Guaranis-Kaiowá, à margem da lei, da cidadania e da vida, abandonados na BR-463
Marcelo Auler
O blog dá início a um novo projeto de reportagens especiais*. Decidimos contar um pouco mais a história dos índios Guaranis-Kaiovás cujas aldeias ficam em Mato Grosso do Sul, entre os municípios de Dourados e Caarapó. Pelos dados oficiais, historicamente, desde 200e, ocorre uma média de um assassinato por ano de índios, por milícias contratadas por produtores rurais.
Para trazer este assunto ao blog, na forma de reportagens diversas, ao longo dos últimos dias, percorremos cerca de dois mil quilômetros de carro, não só no percurso Rio-São Paulo-Dourados, como na região onde chegamos no domingo (21/08). A revolta de dona de dona Damiana, abre esta série. Com 75 anos, há 26 é a cacique da comunidade Apyka’i. Estes indígenas, desde maio sobrevivem à margem da BR-463, local onde oito membros da tribo – seis deles crianças, três netos de dona Damiana – morrerem atropelados. Estão entregues à própria sorte: à margem da cidadania, da lei e da vida, como definiu um delegado de polícia federal.
“Você que veio de longe, me ajude para eu voltar para o nosso Tekora”
Aos 75 anos, dona Damiana, que se
auto-denomina “Kauñha Apyka’i”, na tradução de sua nora, Vaniele,
“mulher guerreira” é a líder, cacique ou capitã (no linguajar deles) de
uma pequena comunidade Guarani-Kaiowá, “Curral de Arame” (Tekoha
Jukeriy). Tinha, sob a sua liderança não mais do que 60 indígenas
distribuídos em 11 (onze) famílias, a maioria dos integrantes mulheres e
crianças.
Desde 2008, ela luta para conseguir
retornar ao seu Tekora (o espaço da tribo) onde cresceu e,
principalmente, enterrou seu pai, em um dos três cemitérios que a
comunidade mantinha, na terra que ocupava originalmente e hoje é uma
plantação de cana de açúcar da Fazenda Serrana, em Dourados (MS).
Nesse período de oito anos, os Guaranis-Kaiowás da Comunidade Apyka’i
por três vezes foram retirados das terras que ocupavam por decisões
judiciais ou mesmo uso da força, através de milícias, por iniciativa do
proprietário da fazenda, Cássio Guilherme Bonilha Tecchio. Ele arrenda
suas terras para o plantio de cana que abastece a Usina São Fernando
Açúcar e Álcool, do Grupo Bumlai, cujo principal sócio é José Carlos
Bumlai, amigo do ex-presidente Lula e envolvido no escândalo da Lava
Jato.Desde então, ela e alguns dos indígenas, voltaram para a beira da BR-463, que liga Dourados a Ponta Porã, na divisa com o Paraguai. O grupo já ocupou esta margem da estrada nas outras vezes em que foi expulso da terra que reivindicam desde 1999. Mas, somente nesta semana desembarcou em Dourados (MS) a equipe da Funai que e que a Funai somente esta semana começou a estudar a cadeia dominial do terreno para averiguar a procedência de se tratar de terra indígena.
Enquanto isso o grupo indígena está sem qualquer suporte. Ao longo deste período em que estiveram por diversas vezes na beira da estrada, nada menos do que oito pessoas, seis delas crianças – três netos de dona Damiana – morreram atropelados. Eles ocupam barracas montadas rudemente com plástico e dormem sobre o chão de barro, em um período que durante as madrugadas os termômetros marcar 4°. A comida que a Funai deveria doar,m segundo ela não tem chegado e os índios, inclusive as crianças, acabam vivendo de doações. Revoltada ela desabafou em uma gravação para o Blog: “Você que veio de longe, me ajude para eu voltar para o nosso Tekora”.
O vídeo, de minha autoria, não está perfeito, pois não tivemos tempo para editá-lo.
VÍDEO AQUI Guaranis-Kaiowá, à margem da lei, da cidadania e da vida, abandonados na BR-463
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COPIADO http://www.marceloauler.com.br/
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