Venceu a impunidade: investigação das propinas em Santos envolvendo Temer foi arquivada.

Venceu a impunidade: investigação das propinas em Santos envolvendo Temer foi arquivada.

Marcelo Auler

A lerdeza dasinstituições em apurar crimes supostamente cometidos entre 1995 e 1998 e denunciados em 2000, beneficiou Michel YTermer e Marcelo de Azeredo. A impunidade foi garantida, mais uma vez. Fotos: reproduções
A lerdeza das instituições em apurar crimes supostamente cometidos entre 1995 e 1998 e denunciados em 2000, beneficiou Michel Temer e Marcelo de Azeredo. A impunidade foi garantida, mais uma vez. Fotos: reproduções
Reproduzo aqui a mais recente matéria do trabalho conjunto que fiz com o Diário do Centro do Mundo. Ela mostra como se cria a impunidade para políticos que não são do PT. Investigações sobre as denúncias contra Michel Temer, feitas em 2000, ficaram rolando de um lado para outro até prescreverem. Com isto, ao analisar o caso neste mês de agosto, a procuradora da República Karan Louise Jeanette Kahn  não teve alternativa a não ser propor o arquivamento de tudo. Temer e seu afilhado político, Marcelo de Azeredo, que foi presidente da Companhia de Docas do Estado de São Paulo – CODESP –  por indicação do então presidente da Câmara dos Deputados, ficarão impunes criminalmente.
No trabalho em conjunto com o DCM, conseguimos acessar um antigo inquérito policial no qual o acusado Azeredo prestou depoimento. Negou as denúncias que a  sua ex-companheira, Erika Santos, fez na Vara de Família.
Neste inquérito, na Delegacia de Prevenção e Repressão a Crimes Fazendários (DELEFAZ) da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo (SR/DPF/SP) foram ouvidos os principais personagens pelo delegado federal Ricardo Atila Barbosa. Além de Azeredo, prestaram depoimento  seu pai Ronaldo Pinto de Azeredo, sua irmã Carla de Azeredo (todos em agosto de 2004) e Érika (outubro do mesmo ano). Michel Temer, como noticiamos em A PGR omitiu-se na denúncia da caixinha do Porto de Santos para Michel Temer, foi convidado a prestar depoimento como testemunha em um inquérito em Santos, mas jamais respondeu ao convite.
No depoimento de Marcelo Azeredo as informações sobre o relacionamento dele com Erika, divergem.....
No depoimento de Marcelo Azeredo as informações sobre o relacionamento dele com Erika, divergem…..
Nos depoimentos há diversas contradições, mas não houve acareações para dirimi-las.  Inclusive, as mais simples, como se poderá ver no que falaram Azeredo e Erika a respeito do tempo em que permaneceram juntos e moraram debaixo do mesmo teto. Ele falou em uma relação de apenas um ano e meio, durante a qual moraram juntos nos últimos dois meses.
Já na versão dela, a relação durou de 1997n a julho de 2000, tendo se mudado para o apartamento dele em meados de 1999.
Ele fala que não lhe  deu dinheiro. Ela apresentou inclusive extratos do cartão de crédito que tinha como dependente dele e na ação na Vara de Família, falou em uma mesada de R$ 5 mil mensais. Por isso, pediu R$ 10 mil de “pensão”, para manter o mesmo padrão de vida.
Mas, em algo, eles pareceram “acertados”. Justamente ao desmentirem a ocorrência de caixinha e propina na CODESP que ela mesmo alegou terem beneficiado o próprio Azeredo e seu padrinho político, Temer.
Azeredo, como era de se esperar, negou “peremptoriamente o recebimento de qualquer quantia por parte de quaisquer empresas privadas, conforme informado por Érika”. Disse ainda ter sido indicado para o cargo após ser sabatinado pelo então ministro dos transportes de Fernando Henrique Cardoso, Odacir Klein (PMDB-RS). Mas não especificou quem o indicou ao ministro para o cargo.
