Tráfico de pessoas
Sem-abrigo eram retirados das ruas e escravizados
Clã familiar suspeito de sequestrar mendigos para os escravizar foi detido pela Judiciária. Rede faria tráfico de pessoas há 10 anos
Clã
familiar suspeito de sequestrar mendigos para os escravizar foi detido
pela Judiciária. Rede faria tráfico de pessoas há 10 anos
Uma
mulher de 40 anos foi a última de quatro elementos de um clã familiar a
ser detida pela Polícia Judiciária de Setúbal, na quarta-feira, pela
sua alegada participação no sequestro e escravidão de sem-abrigo. Os
homens escravizados eram retirados das ruas e depois obrigados pela rede
a trabalhar na agricultura, feiras e construção.
O
chefe do clã está em prisão preventiva desde hulho, altura em que duas
das suas mulheres foram também detidas na primeira fase da operação da
Judiciária.
Esta família será apenas
parte de uma rede mais vasta de tráfico de pessoas, centrada em Setúbal e
na Margem Sul, que já andaria a sequestrar indigentes há pelo menos dez
anos, adiantou ao DN fonte ligada à investigação.
Os
"escravos", homens de 40 a 65 anos, estavam há já vários anos em
cativeiro, desde que foram aliciados com falsas promessas de trabalho,
alimentação e habitação. Noutros casos eram simplesmente retirados das
ruas pela força física e coagidos a trabalhar. Uns eram levados para
casas do clã em Setúbal e outros para a zona da Lourinhã, onde eram
fechados num atrelado e obrigados a trabalhar na agricultura e nas obras
sem receber dinheiro e a comer restos. Eram mantidos fechados a
cadeado, com ordem para sair apenas para fazer as necessidades, adiantou
fonte ligada à investigação.
Agredido ao tentar fugir
Um
dos sem abrigo, libertado em julho na primeira fase da operação, pela
Polícia Judiciária, estaria sequestrado pelo clã há quatro anos, desde
que os membros da rede o retiraram das ruas da cidade de Setúbal.
Trata-se de um homem que decidiu fugir desta forma de escravatura e
acabou apanhado por elementos do clã. Agrediram-no de tal forma com um
pé de cabra que teve de ser internado no hospital ortopédico do Outão,
na Arrábida, em Setúbal, contou fonte da PJ. Outros homens estavam em
cativeiro há três, dois anos. As agressões físicas às vítimas seriam
frequentes, segundo apurámos.
A
Judiciária suspeita que a rede tem tentáculos por todo o país e estará
relacionada também com um grupo que foi detido pela PJ de Aveiro no
início de junho. Foram então anunciadas cinco detenções de três homens e
duas mulheres, por crimes de escravidão, tráfico de pessoas, roubo,
sequestro e coação.
A mulher que era braço direito
A
mulher de 40 anos detida anteontem era considerada o braço direito do
"líder". A suspeita terá dado o passo em falso de o ir visitar à prisão,
tendo assim sido apanhada pela Judiciária. A detida teria, segundo a
PJ, um papel fundamental na angariação das vítimas nas ruas de Setúbal,
apurou o DN com fonte da PJ.
A
investigação recolheu contra ela fortes indícios da prática dos crimes
de sequestro, escravidão e tráfico de pessoas. Em julho, na primeira
fase da operação, a PJ libertou as quatro vítimas que se encontravam
presas num atrelado na Lourinhã. A Polícia Judiciária recorreu ao Apoio
às Vítimas do Tráfico de Seres humanos para encontrar lares para estes
homens.
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