Cambridge Analytica será investigada; Zuckerberg é convocado para depor

Cambridge Analytica será investigada; Zuckerberg é convocado para depor

PRU/AFP/Arquivos / HOAlexander Nix, chefe da Cambridge Analytica, em 27 de fevereiro de 2018
A Comissão de Informação britânica pediu nesta terça-feira (20) uma ordem judicial para realizar uma operação de busca e apreensão na Cambridge Analytica (CA), empresa acusada de obter ilegalmente dados pessoais no Facebook, cujo fundador Mark Zuckerberg foi convocado para depor ante uma comissão parlamentar.
"Buscamos uma ordem judicial para que, como órgão regulador, possamos entrar e inspecionar os servidores, fazer uma auditoria de dados, e o fato de o Facebook estar lá nos preocupava", declarou à BBC a presidente da Comissão de Informação (ICO) britânica, Elizabeth Denham.
A comissária Denham também pediu que o Facebook interrompa imediatamente sua própria auditoria da Cambridge Analytica - que trabalhou para a campanha eleitoral do presidente americano, Donald Trump - para não atrapalhar o trabalho das autoridades.
O ICO quer saber "se houve, ou não, o consentimento" dos usuários do Facebook "para compartilhar seus dados".
Neste contexto, uma comissão parlamentar britânica solicitou o comparecimento do fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckeberg, considerando que as explicações oficiais apresentadas até agora "subestimaram o risco" da aquisição de dados pessoais dos usuários sem seu consentimento.
"Chegou o momento de escutar um alto executivo do Facebook com autoridade suficiente para explicar este grande fracasso", disse Damien Collins, o deputado que preside o comitê, na convocatória dirigida a Zuckerberg.
"O comitê perguntou insistentemente ao Facebook como as empresas adquirem e retêm informação dos usuários e, em particular, se pegam seus dados sem seu consentimento", explicou Collins.
Pouco depois, foi a vez da União Europeia pedir explicações. O tema está na agenda de uma reunião dos responsáveis pela proteção dos dados em Bruxelas, informou a Comissão Europeia, que irá pedir "esclarecimentos" ao Facebook.
"Convidamos Mark Zuckerberg ao Parlamento Europeu. O Facebook precisa esclarecer aos representantes dos 500 milhões de europeus o fato de que seus dados pessoais foram usados para manipular a democracia", escreveu no Twitter o presidente do Parlamento, Europeu, Antonio Tajani.
Segundo a investigação realizada pelos jornais "The New York Times" e "The Observer" (a edição dominical do jornal britânico "The Guardian"), a Cambridge Analytica usou dados de milhões de usuários de Facebook, sem seu consentimento, com os quais teria criado um programa destinado a prever e influenciar o voto dos eleitores.
O Facebook suspendeu a CA na semana passada, após saber que a empresa não havia destruído os dados de milhões de usuários.
Na segunda-feira à noite, a Cambridge Analytica "negou firmemente" ter coletado sem consentimento os dados de 50 milhões de usuários para fins eleitorais.
- Prostitutas e subornos contra candidatos -
AFP/Arquivos / Emmanuel DUNANDAs ações do Facebook despencaram em razão do caso polêmico
O interesse nas atividades de Cambridge Analytica foi redobrado após a transmissão no domingo de uma reportagem do Channel 4, na qual os diretores ofereciam a um jornalista que se fez passar por cliente potencial desacreditar seus rivais políticos envolvendo-os com prostitutas, ou subornos, por exemplo.
Os diretores explicavam igualmente algumas técnicas para manipular a opinião pública, como lançar calúnias contra os candidatos: "coisas que não precisam ser necessariamente verdade", disse o presidente da companhia, Alexander Nix, ao jornalista da Channel 4.
"Explorar a vida dos candidatos para encontrar casos sujos pode ser interessante", diz Niz, ressaltando ainda a eficácia de armadilhas: "enviar algumas garotas para a casa do candidato (...) Podemos atrair umas ucranianas de férias".
Questionado pelo "The Times", ALexander Nix negou ter tentado criar armadilhas para políticos.
"Eu não sabia no que estava me metendo e o cara começou a dizer: 'precisamos mudar a paisagem política, preciso pegar os políticos, como podemos fazer isso?' Então dei alguns exemplos e disse que poderia fazer isso, ou aquilo", explicou Axander Nix.
Ele defendeu a moralidade de sua empresa: "Trabalhamos apenas para os partidos políticos tradicionais em eleições livres e justas, em democracias livres e justas e estamos orgulhosos do trabalho que fazemos".
Nix também indicou que estudaria sua partida, caso seja solicitada pelo conselho administrativo da companhia.
Em um comunicado, a CA afirmou que a reportagem foi "editada para distorcer grosseiramente a natureza dessas conversas e a forma como a empresa conduz seus negócios".
Na segunda-feira, Downing Street considerou "muito preocupante" as primeiras acusações reveladas pelos jornais "The New York Times" e "The Observer" e pelo canal britânico Channel 4 News.
A CA é filial da companhia de marketing britânica Strategic Communication Laboratories (SCL), com escritórios em Nova York, Washington e Londres.
No Reino Unido, a imprensa questiona o papel da empresa no referendo de saída do país da União Europeia em 2016. Em nota, a CA nega "ter trabalhado no referendo sobre o Brexit no Reino Unido".

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