... das informações que Érika deu na polícia. Tanto no tempo de relacionamento, como no período que estiveram debaixo do mesmo teto.
… das informações que Érika deu na polícia. Tanto no tempo de relacionamento, como no período que estiveram debaixo do mesmo teto.
Sobre Temer,  admitiu apenas que mantinha uma relação meramente partidária, por ser filiado ao PMDB e ter, inclusive, concorrido a deputado estadual em 1994. Mas, como já expusemos na reportagem acima citada, ao assumir o cargo deixou claro para os diretores que estava ali graças ao então presidente da Câmara dos Deputados. Na época, foi claro: se espalhassem isto, ele desmentiria.
Érika também tentou negar que partisse dela as denúncias das propinas que teriam beneficiado o ex-marido e o então deputado Temer. Disse ter recebido documentos anonimamente e encaminhados aos seus dois advogados, Martinico Izidoro Livovschi e seu filho Sérgio, Segundo ela, só ao ler a ação no fórum, foi que ficou sabendo “dos fatos supostamente delituosos imputados a Marcelo”. Negou ainda ter autorizado os advogados a “fazerem essas denúncias contra seu ex-companheiro”.
Ela, porém, foi desmentida pelos advogados Livovschi, pois os dois garantiram que a minuta da inicial da ação lhe foi apresentada e ela, em um fax, fez modificações e acréscimos. Pai e filho, em depoimentos separados, fizeram o delegado registrar que “as denúncias ali constantes foram feitas obedecendo a uma exigência de Érika que acreditava que as mesmas poderiam pressionar Marcelo a realizar um acordo rapidamente”.
Erika Santos, após separar-se de Marcelo Azeredo, conseguiu manter seu estilo de vida. Foto: reprodução de suas páginas nas redes sociais.
Erika Santos, após separar-se de Marcelo Azeredo, conseguiu manter seu estilo de vida. Foto: reprodução de suas páginas nas redes sociais.
Quem se debruça sobre esta história conclui facilmente que a denúncia existiu o que não significa que o crime ocorreu, muito embora as probabilidades sejam grande.
Afinal, a própria Erika admitiu que “o alto padrão de vida” do ex-companheiro “lhe chamasse a atenção. Sempre viajavam em primeira classe, hospedando-se em hotéis cinco estrelas, frequentando restaurantes caros”.
Ou seja, alegou não ter feito a denúncia, mas tinha consciência de que ele vivia um estilo de vida acima do que seria possível com seu rendimento legais. As receitas acima do salário e sem explicações, foram confirmadas pela Receita Federal, como mostramos na matéria Autuação da Receita confirma denúncias das propinas em Santos. Temer foi poupado.
Muito provavelmente ela foi pressionada a desmentir o que denunciou e pode sim ter feito um acordo extrajudicial com o ex-marido, apesar de todos os advogados que a atenderam desconhecerem isto.
Conseguiu, batalhando muito – como mostramos em Erika Santos, a ex-estudante que denunciou Temer, e seus mistérios a serem desvendados -, sobreviver em um bom estilo de vida. Mas ficou em falta com  sociedade ao recuar nas denúncias que fez. Aliás, o fato dela não ter sido molestada oficialmente pelo ex-marido é mais uma forte suspeita de que o que ela disse era verdade. Faltou vontade política de quem de direito para apurar e punir os possíveis crimes. Assim, prevalece a impunidade.
Abaixo a abertura da matéria no DCM onde é possível acessar aos depoimentos na polícia na íntegra. Leia mais

