refugiados Calais caminha para o fim, mas ninguém sabe o destino das crianças Hollande garante desmantelamento do campo. Os habitantes serão enviados para centro de acolhimento, mas não há plano

 
Bernard Cazeneuve, ministro do Interior, François Hollande, presidente francês, e Xavier Bertrand, presidente da região dos Altos-de-França


Hollande garante desmantelamento do campo. Os habitantes serão enviados para centro de acolhimento, mas não há plano

Calais caminha para o fim, mas ninguém sabe o destino das crianças

Bernard Cazeneuve, ministro do Interior, François Hollande, presidente francês, e Xavier Bertrand, presidente da região dos Altos-de-França
Hollande garante desmantelamento do campo. Os habitantes serão enviados para centro de acolhimento, mas não há plano para os menores não acompanhados. França entende que a responsabilidade é do Reino Unido
Raheemullah, de 14 anos, morreu na semana passada. Foi atropelado por um camião em Calais quando tentava chegar ao Reino Unido. O jovem afegão já tinha sido autorizado pelas autoridades britânicas a entrar no país para se juntar ao irmão, que vive em Manchester. Mas perante os sucessivos atrasos no processo de realojamento decidiu arriscar. Na sexta-feira, o corpo foi repatriado para o Afeganistão, depois de terem sido reunidos cerca de quatro mil euros de donativos.
Raheemullah era um dos cerca de mil menores não acompanhados que se encontram alojados na "selva" de Calais. São eles os que mais temem com o anunciado encerramento do campo de refugiados perto do canal da Mancha. Como, em teoria, é sobre o Reino Unido que recai a responsabilidade destes casos, as autoridades francesas não têm um plano para lidar com eles.
Apesar de não ter visitado o campo, François Hollande deslocou-se ontem à cidade portuária de Calais para se reunir com as autoridades locais e foi muito claro nas palavras. "A situação que se vive é completamente inaceitável. Temos de desmantelar o campo completa e definitivamente. O governo irá até ao fim", afirmou o presidente francês.
Metade da "selva" foi parcialmente destruída no início do ano, em fevereiro e em março, mas desde então a população quase duplicou. Estima-se que atualmente se encontrem em Calais cerca de dez mil refugiados, principalmente oriundos da Síria, do Iraque, do Afeganistão e da Eritreia. A grande maioria não quer permanecer em França, mas sim chegar ao Reino Unido.
A ideia do governo francês é pôr um ponto final em Calais até ao final do ano e realojar os refugiados em vários centros de acolhimento espalhados por França. Os locais em causa irão receber cerca de 50 pessoas num período de três a quatro meses, durante o qual cada caso será analisado. Aqueles que reunirem condições para que o pedido de asilo seja concedido ficarão em França. Os outros serão deportados. O anúncio foi feito por Hollande antes da ida a Calais.
Em causa está também uma questão diplomática entre o Reino Unido e a França. "Quero reafirmar a minha determinação no sentido de que as autoridades britânicas cumpram o seu papel ajudando a França no esforço humanitário que estamos a fazer", sublinhou ontem o presidente francês. A resposta que chegou de Londres não foi particularmente animadora. "O que acontece na "selva" é, em último caso, uma questão com a qual as autoridades francesas têm de lidar. A nossa posição é muito clara: continuamos comprometidos em proteger a fronteira partilhada que temos em Calais", referiu um porta--voz do governo britânico.
Segundo os acordos de Touquet, assinados em 2003, os oficiais de imigração do Reino Unido fazem os controlos de passaporte em Calaisantes da chegada a território britânico. Nicolas Sarkozy, candidato às primárias da direita na corrida presidencial do próximo ano, visitou a "selva" na semana passada e frisou a necessidade de uma revisão do acordo, que ele próprio assinou quando era ministro do Interior no governo de Dominique de Villepin.
Tal como lembra o The Guardian, em maio, o então primeiro-ministro David Cameron anunciou que o Reino Unido aceitaria receber três mil menores não acompanhados. James Brokenshire, à época secretário de Estado para a Imigração, referiu que havia uma "obrigação moral de ajudar". Desde então, contudo, segundo o que refere o diário britânico, apenas 30 foram recebidos no Reino Unido. Ainda assim, a França continua a acreditar na promessa e por isso o plano de realojamento para os refugiados de Calais não contempla a situação dos menores. "É preocupante que nada tenha sido pensado para ajudar estas crianças", sublinha Jess Egan, do Serviço de Apoio aos Jovens Refugiados, citado pelo The Guardian.
Também Emily Carrigan, voluntária em Calais num centro não oficial de apoio a mulheres e crianças, partilha da mesma preocupação: "Disseram-nos que não há alojamento para os menores porque a França está à espera de que seja o Reino Unido a tratar do assunto. Se nada for feito, ficarão espalhados por aí e vamos perdê-los."
A Care4Calais explica que uma situação semelhante aconteceu no passado. Segundo a organização não governamental, o pânico gerado pelo desmantelamento de parte do campo no início do ano fez que 129 menores desaparecessem.
"Os dois países têm de trabalhar em conjunto para providenciar alojamento e acompanhamento legal até que os menores possam reunir--se com as suas famílias no Reino Unido", afirmou ontem Lily Caprani, diretora da UNICEF britânica.
A questão de Calais reveste-se cada vez mais de uma importância também política. Com as presidenciais agendadas para o próximo ano, a imigração tem sido uma bandeira cada vez mais agitada pela direita. Acossado nas sondagens por Marine Le Pen, da Frente Nacional, Sarkozy tem vindo a endurecer o discurso anti-imigração, prometendo expulsar rapidamente todos os migrantes ilegais, reforçar os controlos nas fronteiras e apertar as regras que preveem o direito ao reagrupamento familiar.
Hollande critica o discurso antissolidariedade e chama a atenção para o facto de os nove mil refugiados de Calais serem quase nada em comparação com o milhão que a Alemanha decidiu acolher.
 copiado http://www.dn.pt/

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