Aviso a Michel Temer: a luta continua
"Cinco dias depois do Senado aprovar o impeachment de Dilma Rousseff, gigantescos protestos realizados em São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades mostram que o governo Michel Temer já enfrenta uma oposição imensa, que não pretende lhe dar trégua toda vez que tentarem usurpar seus direitos", escreve o colunista Paulo Moreira Leite. "Comparados com as mobilizações relativamente apáticas das últimas semanas da luta contra o afastamento de Dilma, os protestos de domingo foram combativos e aguerridos"; na Paulista, 100 mil pessoas pediram Fora Temer e novas eleiçõesAviso a Michel Temer: a luta continua
Os números de todo ato político sempre possuem um viés a favor ou contra. Sempre serão louvados por um lado e questionados pelo outro. Seu significado político não pode ser colocado em dúvida, porém. Os protestos de ontem indicam que a luta contra o governo Temer segue seu curso e pode até ganhar um fôlego maior.
Cinco dias depois do impeachment de Dilma Rousseff, a base social de trabalhadores, mulheres e jovens que se tornaram alvo preferencial das reformas estruturais inscritas na prancheta do golpe foi às ruas para dizer que não pretende ficar quieta e que vai defender seus direitos.
Foi assim em São Paulo, no Rio de Janeiro e outros lugares. Estive no último ato da mobilização dos aliados de Dilma contra o impeachment. Era menor que o de ontem. O comportamento dos militantes -- era possível reconhecer a presença das mesmas pessoas nos dois atos – também era diferente. Silencioso, quase apático, no primeiro. Aguerrido, combativo, no segundo.
A agenda se modificou. Antes, o debate envolvia o destino de Dilma. Havia até uma divergência paralisante.
O Planalto era favorável a assumir o compromisso de organizar um plebiscito para debater novas eleições, caso Dilma fosse reconduzida. A maioria dos movimentos sociais era contra. Queria o retorno de Dilma para que ela pudesse realizar o governo para o qual foi eleita em 2014.
As manifestações, agora, respondem a interesses concretos. Um mesmo grito político continua: "Fora Temer!"
A situação é outra. A luta se encontra no chão da vida real. Envolve reforma da Previdência, fim do monopólio da Petrobras sobre pre-sal, desmonte da CLT. As manifestações de domingo mostram que o governo Temer começa diante de uma oposição imensa, que não tem a menor disposição de lhe dar trégua.
Os atos deste domingo sinalizam o que será o país no pós-impeachment. Longe da paz dos cemitérios, temos o retrato de um Brasil que não se rendeu nem vai se entregar. Haverá luta, centímetro a centimetro, ponto a ponto, para impedir a destruição do país.
A derrota vergonhosa do impeachment passou. Mas, contraditoriamente, a consciência parece mais forte, e as questões que envolvem o país e as novas gerações, mais claras e urgentes. Os canalhas de que falava Tancredo Neves, como recordou Roberto Requião, não irão vencer.
Sentirão cada vez mais vergonha quando andarem pelas ruas das grandes cidades. Serão aconselhados a ficar de boca fechada para não estimular ainda mais a revolta.
Vai ser ainda pior quando viajarem para o exterior, para encontrar a repulsa da brava gente que há 40 anos assinava manifestos contra o regime dos generais e ajudou a parar a tortura, a garantir a volta de deles mesmos, exilados ainda jovens, que desciam no Galeão e até davam a impressão que sentiam saudade de serem brasileiros. Hoje, alguns parecem agentes infiltrados, de tão obvios.
Os velhos amigos do exílio de ontem agora vão virar as costas, indignados e inconformados com a traição, a falta de caráter. Mas não estão nem um pouco arrependidos e deixam às pessoas corretas o exemplo da luta eterna pelas democracias.
As ruas brasileiras mostraram uma gente de pé, que não se amedronta facilmente. Haverá guerra civil, disse Requião, numa constatação que não é para ser lida ao pé da letra, mas no horizonte histórico, apesar do aspecto sombrio da tropa de choque.
Já vimos tudo isso antes, me disse uma militante que se tornou amiga aos 20, nos anos negros da ditadura militar. Também vencemos.
Em SP, os 40 de Temer
Um dia depois de Michel Temer ter dito, da China, que manifestações contra o seu governo que ocorrem em diversas cidades do País são "um grupo de 40 ou 50 pessoas que quebram carro", uma multidão de 100 mil manifestantes se reuniu na capital paulista para pedir sua saída e eleições já para presidente; "Michel Temer fez uma provocação barata falando em 40 pessoas. A nossa manifestação de hoje com 100 mil é a resposta à provocação e à repressão policial", disse Guilherme Boulos, líder do MTST e da Frente Povo Sem Medo; senador Lindbergh Farias (PT-RJ), presente no ato, anunciou que recorrerá à Corte Interamericana de Direitos Humanos, ligada à OEA, contra a repressão da PM paulista diante dos protestos247, com Agência Brasil - Manifestantes protestam na capital paulista neste domingo 4 contra o impeachment de Dilma Rousseff, afastada do cargo pelo Senado Federal, na semana passada. Eles pedem a saída do presidente Michel Temer e a realização de novas eleições para presidente no país. O protesto foi organizado pelos movimentos Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular, contando com a participação de políticos.
"Hoje é mais uma mobilização popular pelo Fora Temer exigindo Diretas Já, eleições para presidente do país, e defendendo nossos direitos", disse Guilherme Boulos, um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo Sem Medo, em entrevista à Agência Brasil. "Queremos reafirmar também nosso direito à manifestação. É escandaloso o que foi feito pela Polícia Militar e pela Secretaria de Segurança, não só aqui [em São Paulo], nas manifestações dessa última semana".