Venceu a impunidade: investigação das propinas em Santos envolvendo Temer foi arquivada.

Marcelo Auler

A lerdeza dasinstituições em apurar crimes supostamente cometidos entre 1995 e 1998 e denunciados em 2000, beneficiou Michel YTermer e Marcelo de Azeredo. A impunidade foi garantida, mais uma vez. Fotos: reproduções
A lerdeza das instituições em apurar crimes supostamente cometidos entre 1995 e 1998 e denunciados em 2000, beneficiou Michel Temer e Marcelo de Azeredo. A impunidade foi garantida, mais uma vez. Fotos: reproduções
Reproduzo aqui a mais recente matéria do trabalho conjunto que fiz com o Diário do Centro do Mundo. Ela mostra como se cria a impunidade para políticos que não são do PT. Investigações sobre as denúncias contra Michel Temer, feitas em 2000, ficaram rolando de um lado para outro até prescreverem. Com isto, ao analisar o caso neste mês de agosto, a procuradora da República Karan Louise Jeanette Kahn  não teve alternativa a não ser propor o arquivamento de tudo. Temer e seu afilhado político, Marcelo de Azeredo, que foi presidente da Companhia de Docas do Estado de São Paulo – CODESP –  por indicação do então presidente da Câmara dos Deputados, ficarão impunes criminalmente.
No trabalho em conjunto com o DCM, conseguimos acessar um antigo inquérito policial no qual o acusado Azeredo prestou depoimento. Negou as denúncias que a  sua ex-companheira, Erika Santos, fez na Vara de Família.
Neste inquérito, na Delegacia de Prevenção e Repressão a Crimes Fazendários (DELEFAZ) da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo (SR/DPF/SP) foram ouvidos os principais personagens pelo delegado federal Ricardo Atila Barbosa. Além de Azeredo, prestaram depoimento  seu pai Ronaldo Pinto de Azeredo, sua irmã Carla de Azeredo (todos em agosto de 2004) e Érika (outubro do mesmo ano). Michel Temer, como noticiamos em A PGR omitiu-se na denúncia da caixinha do Porto de Santos para Michel Temer, foi convidado a prestar depoimento como testemunha em um inquérito em Santos, mas jamais respondeu ao convite.
No depoimento de Marcelo Azeredo as informações sobre o relacionamento dele com Erika, divergem.....
No depoimento de Marcelo Azeredo as informações sobre o relacionamento dele com Erika, divergem…..
Nos depoimentos há diversas contradições, mas não houve acareações para dirimi-las.  Inclusive, as mais simples, como se poderá ver no que falaram Azeredo e Erika a respeito do tempo em que permaneceram juntos e moraram debaixo do mesmo teto. Ele falou em uma relação de apenas um ano e meio, durante a qual moraram juntos nos últimos dois meses.
Já na versão dela, a relação durou de 1997n a julho de 2000, tendo se mudado para o apartamento dele em meados de 1999.
Ele fala que não lhe  deu dinheiro. Ela apresentou inclusive extratos do cartão de crédito que tinha como dependente dele e na ação na Vara de Família, falou em uma mesada de R$ 5 mil mensais. Por isso, pediu R$ 10 mil de “pensão”, para manter o mesmo padrão de vida.
Mas, em algo, eles pareceram “acertados”. Justamente ao desmentirem a ocorrência de caixinha e propina na CODESP que ela mesmo alegou terem beneficiado o próprio Azeredo e seu padrinho político, Temer.
Azeredo, como era de se esperar, negou “peremptoriamente o recebimento de qualquer quantia por parte de quaisquer empresas privadas, conforme informado por Érika”. Disse ainda ter sido indicado para o cargo após ser sabatinado pelo então ministro dos transportes de Fernando Henrique Cardoso, Odacir Klein (PMDB-RS). Mas não especificou quem o indicou ao ministro para o cargo.
... das informações que Érika deu na polícia. Tanto no tempo de relacionamento, como no período que estiveram debaixo do mesmo teto.
… das informações que Érika deu na polícia. Tanto no tempo de relacionamento, como no período que estiveram debaixo do mesmo teto.
Sobre Temer,  admitiu apenas que mantinha uma relação meramente partidária, por ser filiado ao PMDB e ter, inclusive, concorrido a deputado estadual em 1994. Mas, como já expusemos na reportagem acima citada, ao assumir o cargo deixou claro para os diretores que estava ali graças ao então presidente da Câmara dos Deputados. Na época, foi claro: se espalhassem isto, ele desmentiria.
Érika também tentou negar que partisse dela as denúncias das propinas que teriam beneficiado o ex-marido e o então deputado Temer. Disse ter recebido documentos anonimamente e encaminhados aos seus dois advogados, Martinico Izidoro Livovschi e seu filho Sérgio, Segundo ela, só ao ler a ação no fórum, foi que ficou sabendo “dos fatos supostamente delituosos imputados a Marcelo”. Negou ainda ter autorizado os advogados a “fazerem essas denúncias contra seu ex-companheiro”.
Ela, porém, foi desmentida pelos advogados Livovschi, pois os dois garantiram que a minuta da inicial da ação lhe foi apresentada e ela, em um fax, fez modificações e acréscimos. Pai e filho, em depoimentos separados, fizeram o delegado registrar que “as denúncias ali constantes foram feitas obedecendo a uma exigência de Érika que acreditava que as mesmas poderiam pressionar Marcelo a realizar um acordo rapidamente”.
Erika Santos, após separar-se de Marcelo Azeredo, conseguiu manter seu estilo de vida. Foto: reprodução de suas páginas nas redes sociais.
Erika Santos, após separar-se de Marcelo Azeredo, conseguiu manter seu estilo de vida. Foto: reprodução de suas páginas nas redes sociais.
Quem se debruça sobre esta história conclui facilmente que a denúncia existiu o que não significa que o crime ocorreu, muito embora as probabilidades sejam grande.
Afinal, a própria Erika admitiu que “o alto padrão de vida” do ex-companheiro “lhe chamasse a atenção. Sempre viajavam em primeira classe, hospedando-se em hotéis cinco estrelas, frequentando restaurantes caros”.
Ou seja, alegou não ter feito a denúncia, mas tinha consciência de que ele vivia um estilo de vida acima do que seria possível com seu rendimento legais. As receitas acima do salário e sem explicações, foram confirmadas pela Receita Federal, como mostramos na matéria Autuação da Receita confirma denúncias das propinas em Santos. Temer foi poupado.
Muito provavelmente ela foi pressionada a desmentir o que denunciou e pode sim ter feito um acordo extrajudicial com o ex-marido, apesar de todos os advogados que a atenderam desconhecerem isto.
Conseguiu, batalhando muito – como mostramos em Erika Santos, a ex-estudante que denunciou Temer, e seus mistérios a serem desvendados -, sobreviver em um bom estilo de vida. Mas ficou em falta com  sociedade ao recuar nas denúncias que fez. Aliás, o fato dela não ter sido molestada oficialmente pelo ex-marido é mais uma forte suspeita de que o que ela disse era verdade. Faltou vontade política de quem de direito para apurar e punir os possíveis crimes. Assim, prevalece a impunidade.
Abaixo a abertura da matéria no DCM onde é possível acessar aos depoimentos na polícia na íntegra.

