Brasil Dilma anda em campanha e Cameron prepara memórias


Dilma teve uns dias de de descanso em Porto Alegre. Cameron foi de férias para a Córsega
Ela foi afastada da presidência do Brasil. Ele demitiu-se de primeiro-ministro do Reino Unido. Abandonaram o poder por motivos diferentes e diferente é o que têm feito desde então
"A democracia foi julgada ao mesmo tempo que eu. Infelizmente perdemos. Espero que a possamos reconstruir e que isto não volte a acontecer", disse Dilma Rousseff a 2 de setembro, no discurso de despedida, dois dias depois de ser destituída de presidente do Brasil por alegada falsificação das contas públicas. Apesar de destituída, a petista, de 68 anos, não ficou impedida de exercer cargos públicos, ou seja poderá recandidatar-se à presidência em 2018 ou dar aulas numa universidade do Estado, por exemplo.
Com um prazo de 30 dias desde a destituição para abandonar o Palácio da Alvorada, Dilma Rousseff precisou apenas de uma semana para trocar Brasília por Porto Alegre, cidade onde construiu a carreira política e tem casa.
Os primeiros dias foram para descansar, com Dilma a ser apanhada pelos fotógrafos a passear de bicicleta pelas ruas de Porto Alegre, com direito a paragens para tirar selfies com populares, ou a visitar o ex-marido, Carlos Araújo, sempre acompanhada por seguranças.
Mas quem pensou que iria ficar-se por uma vida familiar enganou-se. Dilma vai dividir o seu tempo entre Porto Alegre e o Rio de Janeiro, para continuar na vida política, através do apoio que já está a dar a vários candidatos petistas para as eleições municipais de 2 de outubro - tem participado em jantares-comício e gravou mensagens para tempos de antena.
Segundos os media brasileiros, a decisão de Dilma estabelecer uma residência no Rio de Janeiro foi tomada nas semanas que antecederam a destituição. Decisão que tem como objetivo ficar no eixo dos centros económico (São Paulo), político (Brasília) e cultural (Rio) do país. O facto de a mãe ter um apartamento na cidade também pesou.
A ex-presidente também já recebeu mais de uma dezena de convites de universidades e entidades estrangeiras para dar palestras e seminários. De acordo com alguma imprensa, Dilma também terá confessado a amigos o desejo de escrever um livro sobre os seus seis anos na presidência.
53 horas de conversa
David Cameron anunciou no dia 12 que iria abandonar o lugar de deputado, para evitar ser uma distração para a sua sucessora, a primeiro-ministra Theresa May. "Pensei longamente nisto durante o verão e decidi que o certo a fazer era sair de membro do Parlamento", disse à BBC. "A meu ver, com as circunstâncias da minha demissão, não é possível ser um bom deputado de segunda linha sendo um antigo primeiro-ministro", prosseguiu.
As férias de verão foram passadas na Córsega, em vez dos habituais dias na Cornualha ou em Portugal. Mas para não quebrar a tradição, viajaram para a ilha francesa na low cost EasyJet.
A despedida do poder de David Cameron começou com o anúncio da sua saída da liderança do governo, a 24 de junho, um dia depois de 52% dos britânicos terem ignorado os seus apelos e votado a favor do brexit. Demissão consumada a 13 de julho. Depois disso ocupou algumas vezes, de forma discreta, o seu lugar no Parlamento e chegou a garantir que iria cumprir o mandato de deputado até ao fim.
Na hora do adeus, não deu detalhes sobre o futuro, mas falou na esperança de "ainda querer contribuir em termos de serviço público e ao país". "Ainda só tenho 49", disse Cameron. Este mês soube-se que tem tido, desde que se tornou primeiro-ministro em 2010, reuniões com o amigo Danny Finkelstein, conservador e jornalista do Times, já a preparar as memórias.
Segundo o The Guardian, existem 53 horas de gravações destas conversas. O mesmo jornal refere que Cameron irá receber um adiantamento de um milhão de libras (cerca de 1,1 milhões de euros) pelo livro. O Times acrescenta que as gravações das conversas, uma ideia de Finkelstein, foram muitas vezes feitas semanalmente, quando os dois se encontravam, na maior parte das ocasiões à noite, no apartamento da família Cameron no 10 de Downing Street. O ex-primeiro-ministro terá falado sobre política interna e externa, a forma como o seu governo funcionava e a sua opinião sobre vários líderes estrangeiros. Ainda não há data para a publicação da obra.

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