Miguel Macedo e todos os outros arguidos nos Vistos Gold vão a julgamento
Diretor do SEF facilitou amigos do ministro para salvar cargo e Serviço
A procuradora-geral, Joana Marques Vidal, atenta ao cumprimento de Miguel Macedo a Manuel Palos, na tomada de posse deste último
| Sarah Costa
A IGAI diz que Manuel Palos foi um diretor "brilhante" do SEF, mas violou deveres profissionais para agradar a Miguel Macedo O
ex-diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) - detido há
dois anos na operação "Labirinto", que investigou a concessão dos vistos
gold - terá facilitado e acelerado processos a amigos do então
ministro, Miguel Macedo, apenas para agradar ao governante e travar a
extinção do SEF. A conclusão é da Inspeção-Geral da Administração
Interna (IGAI) que elogia a dedicação de Manuel Palos àquela polícia,
mas entendeu que, com a sua conduta, violou vários deveres profissionais
e propôs a sua suspensão por 150 dias.
O ex-diretor do SEF foi o
primeiro chefe de uma polícia a ser detido em Portugal, numa
investigação conduzida pelo Departamento Central de Investigação e Ação
Penal (DCIAP). Manuel Palos é um de 17 arguidos acusados, entre os quais
estão outras figuras de topo do Estado, como o ex-ministro da
Administração Interna, que se demitiu por causa deste caso, e os seus
"amigos", António Figueiredo, ex-diretor do Instituto de Registos e
Notariado, e o empresário Jaime Gomes.
Este relatório da IGAI é um
primeiro ensaio para o julgamento que está marcado para janeiro do
próximo ano. Aliás, os inspetores sustentaram grande parte das suas
avaliações na informação que estava no inquérito-crime, facto esse que
foi contestado pela defesa. Para a IGAI, a prova recolhida que sustenta a
violação dos deveres de "prossecução do interesse público", de
"imparcialidade", "de zelo" e de "lealdade" é "cristalina", uma
expressão que o Ministério Público (MP) também usou na acusação contra
Miguel Macedo. O MP acusou Palos de corrupção passiva e prevaricação.
A
investigação da IGAI garante que "jamais" Manuel Palos "recebeu
qualquer quantia monetária", nem ficou para si com as duas garrafas de
vinho Pera Manca, referidas pelo MP, como retribuição dos alegados
favores.
A IGAI justifica a conduta de Manuel Palos com a sua
dedicação ao serviço e receio deste ser extinto, tendo em conta
intervenções de Miguel Macedo que deixaram implícito esse cenário. "O
arguido era pessoa extremamente preocupada com o Serviço que dirigia e
com as suas funções, tendo desempenhado de forma brilhante o cargo de
Diretor Nacional", salienta a IGAI. "A mera possibilidade da extinção do
SEF era para o arguido, neste quadro afetivo-funcional, uma
preocupação" pois "podia ser extinto o serviço em que pusera todo o seu
empenho pessoal e profissional e em prol do qual prejudicara a sua vida
pessoal e familiar", é assinalado. Conclui que "a necessidade do arguido
manter esse cargo tinha como fonte a preocupação com a eventual
extinção do SEF".
Defesa contesta
Na
contestação que faz ao processo da IGAI, a defesa de Manuel Palos
demonstra que os "amigos" de Macedo não tiveram um tratamento no SEF
diferente de outros requerentes de vistos gold. Analisados os 98
processos visados no inquérito, é registado que "apenas" 36 foram
despachados por Palos. Entre esses, dos oito considerados tratados com
"celeridade anormal", só quatro foram assinados pelo ex-diretor. Os
outros quatro foram despachados pelo seu adjunto e foram ainda mais
rápidos. Ainda assim, Manuel Palos sustenta, através de uma comparação
com os prazos médios praticados no SEF, que os processos chegados
através de António Figueiredo, não fugiram à regra dos restantes.
Estas
explicações foram tidas em conta pela secretária de Estado da
Administração Interna, Isabel O"Neto, que suspendeu a sanção. Palos está
proibido de exercer funções no SEF e está atualmente colocado na
Autoridade de Segurança Rodoviária, a processar multas.
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