Venceu a impunidade: como o caso de Temer no Porto de Santos foi arquivado. Por Marcelo Auler

materiia DCM 22.08.16Venceu a impunidade. Como sempre. Em especial por não envolver nenhum petista no caso. A investigação criminal sobre as supostas propinas pagas, nos anos 90, a Marcelo de Azeredo, o ex-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP) e ao seu padrinho político, o então presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, vai para o arquivo. Eles venceram por WO.
Temer, por sinal, já se livrara de ser investigado por duas vezes. Em 2001, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, mandou arquivar as denúncias da ex-companheira de Azeredo, Érika Santos, que envolviam o então deputado federal. Dez anos depois, foi a vez de o procurador-geral Roberto Gurgel tomar atitude idêntica, quando a Polícia Federal pediu autorização para uma investigação mais invasiva.
Queriam fazer escutas telefônicas e quebras de sigilo bancário e fiscal. Pelo possível envolvimento do deputado, solicitaram autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF), Mas, a Procuradoria Geral da República (PGR) foi contra. Com isso, nem mesmo a variação patrimonial de Temer – que cresceu vertiginosamente quando ele abraçou a vida política – foi submetida a qualquer fiscalização.
Já no caso de Azeredo foram abertas duas investigações criminais. No Inquérito Policial 20.352/2004, da Delegacia de Prevenção e Repressão a Crimes Fazendários (DELEFAZ) da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal em São Paulo (SR/DPF/SP) investigava-se a lavagem de dinheiro.
Ao mesmo foi anexado o inquérito 104/2006, da Delegacia de Santos, que apurava os crimes de corrupção e fraudes nas licitações da CODESP. Ambos foram remetidos, por volta de 2008, ao Supremo. De lá só retornaram em 2011. Ao analisarem nestes primeiros dias de agosto todo o caso, a procuradora da República Karan Louise Jeanette Kahn e sua equipe constataram o óbvio: os possíveis crimes estão prescritos. Restaria apenas a lavagem de dinheiro, que pode ser considerado crime permanente. Mas,decorrido tanto tempo, não haveria como confirmá-la.
Não era para menos. Se a investigação já acumula 12 anos de idas e vindas entre a SR/DPF/SP, a Procuradoria da República em São Paulo (PR-SP) e a 2ª Vara Federal Criminal, a Procuradoria Geral da República (PGR) e o STF, o caso em si, isto é, os supostos crimes cometidos – corrupção, fraude em licitação e lavagem de dinheiro – são ainda mais antigos, Datam do período em que, indicado por Temer, Azeredo presidiu a CODESP: junho de 1995 e maio de 1998. A revelação deles, porém, só surgiu no ano 2000.


