Agradecimento a CS, por e-mail.)
- “Lobistas e políticos de carreiras hoje formam o que chamo de Cartel de Washington. … Diariamente, conspiram contra o povo americano. (…) Os ouvidos e carteiras de políticos de carreira estão sempre abertos para as ofertas mais altas.” — Senador republicano pelo Texas, Ted Cruz, em 2015.
“Há um jogo muito egoísta sendo jogado e nossos governantes, em sua maioria, foram postos à venda.”
- “Posso aceitar presentes de lobistas de forma legal, sem limites de número ou valor… Como você pode concluir, o resultado é o comprometimento de instituição que é o Governo do Missouri, uma corrupção movida por grandes fortunas na política.” Senador pelo Missouri, Rob Schaaf, em 2015. (Agradecimento a DK, por e-mail.)
- “Quando você começa a oferecer acesso ao dinheiro, e esse acesso envolve agentes da lei, você passou dos limites. O que está acontecendo é chocante, é terrível.” – James E. Tierney, ex-procurador geral do Maine, em 2014.
- “Permitir que pessoas, grupos corporativos e outros gastem quantias ilimitadas de dinheiro não-identificado possibilitou que certas pessoas pudessem alterar o resultado de toda e qualquer eleição, seja em nível parlamentar, federal, local, estadual… Infelizmente, essas pessoas raramente têm objetivos alinhados aos anseios da população em geral. A história mostra que há um jogo muito egoísta sendo jogado e nossos governantes, em sua maioria, foram postos à venda.” – John Dingell, deputado pelo Michigan com 29 mandatos, antes de falecer, em 2014.
“Acredito piamente que estamos começando a nos assemelhar a uma oligarquia no estilo russo, em que duas dúzias de bilionários basicamente compraram o governo.”
- “Quando um grupo de pesquisa apresenta uma lei e diz para você não a alterar, por que precisam de você como legislador? Você senta, vota e acaba se tornando um servo feudal de pessoas com muito dinheiro.” – Dale Schultz, deputado estadual republicano por 32 anos no Wisconsin e ex-líder da maioria do Senado, em 2013, antes de se aposentar, em vez de enfrentar o adversário apoiado pela organização Americanos pela Prosperidade. Meses depois, Schultz disse: “Acredito piamente que estamos começando a nos assemelhar a uma oligarquia no estilo russo, em que duas dúzias de bilionários basicamente compraram o governo.”
- “Me foi dito de forma direta: ‘Você quer ser Presidente da Administração do Congresso, quer continuar a ser presidente.’ Chegam a colocar por escrito que você precisa levantar US$ 150 mil. Ainda fazem isso, democratas e republicanos. Se quiser fazer parte desse comitê, pode custar entre US$ 50 mil e US$ 100 mil — é preciso levantar essa quantia na maioria dos casos.” Bob Ney, deputado republicano com cinco mandatos por Ohio e ex-presidente do Comitê de Organização do Congresso, que admitiu culpa em acusações de corrupção relacionadas ao escândalo envolvendo Jack Abramoff, em 2013. (Agradecimento a raptroll, comentários.)
- “A aliança entre o dinheiro e os interesses por ele representados, o acesso que oferece aos ricos em detrimento dos pobres, a agenda por ele influenciada ou definida por conta de seu poder, estão progressivamente silenciando as vozes da grande maioria dos americanos. (…) Em nome da verdade, precisamos ser claros quanto ao que a corrosão causada pelo dinheiro na política representa — é uma forma de corrupção que amordaça mais do que empodera os americanos. É um desequilíbrio que comprovadamente só pode contribuir para semear a instabilidade social.” — John Kerry, Secretário de Estado, em seu discurso de despedida do Senado em 2013
“Votos continuam a ser comprados, em vez de deputados votarem de acordo com os anseios de seus eleitores.”
- “A democracia americana foi pirateada. (…) Agora, o Congresso dos Estados Unidos (…) é incapaz de aprovar leis sem a permissão dos lobistas corporativos e outros interesses particulares que controlam o financiamento de campanhas.” — Al Gore, Ex-vice-presidente em seu livro de 2013, The Future (O Futuro). (Agradecimento a anon, comentários.)
- “Acho que isso acontece por conta do paradigma em que se transformou Washington, onde votos continuam a ser comprados, em vez de deputados votarem de acordo com os anseios de seus eleitores. (…) Essa é voz que tem estado ausente das mesas de negociação em Washington — a voz do povo tem estado ausente” — Michele Bachmann, Deputada republicana por Minessota e fundadora da Convenção do Tea Party no Congresso, em 2011.
