Disciplinas não seriam obrigatórias Entidades defendem arte e esporte no ensino médio Educadores prometem pressionar para mudança em projeto do governo
A decisão do governo federal de retirar a obrigatoriedade das disciplinas de educação física e artes do ensino médio revoltou especialistas e entidades de classe, que prometem fazer pressão contra as mudanças.É o caso do Confef (Conselho Federal de Educação Física), que promete ir ao Congresso e aos ministérios da Educação, Esporte e Saúde para derrubar a proposta.
"Acabamos de sair de uma década de eventos esportivos, onde ficou comprovada a importância da prática de esportes, e propõem uma medida provisória na contramão disso?", questiona o presidente da entidade, Jorge Steinhilber.
Reforma do ensino médio |
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Presidente do Conselho Regional de Educação Física de SP, Nelson Lima Junior cita o artigo 36 da MP pelo qual "os currículos devem considerar a formação integral do aluno". "É um contrassenso."
"Quando a gente pensa na educação física, de imediato pensamos na saúde. Mas tem a formação cultural que o esporte traz: as interações sociais, o respeito à diversidade, o aprendizado de como negociar conflitos", diz o professor da UnB Alexandre Luiz Rezende, doutor em educação física e mestre em educação.
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
A medida provisória só cita a obrigatoriedade de educação física e artes no ensino infantil e no fundamental. O governo Temer alega que as disciplinas devem fazer parte da base nacional curricular, ainda em discussão e cujos conteúdos serão obrigatórios.
"O ensino de arte permite um olhar expandido para as coisas. Com a mudança, tira a possibilidade de sensação, os alunos vão se tornar anestesiados", diz a professora da Unesp Kathya Godoy, doutora em educação artística e graduada em educação física.
"Como o jovem, inserido em um contexto que lida com a imagem o tempo inteiro nas redes, vai ter um olhar diferente e não ser um mero consumidor da cultura?", diz Mirian Celeste, professora de Educação, Arte e História da Cultura no Mackenzie.
Ela afirma que a arte tem um caráter interdisciplinar e deveria estar no centro do ensino médio. "Talvez os políticos e gestores não entendam qual é o campo da arte, achem que é o campo da técnica, do desenhar bem. Estamos falando de dimensão maior, do pensamento estético e do entendimento de mundo."
REFORMAS NO ENSINO MÉDIO
Principais mudanças propostas pela medida provisória do governo Temer
COMO É HOJE | O QUE O PLANO PROPÕE | VANTAGENS | ENTRAVES |
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Carga horária mínima é de 800 horas anuais (ensino parcial) | Grade será ampliada gradualmente para 1.400 horas anuais (ensino integral) | Há evidências de que a carga expandida melhora o desempenho dos alunos | Modalidade integral requer um bom projeto pedagógico e gastos maiores |
Alunos cursam 13 disciplinas obrigatórias nos três anos | Só parte da grade será igual para todos; depois, aluno poderá se aprofundar entre cinco opções: linguagens, matemática, ciências da natureza, humanas e ensino técnico | Flexibilizar a grade dá autonomia e atrai os adolescentes | Oferta de habilitações pode ser desigual entre escolas e redes |
Ensino médio é dividido, em geral, em três anos | Escolas poderão adotar sistema de créditos em algumas disciplinas | Medida também dá mais liberdade ao estudante | Mudança depende de uma organização complexa das redes |
Professores têm que ser formados na área e passar por concurso | Poderão ser contratados professores sem concurso e apenas com notório saber | Ação ajuda a suprir demanda de professores na ampliação do ensino técnico | Qualidade dos profissionais e do ensino pode diminuir |
Educação física e artes eram obrigatórias no ensino infantil e em todo o básico | Disciplinas deixam de ser obrigatórias no ensino médio | Mudança diminui o número de disciplinas obrigatórias | Prejudica a formação cultural e a saúde dos estudantes |
Governo federal tinha programas menores de incentivo ao ensino integral | União dará aporte financeiro por quatro anos a escola que introduzir ensino integral | Investimento incentiva instituições a aderirem à modalidade | Governo diz que valor respeitará disponibilidade orçamentária, mas vive momento de cortes |
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