Venceu a impunidade: como o caso de Temer no Porto de Santos foi arquivado. Por Marcelo Auler

Postado em 22 Aug 2016
Ele
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Esta é a uma nova reportagem da série sobre o envolvimento de Michel Temer nos escândalos do Porto de Santos e do Aeroporto de Guarulhos. É resultado da nova campanha de crowdfunding do DCM, com a qual você pode contribuir aqui. 

Venceu a impunidade. Como sempre. Em especial por não envolver nenhum petista no caso. A investigação criminal sobre as supostas propinas pagas, nos anos 90, a Marcelo de Azeredo, o ex-presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP) e ao seu padrinho político, o então presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, vai para o arquivo. Eles venceram por WO.
Temer, por sinal, já se livrara de ser investigado por duas vezes. Em 2001, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, mandou arquivar as denúncias da ex-companheira de Azeredo, Érika Santos, que envolviam o então deputado federal. Dez anos depois, foi a vez de o procurador-geral Roberto Gurgel tomar atitude idêntica, quando a Polícia Federal pediu autorização para uma investigação mais invasiva.
Queriam fazer escutas telefônicas e quebras de sigilo bancário e fiscal. Pelo possível envolvimento do deputado, solicitaram autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF), Mas, a Procuradoria Geral da República (PGR) foi contra. Com isso, nem mesmo a variação patrimonial de Temer – que cresceu vertiginosamente quando ele abraçou a vida política – foi submetida a qualquer fiscalização.
Já no caso de Azeredo foram abertas duas investigações criminais. No Inquérito Policial 20.352/2004, da Delegacia de Prevenção e Repressão a Crimes Fazendários (DELEFAZ) da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal em São Paulo (SR/DPF/SP) investigava-se a lavagem de dinheiro.
Ao mesmo foi anexado o inquérito 104/2006, da Delegacia de Santos, que apurava os crimes de corrupção e fraudes nas licitações da CODESP. Ambos foram remetidos, por volta de 2008, ao Supremo. De lá só retornaram em 2011. Ao analisarem nestes primeiros dias de agosto todo o caso, a procuradora da República Karan Louise Jeanette Kahn e sua equipe constataram o óbvio: os possíveis crimes estão prescritos. Restaria apenas a lavagem de dinheiro, que pode ser considerado crime permanente. Mas,decorrido tanto tempo, não haveria como confirmá-la.
Não era para menos. Se a investigação já acumula 12 anos de idas e vindas entre a SR/DPF/SP, a Procuradoria da República em São Paulo (PR-SP) e a 2ª Vara Federal Criminal, a Procuradoria Geral da República (PGR) e o STF, o caso em si, isto é, os supostos crimes cometidos – corrupção, fraude em licitação e lavagem de dinheiro – são ainda mais antigos, Datam do período em que, indicado por Temer, Azeredo presidiu a CODESP: junho de 1995 e maio de 1998. A revelação deles, porém, só surgiu no ano 2000.
A paralisação da investigação teve início em Santos. Em 2007, ao assumir o caso instaurado um anos antes, o delegado Cássio Nogueira notou que pouco tinha sido feito. Depois, ela se repetiu no STF, como os assessores do ministro Marco Aurélio admitiram. Eles reconheceram que “a demora na adoção do procedimento padrão (encaminhar a Procuradoria da República) deve-se tão somente ao fato de os autos terem permanecido entre outros processos e procedimentos criminais que dependiam de marcação e análise das peças processuais para encaminhamento à residência de Vossa Excelência. Em razão do equívoco, apresento essas informações”. Encaminhado ao Supremo por volta de 2008, o inquérito só foi despachado de volta a São Paulo em meados de 2011.
Paralelamente, na 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, outra ação analisava a sonegação fiscal tanto de Azeredo como de sua irmã, Carla. Como o DCM mostrou na reportagem Afilhado de Temer no Porto de Santos foi pego pela Receita; PGR poupou padrinho, os dois foram autuados em aproximadamente R$ 1 milhão, recolheram os impostos e multas cobrados pela Receita Federal e com isso livraram-se do processo judicial, tal como prevê a legislação.
As acusações contra Azeredo, Temer e Lima, um suposto sócio do então deputado e hoje interino, surgiram na Ação de Reconhecimento e Dissolução de União Estável movida pela então estudante de psicologia, Érika Santos. Foi logo após ela separar-se de Azeredo por ele a agredir três vezes.
Nessa ação, ajuizada na 3ª Vara de Família de São Paulo, foram juntados documentos que, segundo disse aos advogados Martinico Izidoro Livovschi e seu filho Sérgio, retirou do computador do próprio Azeredo. São centenas de papéis sobre os quais foi decretado segredo de Justiça, por conterem dados fiscais e bancários do ex-presidente da CODESP e da empresa em si.
Erika Santos, que denunciou a caixinha no Porto de Santos em 2 000
Erika Santos, que denunciou a caixinha no Porto de Santos em 2 000