- “Vou começar dizendo algo lamentavelmente verdadeiro: Nosso sistema eleitoral é uma bagunça. Interesses financeiros poderosos, livres para gastar sem transparência alguma, corromperam os princípios básicos em que se fundamentam nossa democracia representativa.” — Chris Dodd, Senador democrata por Connecticut em discurso de despedida do Senado em 2010. (Agradecimento a RO, por e-mail.)
- “Os bancos — mesmo que seja difícil de acreditar em tempos de crise financeira criada pelos próprios bancos — ainda são os lobistas mais poderosos do bairro de Capitol Hill. E, francamente, eles são os donos do bairro.” — Senador democrata por Illinois, Dick Durbin, em 2009.
“O dinheiro tem um papel muito maior no que acontece em Washington do que se imagina.”
- “O dinheiro influenciou votos por todo o espectro político. O dinheiro certamente influenciou as políticas da Casa Branca durante a administração Clinton e tenho certeza que o mesmo aconteceu em todas as administrações anteriores.” — Joe Scarborough, deputado republicano pela Flórida por quatro mandatos e, atualmente, apresentador do programa Morning Joe, nos anos 90. (Agradecimento a rrheard, comentários.)
- “Somos as únicas pessoas no mundo que, por lei, recebemos grandes quantidades de dinheiro de estranhos e depois agimos como se não afetasse nosso comportamento.” — Barney Frank, Deputado democrata por Massachusetts com 16 mandatos, nos anos 90. (Agradecimento a RO, por e-mail.)
- “ (…) o dinheiro tem um papel muito maior no que acontece em Washington do que se imagina. (…) Você tem que conviver, como titular, com todos os grupos de interesses particulares que podem arrecadar dinheiro de seus membros para você, mas esse tipo de relacionamento influencia a forma como você vota. (…) Acho que precisamos estar bem mais atentos ao impacto que o dinheiro causa (…) Acho errado e temos que mudar isso.” — Mitt Romney, candidato republicano que concorreu com Ted Kennedy à época, em 1994. (Agradecimento a LA, por e-mail.)
- “Não há dúvida de que dinheiro é poder.” — Barry Goldwater, pretenso candidato republicano em 1964, antes de se aposentar do Senado, em 1986.
- ‘’Quando esses comitês de ações políticas doam dinheiro, esperam algo em troca além de um bom governo. (…) Pobres não fazem contribuições políticas. O resultado seria diferente se houvesse um PAC (comitê de ação política) de pobres.” Bob Dole, Ex-líder republicano da Maioria do Senado e pretenso candidato presidencial republicano em 1996, em 1983.
- “O dinheiro tem importância vital na política.” — Jesse Unruh, Presidente da Assembleia da Califórnia nos anos 60 e Tesoureiro do Estado da Califórnia nos anos 70 e 80.
“Há duas coisas importantes na política. A primeira é dinheiro e não consigo lembrar da segunda.”
- “Outro dia, tive uma ótima conversa com Jack Morgan (banqueiro do J.P. Morgan), e ele me pareceu muito preocupado com o discurso de Tugwell (Secretário Assistente da Agricultura de Rexford), especialmente quando disse que “a partir de agora, o direito à propriedade e o direito financeiro estarão subordinados aos direitos humanos.” (…) A verdade é que, e nós dois sabemos disso, o elemento financeiro nos grandes centros tem o governo no bolso desde a época de Andrew Jackson. (…) O país está vivendo uma repetição da briga entre Jackson e o Banco dos Estados Unidos — mas em uma escala muito maior e mais ampla.” — Carta de Franklin D. Roosevelt a Edward M. House em 1933. (Agradecimento a LH, por e-mail.)
- “Por trás do governo ostensivo, encontra-se um governo invisível estabelecido sem comprometimento e que não demonstra responsabilidade perante o povo. A destruição desse governo invisível, para dissolver essa aliança infeliz entre empresas corruptas e políticos corruptos, é a tarefa mais importante de um estadista nos dias de hoje.” — Programa de 1912 do Partido Progressista, fundado pelo ex-presidente Theodore Roosevelt. (Agradecimento a LH, por e-mail.)
- “Há duas coisas importantes na política. A primeira é dinheiro e não consigo lembrar da segunda.” — Mark Hanna, Gerente da Campanha Presidencial de William McKinley, em 1896, e Senador por Ohio, em 1895.
[Nota do Editor: Lembrando: se você quiser nos ajudar a fazer uma versão brasileira dessa lista, envie exemplos por e-mail para nossa equipe (joao.filho@theintercept.com) ou deixe sua dica nos comentários. Estamos em busca de comentários de políticos vinculando diretamente o dinheiro à criação ou à alteração de leis. Posicionamentos referentes às novas condições eleitorais que excluem as doações privadas das campanhas também são bem-vindos. Obrigado!]
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