A concentração foi marcada para a frente do Museu de Arte de São Paulo (Masp), de onde saíram em caminhada pela Avenida Rebouças, rumo ao Largo da Batata. O ato ocorre de forma pacífica, mas houve momento de tensão, quando uma fila de policiais militares começou a chegar ao local, acompanhada de vaias e gritos de frases como "Queremos o Fim da Polícia Militar e Fascistas". Um dos manifestantes arremessou uma garrafa em direção aos policiais e um dos policiais ameaçou responder, mas isso não aconteceu. Do caminhão de som, os organizadores pediram calma aos manifestantes, pedindo que não respondessem a provocações.
Em São Paulo, a semana foi marcada por protestos contra o impeachment de Dilma Rousseff e por pedidos de Fora Temer. Houve protestos de segunda a sexta-feira e, em todos, houve repressão da Polícia Militar e violência. Em um deles, uma manifestante apresentou ferimentos no olho e corre o risco de perder a visão. Nos últimos protestos, foi constatada a presença de black blocs, com depredações de bancos e de lojas.
"Não esperamos confronto nenhum [hoje]. Nosso confronto é com o governo golpista. Mas nosso objetivo aqui não é ter enfrentamento na rua. Nosso objetivo é fazer com que a manifestação aconteça e dê o seu recado para o Brasil todo do que nós queremos", disse Boulos.
Para Vagner Freitas, presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e um dos líderes da Frente Brasil Popular, o ato de hoje na Avenida Paulista é fechado em três temas: "É o Fora Temer e esse desgoverno ilegítimo; nenhum direito a menos, porque o que se apresenta é a retirada de direitos dos trabalhadores e sociais e da democracia; e o povo quer lutar. Consideramos esse governo ilegítimo e seria importante, para voltar a normalidade democrática, que a população pudesse ser atendida em uma votação direta para legitimar o governo", disse.
Freitas disse não esperar por confrontos no protesto de hoje. "Da nossa parte, não. Mas não tenho dúvida nenhuma de que a imprensa deve denunciar ao mundo a escalada de violência que vive o Brasil. É lamentável que uma menina perca a visão, não sei se perdeu, espero que não, mas essa possibilidade dela perder a visão, e a polícia não fazer nada e o secretário não dar uma reclamação sobre isso."
Segundo o presidente da CUT, os manifestantes decidiram fazer uma caminhada – e não ficar parados na Avenida Paulista, para indicar que "estão em movimento". "Movimento é movimento. Queremos demonstrar que estamos em luta e na rua e não vamos ficar parados".
A Agência Brasil procurou o Palácio do Planalto para saber se o presidente iria se manifestar sobre os protestos de hoje no país, mas a resposta foi de que não haveria declarações sobre o assunto.
A Polícia Militar não divulgou o número de manifestantes até este momento.
Polêmica
O protesto deste domingo começou com uma polêmica. Na última quinta-feira (1), após uma sequência de protestos violentos diários na cidade de São Paulo [em todos eles, com forte repressão policial e, nos dois últimos, com a presença também de black blocs, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse que o protesto de domingo, marcado para a Avenida Paulista, estaria proibido. O protesto havia sido convocado pela internet pelos movimentos Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo, para o horário das 14h, em frente à sede da Fiesp. Mais de 20 mil pessoas confirmaram presença ao ato nas redes sociais.
Uma das razões para a proibição do protesto foi a de que este poderia prejudicar a passagem da Tocha Paralímpica, no mesmo local, segundo a Secretaria de Segurança Pública. Outro motivo foi o fato de que os organizadores não tinham avisado o órgão sobre o ato. Em nota, a secretaria ressaltou que, conforme determina a Constituição, é obrigatória a comunicação de hora, local e trajeto em que se realizarão os atos públicos.
"Para que sejam preservados os direitos das pessoas que não participam das manifestações e garantida a ordem pública, será evitado o fechamento das vias importantes da cidade. A SSP informa ainda que até o momento não recebeu qualquer comunicado oficial de movimentos organizados dando ciência da realização de manifestações públicas nos próximos dias", diz a nota nota.
Na sexta-feira (2), a secretaria divulgou nova nota, informando que, em reunião com organizadores e o prefeito Fernando Haddad, o protesto seria liberado, sob a condição de ser adiado para mais tarde, às 16h30, para prejudicar a passagem da Tocha Paralímpica, entre as 13h20 e 14h10. "A Secretaria de Segurança Pública, após entendimentos com a Prefeitura de São Paulo e os organizadores da manifestação convocada para este domingo (4), informa que será permitida a concentração de manifestantes na Avenida Paulista a partir 16h30. A SSP esclarece que, no horário acordado, o evento de passagem da tocha paralímpica, cerimônia oficial da Rio 2016, já terá sido encerrado", dizia a nota da secretaria enviada à imprensa na sexta-feira (2).
"Em primeiro lugar, não entendemos que caiba à Secretaria de Segurança ou à Polícia "permitir" ou não uma manifestação popular. A Constituição nos assegura este direito. De toda forma, não é de nosso interesse prejudicar a passagem da tocha. Por essa razão, buscamos a informação exata do horário de passagem da tocha na Avenida Paulista, que será das 13:00 as 14:10", escreveu o MTST, que compõe a Frente Povo Sem Medo, em nota enviada à imprensa na última sexta-feira.
"Não pretendemos qualquer conflito e esperamos que a PM tenha o equilíbrio necessário para lidar com o evento, garantindo a liberdade de manifestação. Reiteramos que não iremos impedir nem prejudicar a passagem da tocha paraolimpica. Ainda buscando uma solução que não seja o enfrentamento com a PM estamos alterando a concentração para a frente do Masp", acrescentou o movimento.
Fotos: Mídia Ninja
COPIADO http://www.brasil247.com/pt
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