O segredo de justiça, porém, foi limitado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, aos dados fiscais e bancários. Com isso, DCM teve acesso, com exclusividade, aos depoimentos prestados ao delegado federal Ricardo Atila Barbosa, por Azeredo, seu pai Ronaldo, sua irmã Carla (todos em agosto de 2004) e Érika (outubro do mesmo ano).
Azeredo e Érika negaram as denúncias. Ela, após a revista Veja, em março de 2001, noticiar suas acusações na Vara de Família, tratou de destituir os advogados Livovschi e, através de um novo patrono, José Manuel Paredes, desistiu da ação. À época comentou-se que os ex-companheiros acertaram-se financeiramente, em um acordo extrajudicial.
No inquérito, os únicos a confirmarem que Érika realmente acusou Azeredo, Temer e Lima de se beneficiarem das propinas, foram os advogados Livovschi, Diante da contradição deles com a ex-cliente, o delegado chegou a questionar os três sobre uma possível acareação. Todos aceitaram, mas não existe registros de que ela tenha ocorrido. Perdeu-se nova oportunidade de esclarecer os fatos.
Mas as contradições não existiram apenas entre Érika e seus ex-advogados. Ela e Azeredo também conflitaram nas informações ao delegado. A começar pelo tempo de relacionamento e até o período em que dividiram o mesmo teto. Segundo ele, a relação durou um ano e meio. Ela declarou que se relacionaram entre 1997 e julho de 2000 quando, após sofrer uma terceira agressão, saiu de casa com a roupa do copo. Segundo Azeredo, teriam sido apenas dois meses residindo juntos. Já nas palavras dela, a convivência no apartamento dele, na Rua Brás Cardoso, na Vila Olímpia, foi maior: de meados de 1999 a julho de 2000.
Azeredo declarou “que não lhe repassou qualquer espécie de bem ou de pensão, até porque não lhe foi pedido”. Da ação proposta por ela na Vara de Família, teria sabido apenas pela imprensa;.
Érika não comentou nada sobre o possível acordo que os dois teriam feito. Mas ela confessa ter encaminhado aos advogados Livovschi “fotos, extratos de cartão de crédito, cópias dos cheques recebidos de Marcelo, passaporte, além de documentos comprovando a união estável e o padrão de vida do casal”. Tanto que na Vara de Família eles alegaram que Érika recebia uma “mesada de R$ 5 mil para os gastos e possuía um cartão de crédito dependente do companheiro”.
Obviamente, ao encaminhar tais documentos a um advogado para propor uma ação de reconhecimento da união estável e partilha de bens, é de se supor que ela pleitearia ajuda financeira. O que Azeredo declarou que não aconteceu. Na ação há o pedido de R$ 10 mil mensais. Na polícia, porém, o assunto não foi comentado, nem questionado.
Apesar do possível acordo que os ex-companheiros teriam feito, ela passou a trabalhar como balconista. Na polícia, informou ser vendedora na loja Vertigo, no Shopping Iguatemi. Acrescentou que atendia como psicóloga no Hospital das Clínicas.
O fundamental, porém, foram as contradições em torno da questão principal: as propinas no Porto de Santos que teriam sido repassadas a Temer. Azeredo negou “peremptoriamente o recebimento de qualquer quantia por parte de quaisquer empresas privadas, conforme informado por Érika”.
Ela, por seu lado, alegou desconhecer qualquer irregularidade cometida pelo ex-marido, o que descobriu apenas ao ver a ação na Vara de Família: “até tomar conhecimento das denúncias de crimes cometidos por Marcelo através da ação, que viu no fórum, não tinha conhecimento dos fatos supostamente delituosos imputados a Marcelo e não autorizou os advogados a fazerem essas denuncias contra seu ex-companheiro”.
