O julgamento de Dilma está apenas começando
"Enganam-se os impostores que tomaram de assalto o poder acerca do término do julgamento da presidenta legítima Dilma Rousseff nestes dias", diz o professor Robson Sávio Reis Souza, da PUC-MG; segundo ele, "a narrativa do golpe já está consolidada no exterior" e o Brasil sai desmoralizado do episódio; "Há que se começar uma nova construção. Em nome da verdade, da memória e da justiça é preciso derrubar, de uma vez por todas, as estruturas da casa grande para se construir, de fato, uma nação onde imperará, com longevidade, a justiça e a igualdade, expurgando os vampiros sanguessugas da Nação"Robson Sávio Reis Souza
Doutor em Ciências Sociais e professor da PUC Minas.
O julgamento de Dilma está apenas começando
Enganam-se
os impostores que tomaram de assalto o poder acerca do término do
julgamento da presidenta legítima Dilma Rousseff nestes dias. A farsa do
jogo jogado - que se arrasta desde aquele momento patético no qual uma
facção criminosa de corruptos admitiu o início do processo na Câmara
Federal -, não terá seu ponto final com o veredicto de um Senado que,
com um perfil similar ao da Câmara, é composto, majoritariamente, por
políticos da pior qualidade. Uma charge, atribuída ao The New York Times desta semana (que ilustra este post), retrata bem o julgamento político em curso. Num patíbulo, Dilma é cercada (e julgada) por um bando de ratos escrotos.
A narrativa do golpe já está
consolidada no exterior. Inúmeras evidências (a principal delas, a
ausência retumbante dos líderes mundiais nos eventos olímpicos) dão
conta que a comunidade internacional não engole goela abaixo a história
contada a fórceps pelos pseudovencedores do golpe: o parlamento,
majoritariamente formado por ratazanas e líderes partidários perversos;
a mídia manipuladora, com suas emissoras platinas, revistas e jornais
que transformaram jornalismo em espetáculo inquisitorial a serviço dos
impostores; os empresários e banqueiros antinacionais, subservientes do
capital global; segmentos judiciários e policiais capangas da casa
grande e outros grupos da classe média que não abrem mão de privilégios e
cuja ação política na sociedade é baseada, quase que exclusivamente,
na propagação do ódio, da violência e da vingança.
Acontece que a história não perdoa
traidores, covardes e mamulengos. Por isso, é justamente de agora em
diante que todos contarão a história do bando que violentou a democracia
deste país.
Ao derrubar sordidamente uma
presidenta eleita, a coalizão golpista jogou no lixo a democracia, a
Constituição e o estado de direito.
No futuro, próximo e distante,
essa história se iniciará assim: em agosto de 2016, um senado formado
por inúmeros corruptos, denunciados por falcatruas das mais escandalosas
e presidido por um ministro do Supremo – que assistiu impávido a
violação da Constituição -, impediu uma presidenta legítima do exercício
do poder sufragado pelas urnas. Sem crime de responsabilidade, como
determina a Constituição, o julgamento realizado por juízes corrompidos e
sem moral alçou ao comando do país um governo ilegítimo, corrupto e sem
voto. Aliado com os perdedores das eleições - movidos pela vingança e
que sequer respeitam as regras procedimentais da democracia -, e sem
nenhum vínculo efetivo com o povo, a Constituição e o estado de direito,
o desgoverno criado artificial e oportunisticamente foi a prova cabal a
confirmar que um golpe arruinou a frágil democracia brasileira.
Portanto, os atores e as coalizões que ardilosamente tramaram o golpe serão nomeados e registrados nos anais da história.
Mas, o ostracismo e a repugnância
não serão castigos suficientes para punir os golpistas que,
historicamente, sempre se articularam nesse país para pilharem o
patrimônio público e impedir o avanço dos direitos do povo. 1954 e 1964,
logo ali, mostram que os golpistas não têm pudor, nem temor. E fiam-se
na impunidade perpetua.
A principal lição que devemos
tirar deste episódio é que a impunidade em relação aos traidores e
usurpadores, de ontem e de hoje, é o ingrediente a alimentar os golpes.
Assim, caberá a todos aqueles e
aquelas que já se articulam na resistência democrática tratar de
construir estratégias para o enfrentamento daquilo que até hoje o país
não fez: um acerto de contas com o passado e com o presente; com os
atores que sempre querem impor uma sociedade de perfil escravista,
patrimonialista, machista, coronelista, elitista e violenta.
Há que se começar uma nova
construção. Em nome da verdade, da memória e da justiça é preciso
derrubar, de uma vez por todas, as estruturas da casa grande para se
construir, de fato, uma nação onde imperará, com longevidade, a justiça e
a igualdade, expurgando os vampiros sanguessugas da Nação. Chega de
conciliação e de paz dos túmulos.
copiado http://www.brasil247.com/pt/
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