Repetiu na polícia a explicação que Temer, em março de 2001, divulgou no discurso que fez na tribuna da Câmara, como noticiamos aqui na reportagem Temer ignorou pedidos da PF para se explicar no caso da propina no Porto de Santos.
Segundo disse, após se separar, “recebeu um envelope contendo diversos documentos a respeito de Marcelo de Azeredo que foram entregues em sua residência anonimamente. Não tomou conhecimento do teor dessa documentação, até porque era muito volumosa. Pretendia entrar com uma ação de reconhecimento da união estável tendo para tanto contratado os advogado Martinico Izidoro Livovschi e então encaminhou ao mesmo, além dos documentos recebidos anonimamente, as fotos, extratos de cartão de crédito, cópias dos cheques recebidos de Marcelo, passaporte”.
Ao reprisar que não tinha conhecimento de atividades ilícitas do ex-companheiro, ressaltou, porém, que “o alto padrão de vida do mesmo lhe chamasse a atenção. Sempre viajavam em primeira classe, hospedando-se em hotéis cinco estrelas, frequentando restaurantes caros”. Ou seja, desconhecia o possível crime, mas se beneficiava do resultado dele.
Marcelo de Azeredo, indicado por Temer à Codesp
Marcelo de Azeredo, indicado por Temer à Codesp
O desmentido de Érika partiu de seus dois ex-advogados. Pai e filho deixaram claro que ela nunca falou em documentos recebidos anonimamente, mas sim extraídos do computador do companheiro.
Segundo Martinico, todo o conteúdo da inicial da ação “foi narrado por Érika Santos”. Da mesma forma partiu dela “toda a documentação relativa à ação” Ele ainda explicou que “Érica enviou um fax em resposta à minuta, pedindo que fossem feitas algumas modificações”. Ele e o filho insistiram “as denúncias ali constantes foram feitas obedecendo a uma exigência de Érika que acreditava que as mesmas poderiam pressionar Marcelo a realizar um acordo rapidamente”.
Érika também mentiu na polícia ao dizer que desconhecia a existência de um carro Porsche e uma Mercedes. Os dois veículos foram citados por ela aos advogados para que fossem incluídos na ação na Vara de Família como bens que Marcelo adquiriu e colocou em nome de familiares. O Mercedes, como a Receita confirmou depois, estava em nome do pai dele. O Porsche, em nome da irmã Carla, que por não ter provado a origem do dinheiro para adquiri-lo, foi autuada e pagou multa superior a RF$ 100 mil.
Todos estes fatos mostram que Érika certamente foi pressionada após a divulgação de suas denúncias. Fica a dúvida se realmente houve um acerto financeiro. Mas, torna-se evidente que depois de tentar pressionar judicialmente Azeredo, ela recuou nas suas denúncias o fato é que ela fechou um acordo com o ex-marido e deixou de falar em Temer.
Azeredo, não chegou a negar em momento algum que tenha sido indicado pelo então presidente da Câmara para a presidência da CODESP. Disse, apenas, que a indicação ocorreu “após ser sabatinado pelo ministro dos Transportes, Odacir Klein”,
Provavelmente a sabatina pode ter ocorrido, embora haja quem diga que Azeredo nada entendia do funcionamento do porto. O que ele não deixou claro é como seu nome, ligado ao PMDB de São Paulo, foi parar na mesa de Klein, um político gaúcho. Certamente foi a indicação de Temer — com quem Azeredo admitiu apenas que mantinha uma relação meramente partidária, por ser filiado ao PMDB e ter, inclusive,concorrido a deputado estadual em 1994.
Afinal, na sua primeira reunião com a diretoria antiga da CODESP, ele deixou claro que estava ali graças ao então presidente da Câmara. “Mas se vocês falarem isto, eu nego”. Pelo jeito, continua negando até hoje.
COPIADO  www.diariodocentrodomundo.

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